Winter
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Winter
Título: Winter
Classificação: PG-13
Nós começamos com o frio, as partículas de gelo caindo ao chão, às árvores, ao seu rosto. Seria uma erupção, não fosse o vento lamuriento, não fosse a neve, não fosse você feito de ausências; filho do inverno, feito de blocos gelados. Nós começamos com o frio, com os seus braços esguios tentando encontrar um caminho pelo meu corpo, com seus olhos plácidos pousados sob meus olhos ambarinos, com minhas mãos instintivamente brincando em seu cabelo enquanto em mim surgia um medo instintivo de seus lábios – peças de tortura pálidas, da cor de cetim e textura de frio. Tão frágeis quanto cristal. Tão frágil quanto gelo. O meu medo, porém, não era que eu pudesse quebrá-los, ou que eu pudesse acabar lhe ferindo. Não me preocupava o fato de que eu poderia acabar gostando, e que isso seria estúpido, um erro. Nada disso me causava o temor que se espalhava pelo meu sangue e acelerava o meu coração. Pois eu sabia que, se havia alguém mais cruel do que eu neste mundo, essa pessoa era você.
Nós começamos com o frio, mas seus beijos poderiam ter sido feitos de fogo. Você, também, poderia ser feito de fogo, e de frio, e de vento, e de neve e de oceano – e do que mais você quisesse. E você não fazia ideia.
Eu te achava fútil, artificial e estúpido, um rapaz verde e sem graça que se estivesse sob os meus domínios – o meu castelo, entenda – seria escolhido como meu pajem apenas por ter um rosto bonito e olhos complacentes. Mas isso não passa de fantasia. Eu sou seu inferior, e você é meu príncipe, herdeiro do reino e de minha vontade. Eu descobriria que você mandava em muito mais do que eu acreditava possuir – apenas usando seus lábios feitos de fogo e gelo. Isso aconteceria apenas mais tarde.
Tarde demais.
Nosso começo poderia ter sido este, fragilmente construído por cristais de gelo empilhados a formar um muro, uma torre, um forte; mas as coisas não aconteceram dessa forma. Nada aconteceu. Depois do beijo de frio que você me deu, parei de olhar para o seu lugar à mesa nos banquetes mais importantes, parei de procurar-lhe para treinarmos as espadas, parei de querer sair em caça com você. Porque eu pensava que você era um estúpido e que eu era um estúpido e que todo o nosso reino estava empilhado em cima de um fragmento de neve – o seu beijo.
Travávamos uma batalha – e não apenas uma batalha entre os nossos desejos e nossas obrigações. Seu estandarte era incendiado e a real fumaça sufocava com medo o seu povo. De várias partes, homens gritavam o nome de sua família e, por uma casa que a eles não pertencia, derramavam sangue. O Rei – seu pai – lhe enviou para uma batalha localizada, munindo-o com a autoridade e a presença que ele, em sua debilitada velhice, já não podia oferecer. Do outro lado do mar, seu irmão mais velho, legítimo portador da pretensão do reino, voltava aos ventos para casa. O inverno pioraria.
E então, após uma longa cerimônia de despedida, você partiu. Enquanto eu me escondia em sombras, reprimindo a dor de ter sido ignorado – um ato natural para um príncipe como você –, eu tentava acreditar em mim. Tentei dizer aos meus desejos silenciados que eu não me importo. Você era um príncipe, eu era herdeiro de um lorde qualquer que há tempos perdera o poder. Tudo se resumia a isso: eu era um homem, você era um príncipe, foi apenas um beijo e eu não me importo. Já tive muito mais do que beijos, amores vindos de mulheres que podem se orgulhar do que fazem. Eu poderia tê-las quando eu quisesse e da forma que eu quisesse (excetuando o fato de que não seriam seus os beijos), mas não faz diferença. Eu não me importo se você marcha para a glória ao qual foi destinado enquanto eu continuo preso aos seus grilhões de gelo. Eu não me importo – mas você sabe que eu sempre fui um mentiroso terrível. Terrível.
Seu pai lhe enviou, filho do inverno, mas ao meu lado deixou o filho mais velho. Quando avistamos as embarcações marcadas com o estandarte branco e azul de sua família, nós os saudamos com espadas e escudos, prontos para nos juntarmos e ele e batalhar pela soberania de seu sangue. Os inimigos batiam às portas, e nós o repelimos – eu, ao lado do seu irmão. Então asas negras nos trouxeram uma notícia dos refúgios do frio, uma carta selada com cera negra indicando o luto por seu pai morto, e eu senti pena de você. Continuamos nossa luta até chegar a notícia de que você havia sido capturado pelo inimigo, e eu senti pena de você. Então, finalmente, quando seu irmão leu a carta que nos anunciava seu casamento com uma princesa do inimigo, uma tentativa de forçar uma aliança entre um reino dominante e um decadente, eu senti pena de você. Tornava-se um refém – assim como eu fui (seu) da sua família por nove anos – e eu sentia pena. Se eu fechasse os olhos, conseguia imaginar seus braços em volta do meu corpo, e seu cabelo escuro entre meus dedos, e o frio em meus lábios – e eu senti pena de você.
Entenda, quando eu lutei ao lado de seu irmão não foi por justiça, ou por vingança, ou sequer por obrigação – quando se é um refém, não existem muitas opções. Era apenas para lhe salvar, de morte em morte, de vitória a vitória, até o fim. Entenda, o meu fim.
Nós começamos com o frio, quando o seu irmão achou que nove anos era tempo o suficiente para começar a confiar em um refém. Nós começamos com o frio, quando, depois de nove anos, eu tive a oportunidade de voltar para casa e encarar nos olhos de meu pai o desgosto que ele sentiu ao rever o filho que já não era dele. Seu irmão teve a ingênua ideia de achar que eu persuadiria meu pai a se juntar a ele, por fidelidade, e repelir o inimigo. Não se engane: eu gostava de seu irmão tanto quanto gostei de meus irmãos; mas nada muda o fato de que, ao nascer, coseram em minhas vestes um emblema em negro e vermelho, e não um cristal de gelo. Nada muda o fato de que, para sua família, eu era apenas um prisioneiro.
Um prisioneiro que ganhava a liberdade apenas para se prender ainda mais às paredes de uma prisão.
Apesar de simular um prazer em seu jeito de falar, eu sabia que meu pai não estava feliz em me ver. Ele ainda me culpava pela morte dos meus irmãos, uma sucessão de tragédias e de derramamento de sangue. Eu sabia que ele se ressentia por ter sido eles a morrerem nas mãos do Rei, e não eu, o filho mais novo, o filho inútil, o sétimo filho. Havia seis depois de mim, seis que eu poderia ser, seis em meu caminho, cada um melhor que o outro. Eu sou apenas o sétimo filho, mas sete continua sendo um número. Sente ainda pode ser contado, e eu o faria contar. Depois de uma semana seguindo uma farsa – seguindo os planos de seu irmão enquanto, discretamente, eu fazia os meus próprios –, convenci o meu pai de que deveríamos, ao invés de ajudar, aproveitar a fragilidade de seu reino e atacar aonde faltava – o coração de gelo, as portas do inverno. O seu tão precioso castelo de neve estava prestes a ruir.
Meu pai riu de minha tolice. No fundo, eu sabia que ele temia ser massacrado novamente, como aconteceu há nove anos. Eu sabia que, para ele, vingança era um vocábulo fantasioso, longe de nosso poder e distante da realidade. Achava que era estupidez tentar, ele não sabia tentar, mas me concedeu um exército diminuto. Percebi que, se ele não estava contando com os filhos mortos, então ele estava contando comigo. Faça-me contar até sete, seus olhos diziam quando nos despedimos no portão de minha antiga casa, um exército e bandeiras negras e vermelhas como brasa incendiando atrás de mim. Faça-o contar até sete.
E eu o fiz.
Nós começamos com o meu fim, quando tomei o seu castelo para mim; entenda, é o fogo que corre em minhas veias, e não o frio. Nós terminamos com o seu recomeço, quando você perdia o seu último porto-seguro enquanto acreditava finalmente estar a salvo, nós comaçamos com o frio.
Vamos com ele até o fim.
Como eu poderia ter começado senão com o frio? Eu me lembro perfeitamente bem de sua expressão quando eu invadi seu castelo desprotegido. Vi seus olhos morrendo – depois que você foi capturado por um rei tão cruel quanto nós dois, depois de ter passado por não sei o que atrás dos muros do inimigo, depois que seu pai morreu, depois que seu irmão foi assassinado, depois que a guerra foi perdida e seu exército e amigos, destruídos, depois que você quase morreu não sei quantas vezes enquanto tentava chegar em casa, apenas para descobrir que não havia mais um lugar seguro no mundo para você. Eu percebi o terror refletido em seus olhos quando você me viu, parado ao pé da sua cama, e nós começamos com o frio novamente, eternos dançarinos em um ato cruel de fogo e gelo.
Eu podia ter dito eu não estou te traindo, nunca fui um dos seus. Eu poderia ter dito eu sou feito de fogo, e não de gelo. Eu poderia ter dito estou tomando o seu castelo para mim, diga ao seu povo que eu sou o seu novo senhor. Eu poderia ter dito quem é o refém agora?
Mas, ao invés disso, eu disse você é meu. Então eu soube que eu havia perdido a batalha.
Eu fui muito cruel de muitas maneiras. Mas é bom você começar a se acostumar com o fato de que, nas histórias, sempre deve haver um herói e um dragão, e por mais que eu tentasse ser o seu herói, eu acabaria sendo o dragão. Uma criatura furiosa, destruindo tudo só porque quer preencher o mundo com aquilo que o preenche – ruínas, meu amor. Eu fui o seu dragão, cuidado com as minhas chamas. Você é feito de gelo, cuidado com as chamas.
Eu nunca pensei que eu iria montar em seu corpo sem resistência e clamar vitória sobre a sua não derrota; mas eu sou o dragão da sua história, eu amo a destruição, eu amo atormentar os que tentam entrar em meu caminho, tomar o que eu quero com fogo e sangue. Eu gosto de ver sofrimento, assistir a dor amenizando a expressão de ódio no rosto dos meus inimigos, observar homens maiores caindo de joelhos e trocando sua honra por qualquer outra coisa, ouvir meu nome horrorizado preso em suas gargantas antes da morte chegar. Eu não imaginei que precisaria ver você assim, eu não imaginei que gostaria de assinar meu nome em sua pele, de ver a água derreter em vermelho.
Nós começamos com o frio – cuidado com as minhas chamas.
Então alguém contou que você estava vivo e o meu pai não ficou satisfeito com essa notícia. Mandou-me uma mensagem de minha antiga casa dizendo que, se eu lhe matasse naquele momento, os deuses me enrabariam com a fúria de mil tempestades. Ele sempre vai achar que eu sou uma criança estúpida, não importa o quanto eu mostre o contrário, ainda que ele seja o culpado pela desgraça que se abateu sob nossa família. Mas eu já aprendi a não me importar. Então forjamos um plano em que você morreria apenas para o seu povo, mas, aos olhos dos deuses, continuaria vivo.
Eu tive que matá-lo, teoricamente. Cortar metade do seu cabelo, tingi-lo de negro, despir-lhe de suas roupas ornamentadas, arrancar-lhe o seu nome e tudo o que pudesse lembrar que você um dia fora você. Eu sou o seu dragão, destruindo o seu castelo de gelo. No fim, não lhe restava nada; meu objetivo não era que você deixasse de existir, mas que tudo o que sobrasse de si fosse eu, porque eu sou seu, eu sou seu. Diga-me que isso foi o que você sempre quis, que eu fui o que você sempre quis. Diga-me que havia alguma felicidade em você estar de volta ao meu lado, que medo não foi o que brilhou em seus olhos quando eu terminei de arrancar o seu nome de você mesmo. Mas é tudo uma mentira. Eu sou um mentiroso terrível, não consigo mentir nem para mim mesmo. Diga-me, olhando nos meus olhos, que você não me ama. Que você não consegue me amar.
Sei bem que algumas coisas acontecem mais facilmente no escuro. Mas eu tive medo de fechar os olhos durante a noite e descobrir que tudo o que aconteceu foi apenas um (outro) sonho. Eu tive medo de que, quando eu abrisse os meus olhos na manhã seguinte, os seus braços de brancura estariam desaparecidos, os seus beijos de frio não me pertencessem mais, e todo o inverno de seu toque não passasse de minha imaginação. Eu tive medo de ter feito outra coisa terrível, que você percebesse que eu podia te amar.
Porque eu podia amar você, sua coisa frágil como flocos de neve, bonita como manhã de inverno e cruel como tempestade no escuro. Eu podia amar você tanto quanto eu podia odiar você, e lhe esmagar, e lhe destruir. Eu podia fazer de você algo mais sagrado que os mais altos deuses, podia lhe fazer tão profano quanto um homem pode ser, podia fazer de você o que quisesse. Podia ir a lugares com você, por você, ver o mundo com os seus olhos, apreciar o seu rosto bonito enquanto seu corpo se perdia nas pesadas peles em minha cama – isso eu podia fazer para sempre. Eu podia – e fazia – observar a intensidade filtrada do sol atravessar seu corpo e tinha medo que você pudesse derreter, ou pudesse ser elevado como um anjo que um dia, talvez, você fora. Eu podia fazer isso todos os dias até sentir a desesperada necessidade de proteger você, e de amar de você, e fazer-lhe meu, de novo e de novo e de novo.
Eu podia amar você, meu cristal de gelo, minha nevasca impiedosa. Lá fora o mundo acabava em sangue, fogo e fumaça, mas aqui dentro nós participávamos de um jogo bem mais perigoso, meu príncipe cruel. Olha para o mapa de minha mente e diga-me quanto dos territórios já não são seus. Diga-me que direção tomar nessa encruzilhada, pois nós começamos com o frio, mas não posso carregá-lo para sempre.
Eu não posso ser frio com você para sempre.
Eu podia entrar no seu quarto um dia e dizer toma, pega o meu coração, só para você se sentir seguro, mas você não iria querer isso. Você não iria querer nada que era meu, mesmo se fossem todos os castelos que eu conquistei, e todas as almas que condenei, e todas as riquezas e raridades que eu roubei. Antes, quando você era um príncipe estúpido e indefeso, você gostava dessas coisas. Todos sabiam o quanto você gostava de castelos, todos sabiam do seu apreço por ouro, todos sabiam que seu único amor era uma espada e um escudo às mãos e a justiça sendo feito perante os seus olhos. E eu poderia lhe dar tudo isso, eu poderia ser seu Rei, seu príncipe, eu poderia trazer um pouco de felicidade para o seu mundo frio.
Mas você não quer isso. Você não quer que eu te ame. Você não quer ser feliz comigo.
Se eu pudesse conter o fluxo do tempo, revirar as areias da ampulheta que nos afoga, eu me esforçaria para te amar quando você era tudo o que eu poderia ter. Quando eu era o (seu) refém na sua casa, quando eu não era o traidor que tomou o seu castelo e levou, como um bônus perverso, quem você era – porque você é meu agora, lembra disso? Eu podia ter feito você me amar naquele dia de inverno quando neve era a única aura que nos rodeava e você tinha uma curiosidade brilhando em seus olhos e eu pensei que aquela era a coisa mais bonita que eu já tinha visto na minha vida. Eu podia ter me apaixonado ali.
Mas eu comecei com o frio, então terei que carregá-lo para sempre.
Eu sempre me pergunto no que você está pensando quando a sua pele se arrepia desse jeito. Você, encostado na janela, uma silhueta tão frágil quanto vidro, o desenho do rosto tão surrealmente perfeito, a luz fantasmagórica do fogo refletindo tão belamente em sua pele. Você, com o olhar perdido na névoa, como se alguém houvesse roubado alguma coisa aí dentro. As suas mãos nuas se contraem e vocês as fecha em punho, e toda a sua pele se arrepia, o espetáculo mais incrível que eu já presenciei. Eu não sei os horrores que você passou enquanto foi refém dos inimigos, mas você podia me contar. Você podia me contar, que eu ouviria, e o abraçaria e o beijaria e passaria minhas mãos pelo seu cabelo negro. Eu desejaria que os seus horrores fossem meus, porque só de ver os seus olhos vermelhos e sem vida eu tenho vontade de juntar todas as forças que tenho e marchar contra os que lhe fizeram mal. Guerrear por um homem que já é meu.
A única coisa que lhe faria bem nessa vida.
Você não me fala das suas dores, mas eu puxo os seus ombros e encosto o seu corpo no meu porque isso é o mínimo que eu posso fazer por você. Você não me abraça de volta, você nunca me abraça de volta, mas eu sei que isso é atuação. Você é uma atuação que não me engana mais. Você é tão cruel quanto eu gosto de pensar que sou, e você vai me lançar com um de seus movimentos leves e vai me olhar com uma expressão de gelo antes de pedir licença. Você não me engana mais.
Mas pode continuar atuando, que eu lhe devo isso. Pode continuar fingindo que você me odeia mais do que ama estar longe de mim. Pode continuar sua atuação até mesmo quando as luzes estiverem apagadas. Pode me beijar como se fosse uma obrigação, continua a abafar os seus gemidos – pelos deuses, você geme como um animal excitado – com os lábios em meu pescoço, continua se vingando quando puxa os meus cabelos, morde os meus lábios e arranha as minhas costas como se eu não gostasse de ser punido dessa forma. Continua, como se você não soubesse o efeito que você tem em mim. Continua com o frio quando eu sei que você não é. Continua fingindo que eu nunca poderei te fazer bem, que eu não sou o que você sempre quis.
Continua, porque eu continuarei fingindo que não estou apaixonado.
Então eu decidi lhe dar algo que não fosse o meu desespero ou a minha necessidade. Ouso dizer que o que eu te dei foi algo muito próximo ao amor – posso até ter atirado o meu coração aos seus pés, naquela noite. O tempo esfriava e eu chamei seu novo nome em meu quarto e você apareceu com olhos vermelhos – enquanto o tempo estava azul como frio que te concebeu. Minha mão passeou em seu cabelo enquanto eu sorri, e você me olhou como se eu estivesse louco, como se algo muito errado fosse acontecer em seguida, como se aquela fosse ser outra noite qualquer de humilhação. Eu sorri, porque queria lhe dar algo diferente, e então beijei seus lábios com adoração, procurando em meio ao inverno de seu toque aquela tarde de frio em que apostamos corridas de cavalo e você me beijou porque eu ganhei, e você era o meu príncipe e eu o seu vassalo, e você era o meu captor e eu era o seu refém, e me diz qual é a diferença agora?
Eu não consigo mais fingir, eu não consigo aguentar esse frio para sempre. Mas eu avisei, eu sou feito de fogo, e não de gelo, então, por favor, não me faz aguentar esse frio para sempre.
O seu toque ainda era gelado quando eu terminei de lhe despir. Então eu te beijei até que os seus braços estivessem em volta do meu corpo e seu peito estivesse incendiando com intensidade o suficiente para me fazer parar de pensar. Você é meu, eu pensei, e foi exatamente isso que eu disse quando tomei o seu castelo, talvez eu tenha dito isso aquela noite também. Você é meu, você é meu, você é meu, eu dizia mesmo sabendo que você não queria ser. Mas eu também não queria que você fosse obrigado a ser, então tudo bem. Você é meu, seus gemidos sufocados entre os nosso lábios não queriam ser, então tudo bem. Você é meu, seu rosto contorcido de prazer suplicante escondido por suor não queria ser, então tudo bem. Você é meu, sua dança errática e trôpega em compasso com a minha não queria ser, então tudo bem.
Eu envolvi o seu corpo com os meus braços e em uma voz patética eu disse que eu te amo, eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo, porque eu não tinha mais nada para falar, e eu continuava dizendo até que eu esqueci o significado das palavras e tudo não fazia o mínimo de sentido, então já não está mais tudo bem. Porque eu sei que você queria o frio, mas isso eu não podia prometer porque, eu avisei, eu sou feito de fogo; eu avisei que não aguentaria ter que carregar o seu frio para sempre. A culpa é minha, mas também não é, porque eu sou o seu dragão, mas não quero mais ser.
Eu tive medo de acordar durante a manhã novamente. Eu senti o seu corpo quente ao meu lado mas eu não quis abrir os olhos, porque você sabia que eu não era cruel o suficiente, porque você sabia que eu o amava, e porque não era isso o que você queria. Eu tive medo de abrir os olhos, de ter feito outra coisa terrível, de ter estragado tudo – que não era muito.
A luz que invadia o quarto era filtrada e a poeira que preenchia o nosso vazio me lembrou vidro partido, e não tive coragem de olhar para você. Mas seus olhos estavam abertos e brilhavam com a iluminação do sol e foi impossível não olhá-los. Você se moveu, o corpo ainda lento por causa do sono, e a sua mão percorreu o meu braço e foi brincar em meus dedos. Seus lábios se curvaram em um sorriso tênue e seus olhos fecharam como se você pensasse não foi um sonho, afinal, e como aquilo era bom demais para ser verdade eu envolvi sua cintura com os meus braços e pousei meus lábios em sua têmpora, e você me envolveu com sua respiração quente e lenta e eu não tinha estragado tudo.
Afinal, quem começou com o frio fui eu, e você nunca disse que eu tinha que ser o dragão da sua história, não é mesmo?
Classificação: PG-13
Winter
Nós começamos com o frio, as partículas de gelo caindo ao chão, às árvores, ao seu rosto. Seria uma erupção, não fosse o vento lamuriento, não fosse a neve, não fosse você feito de ausências; filho do inverno, feito de blocos gelados. Nós começamos com o frio, com os seus braços esguios tentando encontrar um caminho pelo meu corpo, com seus olhos plácidos pousados sob meus olhos ambarinos, com minhas mãos instintivamente brincando em seu cabelo enquanto em mim surgia um medo instintivo de seus lábios – peças de tortura pálidas, da cor de cetim e textura de frio. Tão frágeis quanto cristal. Tão frágil quanto gelo. O meu medo, porém, não era que eu pudesse quebrá-los, ou que eu pudesse acabar lhe ferindo. Não me preocupava o fato de que eu poderia acabar gostando, e que isso seria estúpido, um erro. Nada disso me causava o temor que se espalhava pelo meu sangue e acelerava o meu coração. Pois eu sabia que, se havia alguém mais cruel do que eu neste mundo, essa pessoa era você.
Nós começamos com o frio, mas seus beijos poderiam ter sido feitos de fogo. Você, também, poderia ser feito de fogo, e de frio, e de vento, e de neve e de oceano – e do que mais você quisesse. E você não fazia ideia.
Eu te achava fútil, artificial e estúpido, um rapaz verde e sem graça que se estivesse sob os meus domínios – o meu castelo, entenda – seria escolhido como meu pajem apenas por ter um rosto bonito e olhos complacentes. Mas isso não passa de fantasia. Eu sou seu inferior, e você é meu príncipe, herdeiro do reino e de minha vontade. Eu descobriria que você mandava em muito mais do que eu acreditava possuir – apenas usando seus lábios feitos de fogo e gelo. Isso aconteceria apenas mais tarde.
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Nosso começo poderia ter sido este, fragilmente construído por cristais de gelo empilhados a formar um muro, uma torre, um forte; mas as coisas não aconteceram dessa forma. Nada aconteceu. Depois do beijo de frio que você me deu, parei de olhar para o seu lugar à mesa nos banquetes mais importantes, parei de procurar-lhe para treinarmos as espadas, parei de querer sair em caça com você. Porque eu pensava que você era um estúpido e que eu era um estúpido e que todo o nosso reino estava empilhado em cima de um fragmento de neve – o seu beijo.
Travávamos uma batalha – e não apenas uma batalha entre os nossos desejos e nossas obrigações. Seu estandarte era incendiado e a real fumaça sufocava com medo o seu povo. De várias partes, homens gritavam o nome de sua família e, por uma casa que a eles não pertencia, derramavam sangue. O Rei – seu pai – lhe enviou para uma batalha localizada, munindo-o com a autoridade e a presença que ele, em sua debilitada velhice, já não podia oferecer. Do outro lado do mar, seu irmão mais velho, legítimo portador da pretensão do reino, voltava aos ventos para casa. O inverno pioraria.
E então, após uma longa cerimônia de despedida, você partiu. Enquanto eu me escondia em sombras, reprimindo a dor de ter sido ignorado – um ato natural para um príncipe como você –, eu tentava acreditar em mim. Tentei dizer aos meus desejos silenciados que eu não me importo. Você era um príncipe, eu era herdeiro de um lorde qualquer que há tempos perdera o poder. Tudo se resumia a isso: eu era um homem, você era um príncipe, foi apenas um beijo e eu não me importo. Já tive muito mais do que beijos, amores vindos de mulheres que podem se orgulhar do que fazem. Eu poderia tê-las quando eu quisesse e da forma que eu quisesse (excetuando o fato de que não seriam seus os beijos), mas não faz diferença. Eu não me importo se você marcha para a glória ao qual foi destinado enquanto eu continuo preso aos seus grilhões de gelo. Eu não me importo – mas você sabe que eu sempre fui um mentiroso terrível. Terrível.
Seu pai lhe enviou, filho do inverno, mas ao meu lado deixou o filho mais velho. Quando avistamos as embarcações marcadas com o estandarte branco e azul de sua família, nós os saudamos com espadas e escudos, prontos para nos juntarmos e ele e batalhar pela soberania de seu sangue. Os inimigos batiam às portas, e nós o repelimos – eu, ao lado do seu irmão. Então asas negras nos trouxeram uma notícia dos refúgios do frio, uma carta selada com cera negra indicando o luto por seu pai morto, e eu senti pena de você. Continuamos nossa luta até chegar a notícia de que você havia sido capturado pelo inimigo, e eu senti pena de você. Então, finalmente, quando seu irmão leu a carta que nos anunciava seu casamento com uma princesa do inimigo, uma tentativa de forçar uma aliança entre um reino dominante e um decadente, eu senti pena de você. Tornava-se um refém – assim como eu fui (seu) da sua família por nove anos – e eu sentia pena. Se eu fechasse os olhos, conseguia imaginar seus braços em volta do meu corpo, e seu cabelo escuro entre meus dedos, e o frio em meus lábios – e eu senti pena de você.
Entenda, quando eu lutei ao lado de seu irmão não foi por justiça, ou por vingança, ou sequer por obrigação – quando se é um refém, não existem muitas opções. Era apenas para lhe salvar, de morte em morte, de vitória a vitória, até o fim. Entenda, o meu fim.
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Nós começamos com o frio, quando o seu irmão achou que nove anos era tempo o suficiente para começar a confiar em um refém. Nós começamos com o frio, quando, depois de nove anos, eu tive a oportunidade de voltar para casa e encarar nos olhos de meu pai o desgosto que ele sentiu ao rever o filho que já não era dele. Seu irmão teve a ingênua ideia de achar que eu persuadiria meu pai a se juntar a ele, por fidelidade, e repelir o inimigo. Não se engane: eu gostava de seu irmão tanto quanto gostei de meus irmãos; mas nada muda o fato de que, ao nascer, coseram em minhas vestes um emblema em negro e vermelho, e não um cristal de gelo. Nada muda o fato de que, para sua família, eu era apenas um prisioneiro.
Um prisioneiro que ganhava a liberdade apenas para se prender ainda mais às paredes de uma prisão.
Apesar de simular um prazer em seu jeito de falar, eu sabia que meu pai não estava feliz em me ver. Ele ainda me culpava pela morte dos meus irmãos, uma sucessão de tragédias e de derramamento de sangue. Eu sabia que ele se ressentia por ter sido eles a morrerem nas mãos do Rei, e não eu, o filho mais novo, o filho inútil, o sétimo filho. Havia seis depois de mim, seis que eu poderia ser, seis em meu caminho, cada um melhor que o outro. Eu sou apenas o sétimo filho, mas sete continua sendo um número. Sente ainda pode ser contado, e eu o faria contar. Depois de uma semana seguindo uma farsa – seguindo os planos de seu irmão enquanto, discretamente, eu fazia os meus próprios –, convenci o meu pai de que deveríamos, ao invés de ajudar, aproveitar a fragilidade de seu reino e atacar aonde faltava – o coração de gelo, as portas do inverno. O seu tão precioso castelo de neve estava prestes a ruir.
Meu pai riu de minha tolice. No fundo, eu sabia que ele temia ser massacrado novamente, como aconteceu há nove anos. Eu sabia que, para ele, vingança era um vocábulo fantasioso, longe de nosso poder e distante da realidade. Achava que era estupidez tentar, ele não sabia tentar, mas me concedeu um exército diminuto. Percebi que, se ele não estava contando com os filhos mortos, então ele estava contando comigo. Faça-me contar até sete, seus olhos diziam quando nos despedimos no portão de minha antiga casa, um exército e bandeiras negras e vermelhas como brasa incendiando atrás de mim. Faça-o contar até sete.
E eu o fiz.
Nós começamos com o meu fim, quando tomei o seu castelo para mim; entenda, é o fogo que corre em minhas veias, e não o frio. Nós terminamos com o seu recomeço, quando você perdia o seu último porto-seguro enquanto acreditava finalmente estar a salvo, nós comaçamos com o frio.
Vamos com ele até o fim.
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Como eu poderia ter começado senão com o frio? Eu me lembro perfeitamente bem de sua expressão quando eu invadi seu castelo desprotegido. Vi seus olhos morrendo – depois que você foi capturado por um rei tão cruel quanto nós dois, depois de ter passado por não sei o que atrás dos muros do inimigo, depois que seu pai morreu, depois que seu irmão foi assassinado, depois que a guerra foi perdida e seu exército e amigos, destruídos, depois que você quase morreu não sei quantas vezes enquanto tentava chegar em casa, apenas para descobrir que não havia mais um lugar seguro no mundo para você. Eu percebi o terror refletido em seus olhos quando você me viu, parado ao pé da sua cama, e nós começamos com o frio novamente, eternos dançarinos em um ato cruel de fogo e gelo.
Eu podia ter dito eu não estou te traindo, nunca fui um dos seus. Eu poderia ter dito eu sou feito de fogo, e não de gelo. Eu poderia ter dito estou tomando o seu castelo para mim, diga ao seu povo que eu sou o seu novo senhor. Eu poderia ter dito quem é o refém agora?
Mas, ao invés disso, eu disse você é meu. Então eu soube que eu havia perdido a batalha.
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Eu fui muito cruel de muitas maneiras. Mas é bom você começar a se acostumar com o fato de que, nas histórias, sempre deve haver um herói e um dragão, e por mais que eu tentasse ser o seu herói, eu acabaria sendo o dragão. Uma criatura furiosa, destruindo tudo só porque quer preencher o mundo com aquilo que o preenche – ruínas, meu amor. Eu fui o seu dragão, cuidado com as minhas chamas. Você é feito de gelo, cuidado com as chamas.
Eu nunca pensei que eu iria montar em seu corpo sem resistência e clamar vitória sobre a sua não derrota; mas eu sou o dragão da sua história, eu amo a destruição, eu amo atormentar os que tentam entrar em meu caminho, tomar o que eu quero com fogo e sangue. Eu gosto de ver sofrimento, assistir a dor amenizando a expressão de ódio no rosto dos meus inimigos, observar homens maiores caindo de joelhos e trocando sua honra por qualquer outra coisa, ouvir meu nome horrorizado preso em suas gargantas antes da morte chegar. Eu não imaginei que precisaria ver você assim, eu não imaginei que gostaria de assinar meu nome em sua pele, de ver a água derreter em vermelho.
Nós começamos com o frio – cuidado com as minhas chamas.
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Então alguém contou que você estava vivo e o meu pai não ficou satisfeito com essa notícia. Mandou-me uma mensagem de minha antiga casa dizendo que, se eu lhe matasse naquele momento, os deuses me enrabariam com a fúria de mil tempestades. Ele sempre vai achar que eu sou uma criança estúpida, não importa o quanto eu mostre o contrário, ainda que ele seja o culpado pela desgraça que se abateu sob nossa família. Mas eu já aprendi a não me importar. Então forjamos um plano em que você morreria apenas para o seu povo, mas, aos olhos dos deuses, continuaria vivo.
Eu tive que matá-lo, teoricamente. Cortar metade do seu cabelo, tingi-lo de negro, despir-lhe de suas roupas ornamentadas, arrancar-lhe o seu nome e tudo o que pudesse lembrar que você um dia fora você. Eu sou o seu dragão, destruindo o seu castelo de gelo. No fim, não lhe restava nada; meu objetivo não era que você deixasse de existir, mas que tudo o que sobrasse de si fosse eu, porque eu sou seu, eu sou seu. Diga-me que isso foi o que você sempre quis, que eu fui o que você sempre quis. Diga-me que havia alguma felicidade em você estar de volta ao meu lado, que medo não foi o que brilhou em seus olhos quando eu terminei de arrancar o seu nome de você mesmo. Mas é tudo uma mentira. Eu sou um mentiroso terrível, não consigo mentir nem para mim mesmo. Diga-me, olhando nos meus olhos, que você não me ama. Que você não consegue me amar.
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Sei bem que algumas coisas acontecem mais facilmente no escuro. Mas eu tive medo de fechar os olhos durante a noite e descobrir que tudo o que aconteceu foi apenas um (outro) sonho. Eu tive medo de que, quando eu abrisse os meus olhos na manhã seguinte, os seus braços de brancura estariam desaparecidos, os seus beijos de frio não me pertencessem mais, e todo o inverno de seu toque não passasse de minha imaginação. Eu tive medo de ter feito outra coisa terrível, que você percebesse que eu podia te amar.
Porque eu podia amar você, sua coisa frágil como flocos de neve, bonita como manhã de inverno e cruel como tempestade no escuro. Eu podia amar você tanto quanto eu podia odiar você, e lhe esmagar, e lhe destruir. Eu podia fazer de você algo mais sagrado que os mais altos deuses, podia lhe fazer tão profano quanto um homem pode ser, podia fazer de você o que quisesse. Podia ir a lugares com você, por você, ver o mundo com os seus olhos, apreciar o seu rosto bonito enquanto seu corpo se perdia nas pesadas peles em minha cama – isso eu podia fazer para sempre. Eu podia – e fazia – observar a intensidade filtrada do sol atravessar seu corpo e tinha medo que você pudesse derreter, ou pudesse ser elevado como um anjo que um dia, talvez, você fora. Eu podia fazer isso todos os dias até sentir a desesperada necessidade de proteger você, e de amar de você, e fazer-lhe meu, de novo e de novo e de novo.
Eu podia amar você, meu cristal de gelo, minha nevasca impiedosa. Lá fora o mundo acabava em sangue, fogo e fumaça, mas aqui dentro nós participávamos de um jogo bem mais perigoso, meu príncipe cruel. Olha para o mapa de minha mente e diga-me quanto dos territórios já não são seus. Diga-me que direção tomar nessa encruzilhada, pois nós começamos com o frio, mas não posso carregá-lo para sempre.
Eu não posso ser frio com você para sempre.
___________________
Eu podia entrar no seu quarto um dia e dizer toma, pega o meu coração, só para você se sentir seguro, mas você não iria querer isso. Você não iria querer nada que era meu, mesmo se fossem todos os castelos que eu conquistei, e todas as almas que condenei, e todas as riquezas e raridades que eu roubei. Antes, quando você era um príncipe estúpido e indefeso, você gostava dessas coisas. Todos sabiam o quanto você gostava de castelos, todos sabiam do seu apreço por ouro, todos sabiam que seu único amor era uma espada e um escudo às mãos e a justiça sendo feito perante os seus olhos. E eu poderia lhe dar tudo isso, eu poderia ser seu Rei, seu príncipe, eu poderia trazer um pouco de felicidade para o seu mundo frio.
Mas você não quer isso. Você não quer que eu te ame. Você não quer ser feliz comigo.
Se eu pudesse conter o fluxo do tempo, revirar as areias da ampulheta que nos afoga, eu me esforçaria para te amar quando você era tudo o que eu poderia ter. Quando eu era o (seu) refém na sua casa, quando eu não era o traidor que tomou o seu castelo e levou, como um bônus perverso, quem você era – porque você é meu agora, lembra disso? Eu podia ter feito você me amar naquele dia de inverno quando neve era a única aura que nos rodeava e você tinha uma curiosidade brilhando em seus olhos e eu pensei que aquela era a coisa mais bonita que eu já tinha visto na minha vida. Eu podia ter me apaixonado ali.
Mas eu comecei com o frio, então terei que carregá-lo para sempre.
___________________
Eu sempre me pergunto no que você está pensando quando a sua pele se arrepia desse jeito. Você, encostado na janela, uma silhueta tão frágil quanto vidro, o desenho do rosto tão surrealmente perfeito, a luz fantasmagórica do fogo refletindo tão belamente em sua pele. Você, com o olhar perdido na névoa, como se alguém houvesse roubado alguma coisa aí dentro. As suas mãos nuas se contraem e vocês as fecha em punho, e toda a sua pele se arrepia, o espetáculo mais incrível que eu já presenciei. Eu não sei os horrores que você passou enquanto foi refém dos inimigos, mas você podia me contar. Você podia me contar, que eu ouviria, e o abraçaria e o beijaria e passaria minhas mãos pelo seu cabelo negro. Eu desejaria que os seus horrores fossem meus, porque só de ver os seus olhos vermelhos e sem vida eu tenho vontade de juntar todas as forças que tenho e marchar contra os que lhe fizeram mal. Guerrear por um homem que já é meu.
A única coisa que lhe faria bem nessa vida.
Você não me fala das suas dores, mas eu puxo os seus ombros e encosto o seu corpo no meu porque isso é o mínimo que eu posso fazer por você. Você não me abraça de volta, você nunca me abraça de volta, mas eu sei que isso é atuação. Você é uma atuação que não me engana mais. Você é tão cruel quanto eu gosto de pensar que sou, e você vai me lançar com um de seus movimentos leves e vai me olhar com uma expressão de gelo antes de pedir licença. Você não me engana mais.
Mas pode continuar atuando, que eu lhe devo isso. Pode continuar fingindo que você me odeia mais do que ama estar longe de mim. Pode continuar sua atuação até mesmo quando as luzes estiverem apagadas. Pode me beijar como se fosse uma obrigação, continua a abafar os seus gemidos – pelos deuses, você geme como um animal excitado – com os lábios em meu pescoço, continua se vingando quando puxa os meus cabelos, morde os meus lábios e arranha as minhas costas como se eu não gostasse de ser punido dessa forma. Continua, como se você não soubesse o efeito que você tem em mim. Continua com o frio quando eu sei que você não é. Continua fingindo que eu nunca poderei te fazer bem, que eu não sou o que você sempre quis.
Continua, porque eu continuarei fingindo que não estou apaixonado.
___________________
Então eu decidi lhe dar algo que não fosse o meu desespero ou a minha necessidade. Ouso dizer que o que eu te dei foi algo muito próximo ao amor – posso até ter atirado o meu coração aos seus pés, naquela noite. O tempo esfriava e eu chamei seu novo nome em meu quarto e você apareceu com olhos vermelhos – enquanto o tempo estava azul como frio que te concebeu. Minha mão passeou em seu cabelo enquanto eu sorri, e você me olhou como se eu estivesse louco, como se algo muito errado fosse acontecer em seguida, como se aquela fosse ser outra noite qualquer de humilhação. Eu sorri, porque queria lhe dar algo diferente, e então beijei seus lábios com adoração, procurando em meio ao inverno de seu toque aquela tarde de frio em que apostamos corridas de cavalo e você me beijou porque eu ganhei, e você era o meu príncipe e eu o seu vassalo, e você era o meu captor e eu era o seu refém, e me diz qual é a diferença agora?
Eu não consigo mais fingir, eu não consigo aguentar esse frio para sempre. Mas eu avisei, eu sou feito de fogo, e não de gelo, então, por favor, não me faz aguentar esse frio para sempre.
O seu toque ainda era gelado quando eu terminei de lhe despir. Então eu te beijei até que os seus braços estivessem em volta do meu corpo e seu peito estivesse incendiando com intensidade o suficiente para me fazer parar de pensar. Você é meu, eu pensei, e foi exatamente isso que eu disse quando tomei o seu castelo, talvez eu tenha dito isso aquela noite também. Você é meu, você é meu, você é meu, eu dizia mesmo sabendo que você não queria ser. Mas eu também não queria que você fosse obrigado a ser, então tudo bem. Você é meu, seus gemidos sufocados entre os nosso lábios não queriam ser, então tudo bem. Você é meu, seu rosto contorcido de prazer suplicante escondido por suor não queria ser, então tudo bem. Você é meu, sua dança errática e trôpega em compasso com a minha não queria ser, então tudo bem.
Eu envolvi o seu corpo com os meus braços e em uma voz patética eu disse que eu te amo, eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo, porque eu não tinha mais nada para falar, e eu continuava dizendo até que eu esqueci o significado das palavras e tudo não fazia o mínimo de sentido, então já não está mais tudo bem. Porque eu sei que você queria o frio, mas isso eu não podia prometer porque, eu avisei, eu sou feito de fogo; eu avisei que não aguentaria ter que carregar o seu frio para sempre. A culpa é minha, mas também não é, porque eu sou o seu dragão, mas não quero mais ser.
___________________
Eu tive medo de acordar durante a manhã novamente. Eu senti o seu corpo quente ao meu lado mas eu não quis abrir os olhos, porque você sabia que eu não era cruel o suficiente, porque você sabia que eu o amava, e porque não era isso o que você queria. Eu tive medo de abrir os olhos, de ter feito outra coisa terrível, de ter estragado tudo – que não era muito.
A luz que invadia o quarto era filtrada e a poeira que preenchia o nosso vazio me lembrou vidro partido, e não tive coragem de olhar para você. Mas seus olhos estavam abertos e brilhavam com a iluminação do sol e foi impossível não olhá-los. Você se moveu, o corpo ainda lento por causa do sono, e a sua mão percorreu o meu braço e foi brincar em meus dedos. Seus lábios se curvaram em um sorriso tênue e seus olhos fecharam como se você pensasse não foi um sonho, afinal, e como aquilo era bom demais para ser verdade eu envolvi sua cintura com os meus braços e pousei meus lábios em sua têmpora, e você me envolveu com sua respiração quente e lenta e eu não tinha estragado tudo.
Afinal, quem começou com o frio fui eu, e você nunca disse que eu tinha que ser o dragão da sua história, não é mesmo?
Elena- Dead Flower
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Re: Winter
Muito linda e bem escrita essa fic. Me senti na mente do eu-lírico, e achei incrível como do começo ao fim você fez uso de metáforas, escrevendo poucas passagens diretamente. Ainda assim, era como se tudo descrito na fic me aparecesse nitidamente em imagens.
Também achei interessante a forma como você quebrou com a cronologia dos acontecimentos, indo e voltando no tempo na primeira metade da história.
Estou admirada, você tem muito talento. E me exigiu atenção redobrada. Sua forma de escrever, os personagens, as investidas de um, a atuação e a entrega do outro, tudo isso me lembrou um pouco uma fic que li uma vez, chamada Meu Destino é Pecar, da Astasia. Recomendo, pode ser que você goste ;]
Também achei interessante a forma como você quebrou com a cronologia dos acontecimentos, indo e voltando no tempo na primeira metade da história.
Estou admirada, você tem muito talento. E me exigiu atenção redobrada. Sua forma de escrever, os personagens, as investidas de um, a atuação e a entrega do outro, tudo isso me lembrou um pouco uma fic que li uma vez, chamada Meu Destino é Pecar, da Astasia. Recomendo, pode ser que você goste ;]
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