Amor Sangrento
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Amor Sangrento
Outra história inventada por mim há alguns anos e ligeiramente modificada pra formar este conto (assim como Queimada viva, mas essa é mais comprida).
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Há muitos e muitos anos, conta-se a história de um homem muito rico, que possuía uma imensa mansão em algum lugar no interior da Inglaterra. Era comentada por ser cercada de belíssimos pomares e jardins, todos criados como presentes à esposa desse homem. Ela era uma mulher frágil, há muito sofrendo devido a uma doença desconhecida, que acabou por tirar-lhe a vida pouco depois de dar à luz a sua única filha.
A pequena, também extremamente frágil, manifestou a mesma doença logo nos primeiros anos de vida. E assim como com sua esposa, o homem desembolsou enormes quantidades de dinheiro na tentativa de curá-la, em vão. Os muitos médicos que a examinavam não encontravam qualquer solução para o problema. O máximo que podiam fazer era receitar remédios fortes, para tentar frear o desenvolvimento da doença e aliviar -mesmo que pouco- seus sintomas.
Todos esses gastos, somados aos de sustentar a mansão, os jardins, os pomares e os muitos criados, tornaram a situação extremamente difícil. O homem, amargurado e sem querer abrir mão de nada, afundou-se em trabalho e deixou sua filha sob os cuidados de enfermeiras e algumas criadas.
A menina cresceu e completou, a muito custo, quinze anos. Passara a maior parte da vida dentro de casa, apenas admirando as belas paisagens além das janelas e desejando vê-las de perto. O que muito raramente lhe era permitido, tamanho era o medo das enfermeiras de que sua doença piorasse e elas perdessem o emprego. Ela entendia isso, mas seu desejo de conhecer o mundo lá fora ainda era maior. Então, durante uma tarde qualquer, enquanto estava sozinha, ela saiu.
Andava depressa e ofegando, sentindo os deliciosos aromas de frutos e flores, a brisa em seus cabelos e observando aquele cenário. Ao caminhar pelo meio do roseiral, porém, deu de cara com um menino um pouco mais velho do que ela: O ajudante do jardineiro. Ele surpreendeu-se ao vê-la fora de casa -só a vira na janela algumas vezes- mas concordou em guardar segredo e em ajudá-la a conhecer aquele vasto mundo dos jardins.
E assim, sempre que partiam para deixá-la descansar sozinha, ela saía e encontrava-se com o garoto. Ele colhia frutos e dava a ela, ensinava sobre as plantas e árvores, ou simplesmente sentava-se para conversar. Ele a fazia tão feliz, era tão maravilhoso... Que, pouco a pouco, ele passou a ocupar um grande espaço em sua mente e seu coração.
Tudo teria continuado perfeito se um dia, ao tentar subir numa árvore com a ajuda dele, ela não caísse e acabasse por fraturar um braço e algumas costelas. O pai, completamente transtornado e agora ciente de tudo o que ocorria pelas suas costas, mandou expulsar o jardineiro -que consentira em deixá-la ficar lá fora com ele- e mandou um grupo de subordinados castigarem o garoto.
Eles o levaram até uma clareira numa floresta próxima e o espancaram, mas acabaram exagerando. Ao perceberem, aterrados, que o menino havia morrido, enterraram o corpo ali mesmo e voltaram. E algum tempo depois, foram forçados a confessar seu crime diante do patrão.
A filha, que acabou ouvindo alguns empregados comentarem o assunto, caiu em desespero. Lágrimas eram pouco para expressar sua dor. Dor que era centenas de vezes maior que a de seus ossos quebrados e as causadas pela doença. Agora, como poderia continuar? Como poderia continuar sustentando um corpo inútil e defeituoso, se em seu coração e mente tudo ruíra? Como poderia continuar vivendo, se ela só sentiu-se viva de fato nos momentos que passara com ele?
Foi então que ela se deu conta: Sua vida só havia começado no momento em que o conheceu. Antes disso, era como morta, um cadáver ambulante que se mantinha com remédios e terapias. Foi separada daquele que lhe dava vontade de seguir em frente. Estava morta novamente. Ou quase.
Numa madrugada de muita neve, enrolada em um cobertor, a menina saiu de dentro da mansão e seguiu em direção aos jardins. Tudo estava tão escuro e terrível... As árvores que ela tanto amava já não tinham mais frutos ou folhas. Não havia mais flores, cores, vida ou calor. Era um retrato perfeito de como ela estava por dentro naquele momento. Caminhou mais um pouco, e foi capaz de encontrar o ponto exato do roseiral onde o vira pela primeira vez. Sentou-se no chão, e ali ficou. Era só uma questão de tempo até que encontrassem seu corpo inerte, congelado e coberto de neve. E foi exatamente o que aconteceu.
A história trágica dos dois, porém, só tornou-se mais conhecida devido a um fato curioso: Na clareira onde o garoto foi morto, cresceu uma árvore extremamente peculiar. Seus frutos, compridos e ovalados, de tom alaranjado com vermelho escuro, têm casca dura como a de nozes, mas por dentro é amarelo e macio como pêssego. Há uma cavidade nesse miolo amarelo, preenchido de um caldo semelhante a sangue, o que acaba por assustar a todos os desavisados que tentam comer do fruto. Os poucos que comeram mesmo, tiveram o cuidado de lavar o “sangue” de dentro antes. Por esses motivos, a árvore ficou conhecida como “Amor Sangrento”, que cresce e aprofunda suas raízes ao redor do cadáver do garoto. A alma dele permanece sem descanso, preenchendo os frutos e alimentando a árvore com seu sangue, que flui sempre mais. E que mancha de negro a terra ao redor da árvore.
Quanto à garota, esta ainda vaga pelos jardins e pomares da mansão de seu já falecido pai. Chorando, desorientada, a procurar um caminho que a leve até seu amado. A correr, livre de suas limitações carnais, mas presa em seu próprio labirinto. Dizem que ambos só poderão descansar no dia em que, finalmente, puderem estar juntos. Coisa que eles continuam a esperar, incessantemente.
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Há muitos e muitos anos, conta-se a história de um homem muito rico, que possuía uma imensa mansão em algum lugar no interior da Inglaterra. Era comentada por ser cercada de belíssimos pomares e jardins, todos criados como presentes à esposa desse homem. Ela era uma mulher frágil, há muito sofrendo devido a uma doença desconhecida, que acabou por tirar-lhe a vida pouco depois de dar à luz a sua única filha.
A pequena, também extremamente frágil, manifestou a mesma doença logo nos primeiros anos de vida. E assim como com sua esposa, o homem desembolsou enormes quantidades de dinheiro na tentativa de curá-la, em vão. Os muitos médicos que a examinavam não encontravam qualquer solução para o problema. O máximo que podiam fazer era receitar remédios fortes, para tentar frear o desenvolvimento da doença e aliviar -mesmo que pouco- seus sintomas.
Todos esses gastos, somados aos de sustentar a mansão, os jardins, os pomares e os muitos criados, tornaram a situação extremamente difícil. O homem, amargurado e sem querer abrir mão de nada, afundou-se em trabalho e deixou sua filha sob os cuidados de enfermeiras e algumas criadas.
A menina cresceu e completou, a muito custo, quinze anos. Passara a maior parte da vida dentro de casa, apenas admirando as belas paisagens além das janelas e desejando vê-las de perto. O que muito raramente lhe era permitido, tamanho era o medo das enfermeiras de que sua doença piorasse e elas perdessem o emprego. Ela entendia isso, mas seu desejo de conhecer o mundo lá fora ainda era maior. Então, durante uma tarde qualquer, enquanto estava sozinha, ela saiu.
Andava depressa e ofegando, sentindo os deliciosos aromas de frutos e flores, a brisa em seus cabelos e observando aquele cenário. Ao caminhar pelo meio do roseiral, porém, deu de cara com um menino um pouco mais velho do que ela: O ajudante do jardineiro. Ele surpreendeu-se ao vê-la fora de casa -só a vira na janela algumas vezes- mas concordou em guardar segredo e em ajudá-la a conhecer aquele vasto mundo dos jardins.
E assim, sempre que partiam para deixá-la descansar sozinha, ela saía e encontrava-se com o garoto. Ele colhia frutos e dava a ela, ensinava sobre as plantas e árvores, ou simplesmente sentava-se para conversar. Ele a fazia tão feliz, era tão maravilhoso... Que, pouco a pouco, ele passou a ocupar um grande espaço em sua mente e seu coração.
Tudo teria continuado perfeito se um dia, ao tentar subir numa árvore com a ajuda dele, ela não caísse e acabasse por fraturar um braço e algumas costelas. O pai, completamente transtornado e agora ciente de tudo o que ocorria pelas suas costas, mandou expulsar o jardineiro -que consentira em deixá-la ficar lá fora com ele- e mandou um grupo de subordinados castigarem o garoto.
Eles o levaram até uma clareira numa floresta próxima e o espancaram, mas acabaram exagerando. Ao perceberem, aterrados, que o menino havia morrido, enterraram o corpo ali mesmo e voltaram. E algum tempo depois, foram forçados a confessar seu crime diante do patrão.
A filha, que acabou ouvindo alguns empregados comentarem o assunto, caiu em desespero. Lágrimas eram pouco para expressar sua dor. Dor que era centenas de vezes maior que a de seus ossos quebrados e as causadas pela doença. Agora, como poderia continuar? Como poderia continuar sustentando um corpo inútil e defeituoso, se em seu coração e mente tudo ruíra? Como poderia continuar vivendo, se ela só sentiu-se viva de fato nos momentos que passara com ele?
Foi então que ela se deu conta: Sua vida só havia começado no momento em que o conheceu. Antes disso, era como morta, um cadáver ambulante que se mantinha com remédios e terapias. Foi separada daquele que lhe dava vontade de seguir em frente. Estava morta novamente. Ou quase.
Numa madrugada de muita neve, enrolada em um cobertor, a menina saiu de dentro da mansão e seguiu em direção aos jardins. Tudo estava tão escuro e terrível... As árvores que ela tanto amava já não tinham mais frutos ou folhas. Não havia mais flores, cores, vida ou calor. Era um retrato perfeito de como ela estava por dentro naquele momento. Caminhou mais um pouco, e foi capaz de encontrar o ponto exato do roseiral onde o vira pela primeira vez. Sentou-se no chão, e ali ficou. Era só uma questão de tempo até que encontrassem seu corpo inerte, congelado e coberto de neve. E foi exatamente o que aconteceu.
A história trágica dos dois, porém, só tornou-se mais conhecida devido a um fato curioso: Na clareira onde o garoto foi morto, cresceu uma árvore extremamente peculiar. Seus frutos, compridos e ovalados, de tom alaranjado com vermelho escuro, têm casca dura como a de nozes, mas por dentro é amarelo e macio como pêssego. Há uma cavidade nesse miolo amarelo, preenchido de um caldo semelhante a sangue, o que acaba por assustar a todos os desavisados que tentam comer do fruto. Os poucos que comeram mesmo, tiveram o cuidado de lavar o “sangue” de dentro antes. Por esses motivos, a árvore ficou conhecida como “Amor Sangrento”, que cresce e aprofunda suas raízes ao redor do cadáver do garoto. A alma dele permanece sem descanso, preenchendo os frutos e alimentando a árvore com seu sangue, que flui sempre mais. E que mancha de negro a terra ao redor da árvore.
Quanto à garota, esta ainda vaga pelos jardins e pomares da mansão de seu já falecido pai. Chorando, desorientada, a procurar um caminho que a leve até seu amado. A correr, livre de suas limitações carnais, mas presa em seu próprio labirinto. Dizem que ambos só poderão descansar no dia em que, finalmente, puderem estar juntos. Coisa que eles continuam a esperar, incessantemente.
Mizuki- Hysterical Twins
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Data de inscrição : 04/01/2010
Re: Amor Sangrento
Que lindo... Essa história é toda linda, me fez imaginar muitas coisas agradáveis apesar de seu teor trágico. Gostei muito, Mizuki <3
Re: Amor Sangrento
Nyah, obrigada Kyo, que bom que gostou. Às vezes ideias velhas podem ser úteis após algumas modificações ^^9kyokun escreveu:Que lindo... Essa história é toda linda, me fez imaginar muitas coisas agradáveis apesar de seu teor trágico. Gostei muito, Mizuki <3
Mizuki- Hysterical Twins
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