Boundaries

Discreta, misteriosa e até um tanto difícil de compreender, Whisper é uma cantora que despontou no mundo musical de maneira sutil, mas que lhe rendeu certo reconhecimento. Seu primeiro CD, Antinomy, conseguiu isso mesmo sem ter ganhado o concurso da Madhouse Records, onde foi lançado.

Whisper cresceu em meio a muitos problemas. O gerador de todos eles foi a sua dificuldade em se socializar. Ela não era meramente tímida: Tinha desprezo pelas atitudes arrogantes daqueles considerados "normais". E suas idéias dificilmente batiam com as deles, sendo de sua idade ou não. Por isso mesmo, ela criou todo um mundo imaginário, influenciado pelos seus sentimentos e por tudo o que via e lhe interessava.

Por muito tempo, Whisper viveu se escondendo e constantemente afastando quem tentava se aproximar ou tinha pena dela. Vivia como um fantasma, vagando pela cidade e arranjando brigas com traficantes, gangues, donos de bares e pedestres inconvenientes. Isso quando não estava na escola, desenhando ou escrevendo coisas aleatórias, ouvindo rock no celular, lendo e atacando colegas que lhe incomodavam.

No entanto, perto do fim do ensino médio, ela conseguiu fazer alguns amigos, e acabou tirando o foco de seus pensamentos do pessimismo e da dor que antes a consumia. Após muito pensar (e sofrer), decidiu sair daquela vida e usar a sua criatividade para algo produtivo. Assim, ela juntou suas histórias, poemas, ideias e coisas aleatórias escritas em aula e passou a compor. Conforme seus sentimentos fluíam, mais e mais músicas nasciam, embora ela ainda não soubesse como as usaria. Foi com a ajuda de Chrona, guitarrista expulsa de uma banda local devido ao alcoolismo (já superado), e de Yuura (mais conhecida como DJ Phantom), que as músicas puderam ser de fato gravadas e lançadas.

A revista DanceFloor conseguiu uma entrevista exclusiva com a cantora e seu grupo. Segue-se:

DanceFloor: Pra começar... Qual é a idéia principal do novo CD?

Whisper: A idéia é falar de fronteiras. Não fronteiras comuns, mas as da mente. Nos perguntamos coisas como: Até que ponto é possível ultrapassá-las? Até que ponto cruzar os limites do nosso ser vale à pena? É preciso ter coragem e bom senso pra sair daquilo que nos é conhecido e entrar na insegurança, no medo, no risco de decepcionar-se. Mas se há esperança de que algo melhor se encontra além dessas fronteiras... Cabe a nós decidir se vale à pena tentar.

DanceFloor: Interessante... Isso se baseia na sua experiência pessoal?

Whisper: Obrigada, e sim, se baseia muito nisso. Sofri muito por não conseguir lidar bem com as pessoas, e ainda sofro, mas creio que dei o primeiro passo pra mudar. Eu quero ser feliz, aceitando os outros e me tornando mais forte pra suportar as responsabilidades dos relacionamentos. Pra isso, eu tenho que cruzar uma fronteira como essa. É meio difícil definir essa ideia, mas é basicamente isso...

DanceFloor: Você falou em bom senso quando se trata de cruzar essas fronteiras... Há alguma conseqüência ruim em fazer isso, dependendo do caso?

Chrona: Deixe-me responder essa: Há sim. Eu mesma cruzei várias fronteiras dessas e mudei radicalmente meu estilo de vida. Tudo pra afrontar meus pais, que estavam se separando e brigando pela minha guarda na justiça. Acabei virando alcoólatra, e isso interferiu na minha vida como guitarrista. Fui expulsa da banda que eu participava por sempre me atrasar pros shows e não conseguir tocar ou mesmo conversar direito. Eu superei isso e consegui fazer as pazes com meus pais. Agora vou seguir meu sonho, como uma guitarrista comportada... *risos*

DJ Phantom: Pois é. Eu também tive que cruzar algumas fronteiras assim pra chegar onde estou. Meus pais são muito tradicionais, e não gostavam da idéia de eu ser DJ, mas esse é o meu sonho. Sempre que eu ia pra uma festa com as amigas do cursinho, eu me deixava levar pela batida, como se estivesse hipnotizada. E ao invés de paquerar os garotos, eu ia é perguntar pro DJ de cada festa, durante alguns intervalos que faziam lá, como funcionavam as coisas nas aparelhagens. Além de sempre pesquisar sobre o assunto quando chegava em casa. Lutei, e estou aqui. Cruzei a fronteira e agora me sinto realizada.

DanceFloor: Entendo... Como vocês três se conheceram?

Whisper: Eu conheci a Chrona num bar a algumas quadras da minha escola. Eu não bebo, mas costumo ir lá pra conversar com o bartender, que é meu amigo. E eu a vi lá, numa mesa e parecendo bastante deprimida. Eu já tinha visto ela tocar naquele bar antes, e estranhei o fato de estar sozinha ali. Aí me deixei levar pela curiosidade e perguntei pro meu amigo o que tinha acontecido. Ele me explicou que ela havia sido expulsa da Siren (a banda), e desde então ficava lá. Ele sugeriu que eu fosse falar com ela, então... Eu criei coragem e fui. No começo foi um tanto estranho, mas logo começamos a falar de música, e foi aí que eu peguei meu caderno na mochila e mostrei as músicas que estava compondo. Ela gostou e no fim acabamos nos juntando pra tentar tocar.

Chrona: É verdade. Eu fiquei fascinada com as letras, e conforme ia lendo, imaginava melodias loucas que acompanhavam. Quando a Whisper foi pra minha casa e começamos a combinar os ritmos e os instrumentais, nossa, foi uma sincronia incrível. Só foi mais difícil pelo fato de sermos duas e não darmos conta de todos os instrumentais.

DJ Phantom: É aí que eu entro *risos* nessa época, eu já estava em várias raves, seguindo meu namorado. Ele também é DJ, e com ele eu aprendi muitas coisas. Inclusive, chegávamos a fazer mixagens juntos, além de trocar uns beijos quando a pista pegava fogo e não tinha ninguém prestando atenção *risos* foi numa dessas que a Whisper e a Chrona me viram. Elas tinham acabado de chegar, e estavam procurando por mim por indicação de um colega da Chrona. No fim da rave, conversei com elas e achei que valia à pena tentar trabalhar com as duas. Acabou que viramos todas amigas e agora não podemos ficar sem tocar juntas.

DanceFloor: Que incrível! Mudando um pouco de assunto, o que dizem da parceria com o Kyll?

Whisper: Foi ótimo trabalhar com ele. Ele é super gente boa e admira o meu trabalho, além de eu também admirar o dele. As idéias fluíram bem, e foi compatibilidade total.

DanceFloor: Não planejavam fazer mais parcerias?

Whisper: Sim, e na verdade ainda planejamos. Mas deixaremos isso pros singles, que ainda estão em fase de produção.

DanceFloor: Já têm em mente as bandas com os quais querem fazer parcerias nos singles?

Whisper: Já pensamos em algumas, mas não é nada definitivo. Então prefiro não falar nada por enquanto, gosto de surpresas... *risos*

DanceFloor: Bem, pra finalizar... Esse álbum é todo baseado nessa parte de "cruzar fronteiras"?

Whisper: Pode-se dizer que sim, ou senão, quase. As músicas falam de conflitos consigo mesmo e com o mundo, e a parte de cruzar fronteiras se mostra fundamental em cada uma. São histórias de pessoas que querem mudar, conhecer, superar. Coisas assim.

DanceFloor: Certo. Obrigado por nos cederem seu tempo.

As três: De nada!

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Artista: Whisper
Álbum: Boundaries
Gravadora: Madhouse Records / Madhouse Entertainment
Ano: 2011
Data de lançamento: 24/12
Formação: Whisper (vocais), Chrona (guitarra, bateria), DJ Phantom (sintetizadores, bateria)
Gênero: Synthrock

Capa e contracapa:

Spoiler:

Tracklist:

1. Boundaries
Começa falando sobre cruzar essas fronteiras. Sobre destruir o medo e a insegurança e seguir em frente.

2. Forgotten Days
Alguém que se esqueceu de algo importante em seu passado busca um meio de lembrar, mesmo sem saber se estará preparado para aguentar a verdade.

3. Perfect Meaning
A música fala sobre encontrar um “significado perfeito” para um sentimento repentino. Um motivo para ele existir e permanecer.

4. Bleeding Smiles
Uma dedicatória a todos aqueles que continuam sorrindo, mesmo quando sangram por dentro.

5. Someone Like Me
O eu-lírico busca por alguém que seja como ele. Que possa compreendê-lo e partilhar de seus pensamentos.

6. The Window
Alguém vê o mundo por uma janela e deseja sair para conhecê-lo, apesar de hesitar devido ao medo.

7. Hazy Eyes
Olhos nebulosos, sem brilho e sem cor. São os olhos de alguém que está quase perdendo a esperança. Tem um tom ligeiramente pesado nos instrumentais.

8. Walking on the Limits
Alguém que anda sobre os limites, vacilante, mas sem cair. Alguém que não sabe qual é o seu lugar e imagina qual seria sua razão de existir.

9. Delusional Dream
Um “sonho” pesaroso arrasta-se continuamente e ilude uma pessoa. Esta se entrega, sem diferenciar o que é falso do que é verdadeiro.

10. One Memory Away
Alguém querido se encontra "a uma memória de distância". Basta lembrar para encontrar. É uma música mais melodiosa.

11. Embolum (feat. Kyll)
Ganhando um tom mais pesado do que as anteriores, Embolum fala de um vício, comparando-o ao vício por drogas injetáveis. Dizendo que é tão letal quanto.

12. Reach for Nothing
Conta a história de alguém que não tem um objetivo ou um sonho, e deseja libertar-se disso.

13. Let me Scream
Alguém que está no seu limite deseja gritar, destruir tudo e descarregar anos de ódio e tristeza acumulados. Há gritos e choro ao fundo.

14. Glass
Tendo um sentido metafórico, a letra fala de alguém que se perturba por ver a sua própria imagem em paredes de vidro. E então as destrói, mesmo sabendo que isso irá feri-lo.

15. Beyond the Walls
A faixa final é como uma continuação de The Window. A pessoa liberta-se das paredes de casa e põe-se a caminhar, desaparecendo enquanto procura conhecer o mundo.