A Brilhante Cidade de Vellyria

Repentinamente passou-se na cabeça de Nicola que alguém pode ter pego ou simplesmente a aparição misteriosa não aconteceu de fato.

Lembra-se também rapidamente da maçã que lhe foi entregue e procura por ela, com a intenção de jogá-la pela janela, uma vez que também lhe foi advertido algo sobre não receber objetos de desconhecidos.

Perkasa realmente acordara desequilibrada emocionalmente. No fundo ela temia os soldados de Shandrya. E todos os eventos misteriosos perturbavam-na. Vários pensamentos passavam-se em sua cabeça.

Nicola encontrou a maçã dourada e nesse momento um estranho pensamento que surgiu como se tivesse sido sugerido em sua mente. Se a aparição havia dito que haveria uma faca embaixo de seu travesseiro e não havia nada, por que é que seria verdade o fato do item entregue a ela ser, de alguma forma, maligno? A visão de Angel nada lhe confirmava sobre o que era ou não verdade.

Nesse momento ela percebeu que aquela sugestão em seus pensamentos viera de dentro da maçã. Mas como isso seria possível? Ficou confusa com o fato de suspeitar estar sendo manipulada por um objeto, mas era como se dentro dele tivesse um órgão onde muita vida pulsava.

Nicola, no fundo, sabia o que aquilo significava. Era o mesmo sentimento de quando encontrava outro feiticeiro, podia simplesmente sentir que aquela maçã dourada era muito mais que um item metálico. Uma certeza dentro de si mesma lhe dizia que aquele objeto fazia parte desse mundo e do outro. Assim como os Fragmentos do Exílio.

Nicola não sabia em "quem" confiar: na maçã ou na aparição. Ela então pensa que alguém pode ter tirado a faca de seu travesseiro, então não necessariamente poderia ter sido uma farsa. É muito provável que alguém da casa tenha pego por achar perigoso.

Perkasa tenta, então, fazer a maçã reagir com seu poder mágico. Visto que o objeto provavelmente tem alguma ligação com a fonte de seus poderes.

Depois de muito tempo tentando, Nicola percebeu que de nada adiantaram seus esforços para fazer a maçã mágica reagir. Mas ao tocá-la sentia que havia uma espécie de órgão dentro dela, que batia como um coração humano. Aquilo lhe causava cerca repulsa e ao mesmo tempo curiosidade. Era como se segurasse uma parte vital de algum ser desconhecido.

Do lado de fora o dia quase clareava. Em algumas poucas horas seria o fim da madrugada e os soldados acordariam.

Por ora, Nicola decidiu guardar a maçã misteriosa, imaginando que poderia encontrar sua provável fã em seu próximo espetáculo, tendo, dessa maneira, a oportunidade de interrogá-la sobre o objeto.

Uma vez que Perkasa teve seu sono perdido, ela pega uma caderneta e expressa um poema sobre o papel para matar o tempo.

Quando os raios de sol da manhã penetraram o quarto através do vidro da janela, alguém bateu à porta.

- Senhorita, está na hora do café da manhã.

Nicola reconheceu a voz da camareira.

Nicola, ao ouvir a voz da camareira, guarda suas coisas e sai do quarto.
- Hm, com licença, a senhora encontrou algo de estranho enquanto arrumava meu quarto? Tipo, algo perigoso, que pudesse até me machucar? Perkasa interpelou.

- Eu não arrumei seu quarto, senhorita. - respondeu ela tranquilamente. - Ele estava em impecável estado quando a senhorita saiu para fazer seu show, então nem vi necessidade de limpá-lo. Por que? Procura por algo em especial?

- É só uma preocupação boba, nada demais. Tive uns sonhos esquisitos então...

- Tudo bem, eu compreendo. - a camareira acompanhou Nicola até a mesa do desjejum, e lá estavam todos os solados comendo e falando alto. Quando a garota entrou na sala, todos pararam para olhar para ela.



- Está melhor? - perguntou Lord Millier sem rodeios.

- Sim, acho que sim, respondeu Nicola passando a mão pelo rosto, em expressão de exaustão. Sinto-me segura agora, obrigada.

- Estávamos conversando aqui, senhorita... - disse o Lorde limpando a boca com um lenço branco. Nicola notou que ele pareceu repentinamente tímido - ... sobre o jantar real que acontecerá amanhã à noite. E... eu pensei que talvez a senhorita pudesse me acompanhar.

Ele finalmente teve coragem de encará-la nos olhos. Todos os outros soldados olhavam fixamente para ela.

- Acho que não seria pedir muito depois do suporte que lhe damos na noite passada. Não é mesmo?

- Eh-heh. Seria ótimo, mas... isso dependerá de minha disponibilidade. Tenho trabalhos a cumprir nesta semana, então talvez eu tenha que ficar lhe devendo esta.

- Estamos falando de um jantar real, senhorita. - insistiu ele. - O rei estará lá. Em breve ele se casará e deseja a presença de todos os cavaleiros. Acredito que uma noite como essa, cercada pela realeza, seja muito boa para sua imagem. O dono da estalagem já me contou quem você é uma artista de muito respeito, por isso insisto nesse pedido. Estando lá você poderá ter contato com gente da mais alta classe e creio que, de alguma maneira, isso possa lhe favorecer.

- Eu entendo o quão relevante é o evento e o quão favorável pode me ser. Mas o porém é que não posso sobrepô-lo aos meus compromissos a menos que me fosse permitido. Acredito que não será possível, Nicola para e suspira. Mas olhando o semblante insistente do soldado e a expectativa na atmosfera, muda seu contexto. Olhe, vou ver se negocio com o senhor do bar para remarcar alguma de minhas performances. Mas não lhe garanto algo.

O Lorde abriu um largo sorriso, e até mesmo alguns dos cavaleiros.

- Garanto que não irá se arrepender, senhorita. - disse ele voltando a ser sério. - Sente-se, coma com a gente. Está delicioso.

Lorde Millier deu uma garfada num pedaço de queijo e enfiou-o na boca.

Nicola pôs-se à mesa e comeu junto aos soldados.

- Eles me contaram que seu nome é Nicola... - falou o Lorde repentinamente enquanto comia. - O meu é Millier.

Ele não a olhou nos olhos enquanto falava, e logo se levantou da mesa.

- Nossos cavalos puxarão carruagens luxuosas até a cidade de Shandrya, para o jantar. Espero você lá fora.

O homem se retirou do recinto e junto dele foram alguns dos soldados, enquanto outros conversavam entre si e continuavam a refeição.

Nicola terminou sua refeição e se retirou, sem se importar se as visitas já terminaram ou não. Ela se dirigiu ao seus aposentos, onde passou a treinar sua interpretação.

Após poucas horas de treino, Perkasa se arrumou e saiu, dirigindo-se à taverna para rever sua programação e tentar reorganizá-la caso caia no dia do jantar real.

O dono da taverna foi levemente rude com ela à princípio, mas aceitou a proposta gentilmente após saber que se tratava de um jantar real. Não era qualquer garota que teria uma oportunidade como aquelas e o homem parecia ter grande respeito por Lorde Millier, devido à sua boa fama entre o povo dos Campos Imaculados.

Nicola volta à estalagem onde pretende praticar seu monólogo e estudar teatro.

Na porta da estalagem estava Lord Millier, em sua mão uma rosa e ao seu lado uma luxuosa carruagem. Dois cavalos de boa raça estavam presos à ela por cordas e um cocheiro ricamente vestido os aguardava.

Os olhos do cavaleiro se encontraram com os de Nicola.

- Por favor, queira entrar. - disse ele segurando a flor.

Nicola pôs um sorriso em seu semblante. Mas na real, ela estava odiando tudo aquilo. Não gostava do cavalheirismo romântico de Millier. E, como uma boa atriz, fingiu estar encantada com a rosa, fazendo-se de envergonhada.

- Bela rosa, disse Perkasa. Fico grata com seu cavalheirismo excepcional.

- Me desculpe, senhorita, mas essa flor não é para você.

Lord Millier caminhou até a porta da carruagem e abriu-a.

- Entre, estamos um pouco atrasados.

O cavaleiro adentrou a carruagem ainda com a rosa na mão.

Por um momento Nicola manifestou surpresa em seu semblante. Mas, a fim de contornar a situação, pôs uma cara natural, embora abalada internamente. Entrou dentro da carruagem e procurou agir o mais natural possível.