Vintage Hollywood
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Vintage Hollywood
Créditos: Trechos dessa fic foram baseados em reais biografias, entrevistas, músicas e eventos envolvendo pelo menos cinco ou seis personalidades famosas diferentes. Houve bastante pesquisa e leitura, mas a história foi escrita por mim, apesar de conter pequenos trechos de reais elementos e conceitos.
Askel Nicolae Bengt Ricco (Nova Iorque, 21 de Junho de 1986), mais conhecido pelo nome artístico Ricco, é um cantor norte-americano. Alto, loiro, belo e musculoso. Cabelos penteados como nos tempos da brilhantina. Sapatos lustrosos. Roupas impecavelmente negras.
Ele sobe ao palco.
Microfone antigo. Aplausos e flashs de câmera.
Ricco é conhecido por seu vocal carregado de melancólica sensualidade. Admirável por sua música nostálgica, cujos mínimos detalhes revestem-se de uma riqueza e beleza incomparável, que nos leva a resgatar, de dentro de nós, ecos de uma época perdida no tempo e espaço. Admirável também por sua perseverança, que trouxe ao mundo todas as nuances de um tempo que já se foi, desafiando as tendências da música contemporânea com muita originalidade e personalidade. Admirável, mais uma vez, por ser pouco conhecido, e, ainda assim, ter um público tão fiel que este se mostra capaz de afirmar com convicção que nunca deixará de amar o seu belo trabalho.
Para o presidente, ele canta:
Ricco sorri.
Nosso universo não é um local criado para vivermos, é um local que criamos para viver. Askel Nicolae vivia num mundo de limusines polidas, fotos polaroid, refrigerantes e pirulitos. Ricco, em suas gravações, estava o tempo todo rodeado por instrumentos contemporâneos e estúdios modernos, mas sempre se sentia como antiga uma estrela do rádio. Se sua vida fosse um filme, ele seria um ícone do cinema mudo. Tudo aquilo que o cercava cheirava como Vintage Hollywood.
Entrevista para o programa Chronologics.
Chronologics: Como você se sente sabendo que seu trabalho foi reconhecido à ponto de te chamarem entre todos os cantores americanos para cantar o parabéns ao presidente?
Ricco: Só me escolheram porque faço aniversário no mesmo dia que ele.
Chronologics: Como você pretende comemorar hoje seu aniversário?
Ricco: Estou dando uma festa na minha casa e será bem grande.
Chronologics: Você parece animado. Quer dizer, você está acostumado a ganhar Grammys desde o início de sua carreira. Como lida com o fato de ter perdido em todas as categorias na premiação que ocorreu justo na véspera de seu aniversário? Quando você aprendeu a lidar com o desamor?
Ricco: Quando aprendi a lidar com o desamor? Eu fui indicado a várias categorias no Grammy esse ano. Posso não ter vencido, mas não creio que todas essas indicações significam “desamor”. Bom, de qualquer maneira, depois que isso acontece algumas vezes e você percebe que vai acordar e a vida vai continuar, você aprende a não levar tanto a sério... Porque ser popular é ótimo, mas você não pode se apegar a isso porque não vai ser sempre assim, principalmente sendo um artista crítico, provocativo ou pioneiro em algum sentido ou forma. Você não será sempre popular. Acho que é mais importante se concentrar no conceito global e não se ater aos detalhes como: “Meu filme é um tremendo sucesso, então sou uma pessoa incrível.” Isto é, você não pode ficar preso a coisas assim. Todos querem ter sucesso, mas é mais importante ser feliz, ser uma boa pessoa.
Chronologics: Você foi a primeira mega estrela da chamada Vintage Hollywood. Você surge e cresce com o satélite, videoclip, mega shows e Internet. É a interatividade: Você provoca, o público reage. É difícil depender sempre da aprovação de todos?
Ricco: Não dependo.
Chronologics: Mas se eles não gostam de algum de seus discos, é um problema. Os prêmios podem ser vistos como um reflexo disso.
Ricco: Eu já passei por isso, tive discos que as pessoas não gostaram. Tudo bem. Como compositor ou cantor, eu não vou para o estúdio compor esperando que o público aprove. Não posso pensar assim.
Chronologics: Há alguns dias, entrevistei Bobby Beverley, membro da boyband IVYXXO, ganhadores do Grammy de Melhor Álbum desse ano. Após perguntarmos a ele o que pensava sobre você ser o representante do futuro da música, ele se disse decepcionado pois você teria cedido ao marketing...
Ricco: Estava decepcionado por que??? Eu o quê??
Chronologics: Bobby insinuou que você fez de tudo para levar o prêmio, que eles acabaram vencendo. Você “cedeu” ao marketing... Foi o que ele disse.
Ricco: Eu cedi ao marketing? Acho que ele ficou chateado, pois jamais poderá ser um artista de verdade, já que nunca mostrará quem realmente é fazendo parte de uma estúpida boyband.
Chronologics: O problema foi esse?
Ricco: Acho que sim. Ele pode ser bem desagradável. Realmente, pessoas infelizes são desagradáveis.
Ricco usou uma espátula para retirar o bife da frigideira e depositá-lo em seu prato sobre a mesa. Na boca, um cigarro. Cuspiu fumaça enquanto se sentava e espetou a carne com o garfo metálico.
Eram três horas de uma tarde fria e cinzenta. Keme Sicheii, o mordomo galês da esplendorosa mansão, caminhou até ele e disse:
– Senhor Nicolae. Há um jovem lá fora que gostaria de falar com o senhor.
– Diga que não estou.
Ricco vestia uma camiseta velha e uma calça de moletom cinza. Estava à vontade em sua casa e não queria ver ninguém.
– Mas senhor, esse jovem é Bobby Beverley.
Aquele nome causou um repentino furor em Ricco, que agora mastigava um pedaço de bife.
– Diga que não estou. – repetiu ele decididamente enquanto cortava a carne com violência, como se cortasse o pescoço de Bobby.
– Creio que a entrevista hoje cedo o deixou muito abalado.
– Sim, deixou. Estou estressado, não quero mais festa. Cancele tudo o que foi programado para hoje. – ele falava de boca cheia enquanto cortava mais carne.
– Mas senhor, isso é absurdo. Todos os convidados confirmaram a presença ansiosamente após o parabéns ao presidente. Muitas pessoas importantes estarão aqui.
– Pessoas importantes como Bobby Beverley? Aliás, detesto esse nome. O nome dele de verdade é Robert, não é? É disso que irei chamá-lo daqui pra frente. Robert Beverley, o ganhador dos Grammys. Muito tocante. Não quero essa gente aqui, começando por esse garoto. Ele que vá dar entrevistas me difamando ao invés de vir me perturbar justo no dia do meu aniversário e na minha hora de descanso.
– O senhor gostaria de tomar um calmante?
– Eu gostaria é que você sumisse, Keme, só isso. Seria possível?
Diante do olhar inquisidor de seu chefe, Keme Sicheii se virou e afastou-se.
Ricco se levantou e caminhou pelo piso de madeira até chegar à varanda. Colocou suas mãos no parapeito e admirou seu belo jardim estilo europeu enquanto sentia a brisa gelada. Era um belo dia cinza. Durante alguns instantes ficou decepcionado consigo mesmo ao relembrar as coisas que lhe foram ditas na entrevista. Ficou se perguntando por que é que se importava, já que sabia que era melhor que aquele garoto.
O que ele faz não é arte. Boybands são máquinas de dinheiro e nada mais que isso.
O astro bufou levemente. Estava irritado com o fato de ter perdido para alguém que considerava inferior a ele. Bobby não cantava, Bobby não compunha, Bobby era uma fantoche na mão de seus executivos (se alguém tivesse que ser considerado gênio, que fossem eles).
Ricco estava tão distraído que demorou a notar que Bobby caminhava em sua direção, vindo dos jardins.
Jeans azul. Camisa branca. Os olhos de Ricco queimaram ao ver o garoto saltando os poucos degraus que levavam até a varanda e, ofegante, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
– Ricco. – Bobby tinha um sorriso no rosto quando o outro segurou brevemente a mão dele, fazendo questão de apertá-la com firmeza como se quisesse demonstrar superioridade.
– Robert. É um prazer vê-lo.
Ricco o encarou com um olhar mortal. Robert Beverley era do tipo que estava sempre com um sorriso no rosto e naquele momento não era diferente. O jovem possuía cabelos negros e pele clara. Seus olhos também eram sonhadores, donos de uma esperança inocente, juvenil. Era quase tão alto quanto Ricco, mas se parecia muito mais com um típico colegial saído de um seriado teen do que com um general alemão vindo de um filme sobre a segunda guerra. Havia um abismo de diferenças entre eles, como se não pertencessem ao mesmo lugar.
– Aquilo que te disseram... Aquilo é mentira. – explicou o rapaz com uma pitada de timidez.
– Tudo bem. – sorriu Askel. – Eu já estou acostumado com esse tipo de coisa. Não se preocupe com isso.
– Eu sei que você se importa.
Bobby o olhou nos olhos e recebeu de volta um olhar de desdém. Então complementou:
– Quer dizer, qualquer pessoa se importaria. Eu ficaria me sentindo muito mal se alguém falasse uma coisa assim de mim.
– Então você deve se sentir mal o tempo todo. Pois é tudo o que dizem sobre você.
– Do que está falando?
– Você faz parte de um grupo cheio de rostinhos bonitos que foi montado para gerar dinheiro para sua agência. Acha mesmo que alguém te leva a sério? Como pode dizer pra alguém que eu... Como se diz? “Cedi ao marketing”, sendo que você foi treinado pra isso? Isso é tudo o que você faz o tempo todo. Engana as pessoas com sentimentos falsos, música falsa, arte falsa, se é que isso que vocês fazem possa ser chamado de arte.
– Uau.
Bobby sorriu com tristeza. Sentia vontade de chorar.
– Eu gostaria que você fosse embora agora. Eu realmente quero muito descansar.
Ricco pegou seu maço de cigarros e colocou um deles na boca. Robert o puxou com os dedos antes que Askel pudesse acender o isqueiro.
– Por favor, não faça isso perto de mim. – falou Bobby inocentemente, mas logo se arrependeu. Então devolveu o cigarro para Ricco, que não estendeu a mão para pegá-lo, apenas riu de deboche. Estava furioso.
– Vá embora da minha casa.
– Eu ainda não te dei o meu presente de aniversário.
– Eu não quero seu presente de aniversário, querido. Quero só que você vá embora daqui, aliás, nem sei como foi que você conseguiu entrar, pois mandei que não o deixassem passar do portão.
– Eu pulei o muro. – Bobby escondeu as mãos nos bolsos da calça e mordeu o lábio inferior para tentar disfarçar o nervosismo. – Será que a gente pode ir até o seu quarto? Eu poderia te mostrar tudo lá.
– O que você está querendo dizer com isso? Por um acaso está querendo me comover com seu comportamento infantilizado para que eu o convide para minha festa? Acha que de alguma forma meu comentário na entrevista possa ter sido prejudicial à sua carreira e agora quer fazer as pazes com o... Como é que vocês me chamam mesmo...? Rei da Vintage Hollywood?
Bobby abaixou a cabeça e riu baixinho.
– Não, não tem nada a ver com isso. Por favor, você poderia me convidar pra entrar?
Ricco respirou fundo. O garoto lhe deixara curioso.
– Venha.
O homem abriu a porta de vidro que levava até a sala. Em seguida, indicou a escada para que Bobby subisse e foi logo atrás dele.
Quando chegaram ao quarto, Ricco trancou a porta e sentou-se sobre a cama. Bobby caminhou até o outro lado do cômodo para admirar a vista do jardim e da piscina. Os reflexos aquáticos chegavam até lá encima. Robert tocou o vidro, encantado.
– Muito bonito.
– O que você queria me mostrar?
O rapaz caminhou até Askel um pouco sem jeito e foi tirando uma porção de tralhas do bolso da calça. Colocou sobre a cama um punhado de fotos, um pen drive e disco prateado.
– Eu não comprei nenhum presente porque você não me convidou para a festa. – disse Bobby passando os dedos por uma das fotos. – Mas eu tive que vir aqui depois de ver a entrevista na TV. Fiquei muito triste com o que foi falado porque aquilo tudo é uma mentira. A prova do que eu digo em parte estão nessas fotos e elas são muito importantes pra mim. Por isso eu queria dá-las para você como um presente.
Ricco tomou uma das fotos das mãos dele. Era uma foto dos dois juntos, um ao lado do outro. Ricco estava com a mão sobre o ombro de Robert e os dois sorriam para o fotógrafo.
– Isso é uma montagem?
Bobby riu.
– Não. Somos nós dois mesmo. Essa foto foi tirada tem dois anos. O IVYXXO ainda nem existia e os Grammys era você quem ganhava.
Ricco riu também. Não sabia o que dizer.
– Você estava muito diferente.
Mas na verdade não estava. Bobby continuava com o mesmo sorriso cativante e gentil. Parecia um fã muito satisfeito por conseguir uma foto com seu maior ídolo. Ele entregou as outras fotos à Ricco, que sentiu uma doce nostalgia ao relembrar-se de antigos shows que fizera. Pelo que as fotos mostravam, Robert o acompanhava há muito tempo. Havia fotos de turnês feitas há anos e eles apareciam juntos em pelo menos três delas. Mas Ricco jamais teria se lembrado. Já havia tirado fotos com milhares de fãs. Depois que Bobby e sua boyband entraram para o show business, ambos passaram a ser concorrentes, nada mais que isso. Pelo menos era assim que Ricco enxergava a todos os outros artistas até aquele momento. Como inimigos, como pessoas para disputar prestígios, prêmios, elogios e reconhecimento.
– Eu sou seu maior fã. – confessou Bobby tristemente enquanto lágrimas desciam pelos seus olhos. – Quando eu escutei você falando sobre mim daquela maneira eu fiquei meio que “eu não acredito nisso”.
Ele sorriu e Ricco não entendeu como ele podia sorrir naquele momento.
– Eu só queria entrar pela tela da TV e te avisar: “Não, eu nunca falei mal de você, eu nunca falaria”. Afinal, você mesmo sabe, eu não sou um nada no mundo da música e morrerei feliz mesmo sabendo disso. Eu não digo isso para que você sinta pena de mim ou se sinta culpado por ter me dito isso. É a verdade, só. – ele enxugou as lágrimas e fungou. – Eu não tenho medo da verdade, mas tenho muito medo da mentira e do que inventam. Eles inventaram uma rixa entre nós que não existe e que nunca vai existir, mesmo que você me odeie agora. Bem, eu não creio que depois disso você vá mesmo me odiar. – ele riu consigo mesmo mais uma vez. – Mas é isso aí, Askel. Eu posso te chamar assim, não é?
Ricco enxugou as lágrimas dele com o polegar enquanto ria junto de seu, até então, inimigo.
– Me desculpe.
Askel o abraçou enquanto ele chorava e sorria ao mesmo tempo.
– Eu não consigo descrever como é estar com você agora, Askel. – Bobby o apertou com toda a sua força. – Eu sonhei tanto com esse momento. Eu te amo, eu te amo muito. Você é um ídolo pra mim. Minhas roupas, minha voz, em tudo eu me inspiro em você, sabe? Um dia eu ainda espero conseguir chegar a um pouco daquilo que você chegou. Você é o cara, você é demais.
– Shhh... Não precisa chorar, garoto. – Askel o abraçava como já fizera com muitos fãs que se emocionaram com sua presença. Bobby Beverley, o vencedor dos Grammys, era apenas um garoto como qualquer outro. – O que você faz da vida, ein? Ouvi dizer que você está em uma faculdade de música.
– Faculdade? – Bobby soltou outra risada gostosa em meio ao choro. – Eu ainda estou no ensino médio.
– Você tá falando sério?
– É.
Eles ficaram em silêncio enquanto Askel acariciava suavemente os cabelos de Robert.
– Eu tenho que te mostrar o DVD! – repentinamente, Bobby se levantou da cama e pegou o disco que deixara sobre a mesma. – Você não é do tipo que só tem VHS e fita cassete em casa, não é? – ele arqueou uma sobrancelha. – Você sabe, é o que todo mundo pensa, que você vive na velharia.
Ricco sorriu.
– Mais ou menos. Tem um DVD ali. – ele apontou.
Assistiram juntos ao vídeo. Era uma gravação antiga de Ricco cantando no Circle in the Square Theatre, na Broadway. O vídeo era chuviscado e em preto e branco.
– Você quem gravou?
– Sim, eu tinha 14 anos. Esses efeitos fui eu quem colocou no vídeo. – sorriu ele. – Combinam com você, não combinam?
Askel trouxe a cabeça de Bobby para seu ombro, envolvendo-o.
– Eu nunca iria imaginar... Logo você...
Ricco abriu um grande sorriso que era um misto de incredulidade com satisfação. Sentia-se aliviado de alguma forma.
– Você não faz idéia do quanto eu te amo.
Bobby deslizou a mão até o peito grande e musculoso de Askel. Observava cada detalhe de seu amado ídolo sob a luz branca daquela tarde acinzentada e silenciosa.
Ricco tocou a ingênua e sorridente face de Bobby. Ele parecia ser exatamente aquilo que demonstrava ser na TV e em seus clipes, conquistando garotas de todo o país com seu carisma inegável e beleza cativante. Ele era do tipo de rapaz que poderia levar a felicidade e atrair a simpatia até mesmo dos corações mais duros. Ricco admirou-o por isso, pois nunca tivera a mesma capacidade. Sua música era triste, nostálgica, carregada de uma sensualidade depressiva. Ele não cantava para arrancar sorrisos e sim para arrancar lágrimas. Sua melodia causava inexplicável saudade e melancólicas emoções naqueles que as escutavam.
Bobby era diferente. Diferente em tudo. Bobby lhe causava calor e sentimentos mornos que por muito tempo Ricco evitara sentir. Por isso o segurava. Sua pele era macia e atraente para ele. Gostava da sensação de poder tocá-lo e sentir de perto o cheiro de sua inocência quase infantil.
Askel segurou o rosto de Robert, apoiando-o no colchão da cama. No vídeo, a melodia lasciva e lastimosa tocava enquanto o real Askel pressionava seus lábios contra os lábios avermelhados de Bobby. Sua boca era macia e sua língua tinha gosto doce. Quando se afastaram (num barulho de estalo molhado), Robert olhou nos olhos de Askel e disse:
– O que você está fazendo?
– Eu pensei que você me amava.
– Eu amo. – Bobby sorriu, seus lábios molhados haviam ficado ainda mais avermelhados depois do beijo. – Mas não desse jeito.
O rapaz se levantou da almofada onde eles haviam se sentado para assistirem ao DVD e Ricco se levantou junto dele.
– Me desculpe.
– Tudo bem. – respondeu Bobby envergonhado. – Me dá um abraço antes de eu ir embora.
Quando seus corpos se uniram, Askel se sentiu tomado por eletricidade. A pele levemente rosada de Bobby o fazia ter vontade de tocá-lo cada vez mais, e assim o fez...
Altas roseiras do jardim decorando a paisagem por trás do vidro da janela. Nuvens cinzentas escurecidas pela tarde que chegava ao fim. Raio de luz. Dedos encostando em lábios. Chuviscos e melodias tocando na TV. Estalos molhados. Corpos que se encontram e juntos selam almas.
Askel pressionou o corpo de Bobby enquanto o beijava. Toque suave, delicado, sexy. Beijo no pescoço. Pelos que se arrepiam, corpo treme. Risadinha.
– Eu preciso ir.
Sorriso que ilumina.
– Eu acho que realizei o sonho de todas as garotas desse planeta. Beijei Bobby Beverley, o vocal principal do IVYXXO, a primeira boyband a vencer um Grammy.
Bobby segurava os ombros largos de Askel Nicolae. Acariciava-os sobre o tecido da camiseta.
– Você não devia ser tão obcecado pelos Grammys.
– Eu não sou.
Beijo de língua. Longo. Demorado.
Askel deslizou as mãos até as nádegas carnudas de Robert.
– Como você pode ser tão lindo? – agora Bobby segurava os braços dele. – Eu sofro por anos na academia pra ter um corpo desses.
– Beije-me.
Lábios se juntaram num beijo carinhoso e ardente. As línguas dançaram juntas, saboreando uma a outra. Ereções se encontraram sob o jeans e o moletom.
A mão branca de Askel apertou o vão do bumbum de Robert, forçando o dedo médio contra seu ânus.
Bobby alisava os músculos de Ricco, deixando marcas vermelhas em sua pele clara, marcas estas que surgiam suavemente sobre a pressão do toque.
O beijo acabou. Eles se olharam, admirando a beleza e o charme um do outro.
– Quem diria.
Risinhos.
– Pois é. Quem diria.
– Você poderia me levar até a porta?
– Claro.
Quando Askel se virou para caminhar até a porta, Bobby abraçou-o por trás, roçou o pênis duro em seu traseiro e deliciou-se com a fartura de sensualidade que transbordava do corpo dele.
Askel deixou que o rapaz se divertisse esfregando-se em seu corpo cuidadosamente construído com muito esforço ao longo dos anos. Imaginou como devia ser gostoso tocá-lo, mesmo para outro homem.
Askel Nicolae virou-se novamente para beijá-lo. Em seguida, depositou sobre ele todo o seu peso, fazendo com que ambos caíssem sobre o colchão macio.
Entreolharam-se, um sobre o outro. O vento balançou as rosas por trás do vidro. Pétalas voaram com o vento. Um beijo fervoroso aconteceu.
Askel apertou as coxas de Beverley sobre seu jeans apertado. Bobby usou-as para envolver seu amado enquanto segurava sua bunda com lascívia. O rapaz sentiu a cueca ficar cada vez menor e levemente úmida onde se encontrava a cabeça do pênis.
– Case-se comigo. – sussurrou Nicolae ao seu ouvido, arrancando-lhe um riso ofegante que foi abafado por outro beijo delicioso.
As mãos de Bobby desceram por costas malhadas.
– Repita esse pedido quando eu sair do Ensino Médio.
Suas faces acariciaram uma a outra. Puderam ouvir o som de suas respirações.
Askel afundou a cabeça no ombro de Bobby, que fez carinho em seus cabelos, e assim ficaram por algum tempo.
Gotas de chuva se chocaram contra o vidro da janela.
Askel abriu a pasta do pen drive e colocou o vídeo para executar. Era o último dos presentes.
O Bobby da tela do pc segurou um antigo microfone e cantou para uma platéia de seis pessoas (os membros do IVYXXO):
Rindo, junto dele, Askel beijou o real Robert Beverley que, ao seu lado, corava envergonhado.
Askel Nicolae Bengt Ricco (Nova Iorque, 21 de Junho de 1986), mais conhecido pelo nome artístico Ricco, é um cantor norte-americano. Alto, loiro, belo e musculoso. Cabelos penteados como nos tempos da brilhantina. Sapatos lustrosos. Roupas impecavelmente negras.
Ele sobe ao palco.
Microfone antigo. Aplausos e flashs de câmera.
Ricco é conhecido por seu vocal carregado de melancólica sensualidade. Admirável por sua música nostálgica, cujos mínimos detalhes revestem-se de uma riqueza e beleza incomparável, que nos leva a resgatar, de dentro de nós, ecos de uma época perdida no tempo e espaço. Admirável também por sua perseverança, que trouxe ao mundo todas as nuances de um tempo que já se foi, desafiando as tendências da música contemporânea com muita originalidade e personalidade. Admirável, mais uma vez, por ser pouco conhecido, e, ainda assim, ter um público tão fiel que este se mostra capaz de afirmar com convicção que nunca deixará de amar o seu belo trabalho.
Para o presidente, ele canta:
Parabéns pra você,
Parabéns pra você,
Parabéns pra você, Senhor Presidente,
Parabéns pra você.
Obrigado, Senhor Presidente
Por todas as coisas que você fez
Pelas batalhas que você venceu
Pela maneira como você lida com a U.S. Steel
E com as nossas toneladas de problemas
Nós agradecemos ao senhor, muito mesmo.
Todo mundo, Parabéns!
Feliz aniversário para você e para mim.
Parabéns pra você,
Parabéns pra você, Senhor Presidente,
Parabéns pra você.
Obrigado, Senhor Presidente
Por todas as coisas que você fez
Pelas batalhas que você venceu
Pela maneira como você lida com a U.S. Steel
E com as nossas toneladas de problemas
Nós agradecemos ao senhor, muito mesmo.
Todo mundo, Parabéns!
Feliz aniversário para você e para mim.
Ricco sorri.
Nosso universo não é um local criado para vivermos, é um local que criamos para viver. Askel Nicolae vivia num mundo de limusines polidas, fotos polaroid, refrigerantes e pirulitos. Ricco, em suas gravações, estava o tempo todo rodeado por instrumentos contemporâneos e estúdios modernos, mas sempre se sentia como antiga uma estrela do rádio. Se sua vida fosse um filme, ele seria um ícone do cinema mudo. Tudo aquilo que o cercava cheirava como Vintage Hollywood.
Entrevista para o programa Chronologics.
Chronologics: Como você se sente sabendo que seu trabalho foi reconhecido à ponto de te chamarem entre todos os cantores americanos para cantar o parabéns ao presidente?
Ricco: Só me escolheram porque faço aniversário no mesmo dia que ele.
Chronologics: Como você pretende comemorar hoje seu aniversário?
Ricco: Estou dando uma festa na minha casa e será bem grande.
Chronologics: Você parece animado. Quer dizer, você está acostumado a ganhar Grammys desde o início de sua carreira. Como lida com o fato de ter perdido em todas as categorias na premiação que ocorreu justo na véspera de seu aniversário? Quando você aprendeu a lidar com o desamor?
Ricco: Quando aprendi a lidar com o desamor? Eu fui indicado a várias categorias no Grammy esse ano. Posso não ter vencido, mas não creio que todas essas indicações significam “desamor”. Bom, de qualquer maneira, depois que isso acontece algumas vezes e você percebe que vai acordar e a vida vai continuar, você aprende a não levar tanto a sério... Porque ser popular é ótimo, mas você não pode se apegar a isso porque não vai ser sempre assim, principalmente sendo um artista crítico, provocativo ou pioneiro em algum sentido ou forma. Você não será sempre popular. Acho que é mais importante se concentrar no conceito global e não se ater aos detalhes como: “Meu filme é um tremendo sucesso, então sou uma pessoa incrível.” Isto é, você não pode ficar preso a coisas assim. Todos querem ter sucesso, mas é mais importante ser feliz, ser uma boa pessoa.
Chronologics: Você foi a primeira mega estrela da chamada Vintage Hollywood. Você surge e cresce com o satélite, videoclip, mega shows e Internet. É a interatividade: Você provoca, o público reage. É difícil depender sempre da aprovação de todos?
Ricco: Não dependo.
Chronologics: Mas se eles não gostam de algum de seus discos, é um problema. Os prêmios podem ser vistos como um reflexo disso.
Ricco: Eu já passei por isso, tive discos que as pessoas não gostaram. Tudo bem. Como compositor ou cantor, eu não vou para o estúdio compor esperando que o público aprove. Não posso pensar assim.
Chronologics: Há alguns dias, entrevistei Bobby Beverley, membro da boyband IVYXXO, ganhadores do Grammy de Melhor Álbum desse ano. Após perguntarmos a ele o que pensava sobre você ser o representante do futuro da música, ele se disse decepcionado pois você teria cedido ao marketing...
Ricco: Estava decepcionado por que??? Eu o quê??
Chronologics: Bobby insinuou que você fez de tudo para levar o prêmio, que eles acabaram vencendo. Você “cedeu” ao marketing... Foi o que ele disse.
Ricco: Eu cedi ao marketing? Acho que ele ficou chateado, pois jamais poderá ser um artista de verdade, já que nunca mostrará quem realmente é fazendo parte de uma estúpida boyband.
Chronologics: O problema foi esse?
Ricco: Acho que sim. Ele pode ser bem desagradável. Realmente, pessoas infelizes são desagradáveis.
Ricco usou uma espátula para retirar o bife da frigideira e depositá-lo em seu prato sobre a mesa. Na boca, um cigarro. Cuspiu fumaça enquanto se sentava e espetou a carne com o garfo metálico.
Eram três horas de uma tarde fria e cinzenta. Keme Sicheii, o mordomo galês da esplendorosa mansão, caminhou até ele e disse:
– Senhor Nicolae. Há um jovem lá fora que gostaria de falar com o senhor.
– Diga que não estou.
Ricco vestia uma camiseta velha e uma calça de moletom cinza. Estava à vontade em sua casa e não queria ver ninguém.
– Mas senhor, esse jovem é Bobby Beverley.
Aquele nome causou um repentino furor em Ricco, que agora mastigava um pedaço de bife.
– Diga que não estou. – repetiu ele decididamente enquanto cortava a carne com violência, como se cortasse o pescoço de Bobby.
– Creio que a entrevista hoje cedo o deixou muito abalado.
– Sim, deixou. Estou estressado, não quero mais festa. Cancele tudo o que foi programado para hoje. – ele falava de boca cheia enquanto cortava mais carne.
– Mas senhor, isso é absurdo. Todos os convidados confirmaram a presença ansiosamente após o parabéns ao presidente. Muitas pessoas importantes estarão aqui.
– Pessoas importantes como Bobby Beverley? Aliás, detesto esse nome. O nome dele de verdade é Robert, não é? É disso que irei chamá-lo daqui pra frente. Robert Beverley, o ganhador dos Grammys. Muito tocante. Não quero essa gente aqui, começando por esse garoto. Ele que vá dar entrevistas me difamando ao invés de vir me perturbar justo no dia do meu aniversário e na minha hora de descanso.
– O senhor gostaria de tomar um calmante?
– Eu gostaria é que você sumisse, Keme, só isso. Seria possível?
Diante do olhar inquisidor de seu chefe, Keme Sicheii se virou e afastou-se.
Ricco se levantou e caminhou pelo piso de madeira até chegar à varanda. Colocou suas mãos no parapeito e admirou seu belo jardim estilo europeu enquanto sentia a brisa gelada. Era um belo dia cinza. Durante alguns instantes ficou decepcionado consigo mesmo ao relembrar as coisas que lhe foram ditas na entrevista. Ficou se perguntando por que é que se importava, já que sabia que era melhor que aquele garoto.
O que ele faz não é arte. Boybands são máquinas de dinheiro e nada mais que isso.
O astro bufou levemente. Estava irritado com o fato de ter perdido para alguém que considerava inferior a ele. Bobby não cantava, Bobby não compunha, Bobby era uma fantoche na mão de seus executivos (se alguém tivesse que ser considerado gênio, que fossem eles).
Ricco estava tão distraído que demorou a notar que Bobby caminhava em sua direção, vindo dos jardins.
Jeans azul. Camisa branca. Os olhos de Ricco queimaram ao ver o garoto saltando os poucos degraus que levavam até a varanda e, ofegante, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
– Ricco. – Bobby tinha um sorriso no rosto quando o outro segurou brevemente a mão dele, fazendo questão de apertá-la com firmeza como se quisesse demonstrar superioridade.
– Robert. É um prazer vê-lo.
Ricco o encarou com um olhar mortal. Robert Beverley era do tipo que estava sempre com um sorriso no rosto e naquele momento não era diferente. O jovem possuía cabelos negros e pele clara. Seus olhos também eram sonhadores, donos de uma esperança inocente, juvenil. Era quase tão alto quanto Ricco, mas se parecia muito mais com um típico colegial saído de um seriado teen do que com um general alemão vindo de um filme sobre a segunda guerra. Havia um abismo de diferenças entre eles, como se não pertencessem ao mesmo lugar.
– Aquilo que te disseram... Aquilo é mentira. – explicou o rapaz com uma pitada de timidez.
– Tudo bem. – sorriu Askel. – Eu já estou acostumado com esse tipo de coisa. Não se preocupe com isso.
– Eu sei que você se importa.
Bobby o olhou nos olhos e recebeu de volta um olhar de desdém. Então complementou:
– Quer dizer, qualquer pessoa se importaria. Eu ficaria me sentindo muito mal se alguém falasse uma coisa assim de mim.
– Então você deve se sentir mal o tempo todo. Pois é tudo o que dizem sobre você.
– Do que está falando?
– Você faz parte de um grupo cheio de rostinhos bonitos que foi montado para gerar dinheiro para sua agência. Acha mesmo que alguém te leva a sério? Como pode dizer pra alguém que eu... Como se diz? “Cedi ao marketing”, sendo que você foi treinado pra isso? Isso é tudo o que você faz o tempo todo. Engana as pessoas com sentimentos falsos, música falsa, arte falsa, se é que isso que vocês fazem possa ser chamado de arte.
– Uau.
Bobby sorriu com tristeza. Sentia vontade de chorar.
– Eu gostaria que você fosse embora agora. Eu realmente quero muito descansar.
Ricco pegou seu maço de cigarros e colocou um deles na boca. Robert o puxou com os dedos antes que Askel pudesse acender o isqueiro.
– Por favor, não faça isso perto de mim. – falou Bobby inocentemente, mas logo se arrependeu. Então devolveu o cigarro para Ricco, que não estendeu a mão para pegá-lo, apenas riu de deboche. Estava furioso.
– Vá embora da minha casa.
– Eu ainda não te dei o meu presente de aniversário.
– Eu não quero seu presente de aniversário, querido. Quero só que você vá embora daqui, aliás, nem sei como foi que você conseguiu entrar, pois mandei que não o deixassem passar do portão.
– Eu pulei o muro. – Bobby escondeu as mãos nos bolsos da calça e mordeu o lábio inferior para tentar disfarçar o nervosismo. – Será que a gente pode ir até o seu quarto? Eu poderia te mostrar tudo lá.
– O que você está querendo dizer com isso? Por um acaso está querendo me comover com seu comportamento infantilizado para que eu o convide para minha festa? Acha que de alguma forma meu comentário na entrevista possa ter sido prejudicial à sua carreira e agora quer fazer as pazes com o... Como é que vocês me chamam mesmo...? Rei da Vintage Hollywood?
Bobby abaixou a cabeça e riu baixinho.
– Não, não tem nada a ver com isso. Por favor, você poderia me convidar pra entrar?
Ricco respirou fundo. O garoto lhe deixara curioso.
– Venha.
O homem abriu a porta de vidro que levava até a sala. Em seguida, indicou a escada para que Bobby subisse e foi logo atrás dele.
Quando chegaram ao quarto, Ricco trancou a porta e sentou-se sobre a cama. Bobby caminhou até o outro lado do cômodo para admirar a vista do jardim e da piscina. Os reflexos aquáticos chegavam até lá encima. Robert tocou o vidro, encantado.
– Muito bonito.
– O que você queria me mostrar?
O rapaz caminhou até Askel um pouco sem jeito e foi tirando uma porção de tralhas do bolso da calça. Colocou sobre a cama um punhado de fotos, um pen drive e disco prateado.
– Eu não comprei nenhum presente porque você não me convidou para a festa. – disse Bobby passando os dedos por uma das fotos. – Mas eu tive que vir aqui depois de ver a entrevista na TV. Fiquei muito triste com o que foi falado porque aquilo tudo é uma mentira. A prova do que eu digo em parte estão nessas fotos e elas são muito importantes pra mim. Por isso eu queria dá-las para você como um presente.
Ricco tomou uma das fotos das mãos dele. Era uma foto dos dois juntos, um ao lado do outro. Ricco estava com a mão sobre o ombro de Robert e os dois sorriam para o fotógrafo.
– Isso é uma montagem?
Bobby riu.
– Não. Somos nós dois mesmo. Essa foto foi tirada tem dois anos. O IVYXXO ainda nem existia e os Grammys era você quem ganhava.
Ricco riu também. Não sabia o que dizer.
– Você estava muito diferente.
Mas na verdade não estava. Bobby continuava com o mesmo sorriso cativante e gentil. Parecia um fã muito satisfeito por conseguir uma foto com seu maior ídolo. Ele entregou as outras fotos à Ricco, que sentiu uma doce nostalgia ao relembrar-se de antigos shows que fizera. Pelo que as fotos mostravam, Robert o acompanhava há muito tempo. Havia fotos de turnês feitas há anos e eles apareciam juntos em pelo menos três delas. Mas Ricco jamais teria se lembrado. Já havia tirado fotos com milhares de fãs. Depois que Bobby e sua boyband entraram para o show business, ambos passaram a ser concorrentes, nada mais que isso. Pelo menos era assim que Ricco enxergava a todos os outros artistas até aquele momento. Como inimigos, como pessoas para disputar prestígios, prêmios, elogios e reconhecimento.
– Eu sou seu maior fã. – confessou Bobby tristemente enquanto lágrimas desciam pelos seus olhos. – Quando eu escutei você falando sobre mim daquela maneira eu fiquei meio que “eu não acredito nisso”.
Ele sorriu e Ricco não entendeu como ele podia sorrir naquele momento.
– Eu só queria entrar pela tela da TV e te avisar: “Não, eu nunca falei mal de você, eu nunca falaria”. Afinal, você mesmo sabe, eu não sou um nada no mundo da música e morrerei feliz mesmo sabendo disso. Eu não digo isso para que você sinta pena de mim ou se sinta culpado por ter me dito isso. É a verdade, só. – ele enxugou as lágrimas e fungou. – Eu não tenho medo da verdade, mas tenho muito medo da mentira e do que inventam. Eles inventaram uma rixa entre nós que não existe e que nunca vai existir, mesmo que você me odeie agora. Bem, eu não creio que depois disso você vá mesmo me odiar. – ele riu consigo mesmo mais uma vez. – Mas é isso aí, Askel. Eu posso te chamar assim, não é?
Ricco enxugou as lágrimas dele com o polegar enquanto ria junto de seu, até então, inimigo.
– Me desculpe.
Askel o abraçou enquanto ele chorava e sorria ao mesmo tempo.
– Eu não consigo descrever como é estar com você agora, Askel. – Bobby o apertou com toda a sua força. – Eu sonhei tanto com esse momento. Eu te amo, eu te amo muito. Você é um ídolo pra mim. Minhas roupas, minha voz, em tudo eu me inspiro em você, sabe? Um dia eu ainda espero conseguir chegar a um pouco daquilo que você chegou. Você é o cara, você é demais.
– Shhh... Não precisa chorar, garoto. – Askel o abraçava como já fizera com muitos fãs que se emocionaram com sua presença. Bobby Beverley, o vencedor dos Grammys, era apenas um garoto como qualquer outro. – O que você faz da vida, ein? Ouvi dizer que você está em uma faculdade de música.
– Faculdade? – Bobby soltou outra risada gostosa em meio ao choro. – Eu ainda estou no ensino médio.
– Você tá falando sério?
– É.
Eles ficaram em silêncio enquanto Askel acariciava suavemente os cabelos de Robert.
– Eu tenho que te mostrar o DVD! – repentinamente, Bobby se levantou da cama e pegou o disco que deixara sobre a mesma. – Você não é do tipo que só tem VHS e fita cassete em casa, não é? – ele arqueou uma sobrancelha. – Você sabe, é o que todo mundo pensa, que você vive na velharia.
Ricco sorriu.
– Mais ou menos. Tem um DVD ali. – ele apontou.
Assistiram juntos ao vídeo. Era uma gravação antiga de Ricco cantando no Circle in the Square Theatre, na Broadway. O vídeo era chuviscado e em preto e branco.
– Você quem gravou?
– Sim, eu tinha 14 anos. Esses efeitos fui eu quem colocou no vídeo. – sorriu ele. – Combinam com você, não combinam?
Askel trouxe a cabeça de Bobby para seu ombro, envolvendo-o.
– Eu nunca iria imaginar... Logo você...
Ricco abriu um grande sorriso que era um misto de incredulidade com satisfação. Sentia-se aliviado de alguma forma.
– Você não faz idéia do quanto eu te amo.
Bobby deslizou a mão até o peito grande e musculoso de Askel. Observava cada detalhe de seu amado ídolo sob a luz branca daquela tarde acinzentada e silenciosa.
Ricco tocou a ingênua e sorridente face de Bobby. Ele parecia ser exatamente aquilo que demonstrava ser na TV e em seus clipes, conquistando garotas de todo o país com seu carisma inegável e beleza cativante. Ele era do tipo de rapaz que poderia levar a felicidade e atrair a simpatia até mesmo dos corações mais duros. Ricco admirou-o por isso, pois nunca tivera a mesma capacidade. Sua música era triste, nostálgica, carregada de uma sensualidade depressiva. Ele não cantava para arrancar sorrisos e sim para arrancar lágrimas. Sua melodia causava inexplicável saudade e melancólicas emoções naqueles que as escutavam.
Bobby era diferente. Diferente em tudo. Bobby lhe causava calor e sentimentos mornos que por muito tempo Ricco evitara sentir. Por isso o segurava. Sua pele era macia e atraente para ele. Gostava da sensação de poder tocá-lo e sentir de perto o cheiro de sua inocência quase infantil.
Askel segurou o rosto de Robert, apoiando-o no colchão da cama. No vídeo, a melodia lasciva e lastimosa tocava enquanto o real Askel pressionava seus lábios contra os lábios avermelhados de Bobby. Sua boca era macia e sua língua tinha gosto doce. Quando se afastaram (num barulho de estalo molhado), Robert olhou nos olhos de Askel e disse:
– O que você está fazendo?
– Eu pensei que você me amava.
– Eu amo. – Bobby sorriu, seus lábios molhados haviam ficado ainda mais avermelhados depois do beijo. – Mas não desse jeito.
O rapaz se levantou da almofada onde eles haviam se sentado para assistirem ao DVD e Ricco se levantou junto dele.
– Me desculpe.
– Tudo bem. – respondeu Bobby envergonhado. – Me dá um abraço antes de eu ir embora.
Quando seus corpos se uniram, Askel se sentiu tomado por eletricidade. A pele levemente rosada de Bobby o fazia ter vontade de tocá-lo cada vez mais, e assim o fez...
Altas roseiras do jardim decorando a paisagem por trás do vidro da janela. Nuvens cinzentas escurecidas pela tarde que chegava ao fim. Raio de luz. Dedos encostando em lábios. Chuviscos e melodias tocando na TV. Estalos molhados. Corpos que se encontram e juntos selam almas.
Askel pressionou o corpo de Bobby enquanto o beijava. Toque suave, delicado, sexy. Beijo no pescoço. Pelos que se arrepiam, corpo treme. Risadinha.
– Eu preciso ir.
Sorriso que ilumina.
– Eu acho que realizei o sonho de todas as garotas desse planeta. Beijei Bobby Beverley, o vocal principal do IVYXXO, a primeira boyband a vencer um Grammy.
Bobby segurava os ombros largos de Askel Nicolae. Acariciava-os sobre o tecido da camiseta.
– Você não devia ser tão obcecado pelos Grammys.
– Eu não sou.
Beijo de língua. Longo. Demorado.
Askel deslizou as mãos até as nádegas carnudas de Robert.
– Como você pode ser tão lindo? – agora Bobby segurava os braços dele. – Eu sofro por anos na academia pra ter um corpo desses.
– Beije-me.
Lábios se juntaram num beijo carinhoso e ardente. As línguas dançaram juntas, saboreando uma a outra. Ereções se encontraram sob o jeans e o moletom.
A mão branca de Askel apertou o vão do bumbum de Robert, forçando o dedo médio contra seu ânus.
Bobby alisava os músculos de Ricco, deixando marcas vermelhas em sua pele clara, marcas estas que surgiam suavemente sobre a pressão do toque.
O beijo acabou. Eles se olharam, admirando a beleza e o charme um do outro.
– Quem diria.
Risinhos.
– Pois é. Quem diria.
– Você poderia me levar até a porta?
– Claro.
Quando Askel se virou para caminhar até a porta, Bobby abraçou-o por trás, roçou o pênis duro em seu traseiro e deliciou-se com a fartura de sensualidade que transbordava do corpo dele.
Askel deixou que o rapaz se divertisse esfregando-se em seu corpo cuidadosamente construído com muito esforço ao longo dos anos. Imaginou como devia ser gostoso tocá-lo, mesmo para outro homem.
Askel Nicolae virou-se novamente para beijá-lo. Em seguida, depositou sobre ele todo o seu peso, fazendo com que ambos caíssem sobre o colchão macio.
Entreolharam-se, um sobre o outro. O vento balançou as rosas por trás do vidro. Pétalas voaram com o vento. Um beijo fervoroso aconteceu.
Askel apertou as coxas de Beverley sobre seu jeans apertado. Bobby usou-as para envolver seu amado enquanto segurava sua bunda com lascívia. O rapaz sentiu a cueca ficar cada vez menor e levemente úmida onde se encontrava a cabeça do pênis.
– Case-se comigo. – sussurrou Nicolae ao seu ouvido, arrancando-lhe um riso ofegante que foi abafado por outro beijo delicioso.
As mãos de Bobby desceram por costas malhadas.
– Repita esse pedido quando eu sair do Ensino Médio.
Suas faces acariciaram uma a outra. Puderam ouvir o som de suas respirações.
Askel afundou a cabeça no ombro de Bobby, que fez carinho em seus cabelos, e assim ficaram por algum tempo.
Gotas de chuva se chocaram contra o vidro da janela.
Askel abriu a pasta do pen drive e colocou o vídeo para executar. Era o último dos presentes.
O Bobby da tela do pc segurou um antigo microfone e cantou para uma platéia de seis pessoas (os membros do IVYXXO):
Parabéns pra você,
Parabéns pra você,
Parabéns pra você, Senhor Vintage Hollywood,
Parabéns pra você.
Parabéns, Senhor Nicolae
Pelos álbuns que você vendeu
Pelos Grammys que você perdeu (risadas ao fundo)
Por todas as lições de vida que o senhor nos deu
E pela maneira como você nos inspira com a arte verdadeira
Nós o admiramos muito, muito mesmo.
Todo mundo, feliz aniversário!
Você merece os parabéns todos os dias!
Parabéns pra você,
Parabéns pra você, Senhor Vintage Hollywood,
Parabéns pra você.
Parabéns, Senhor Nicolae
Pelos álbuns que você vendeu
Pelos Grammys que você perdeu (risadas ao fundo)
Por todas as lições de vida que o senhor nos deu
E pela maneira como você nos inspira com a arte verdadeira
Nós o admiramos muito, muito mesmo.
Todo mundo, feliz aniversário!
Você merece os parabéns todos os dias!
Rindo, junto dele, Askel beijou o real Robert Beverley que, ao seu lado, corava envergonhado.
Elena- Dead Flower
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Re: Vintage Hollywood
Nossa, meus olhos se encheram de lágrimas com essa última parte. Essa fic me deixou realmente emocionada, quase chorei aqui.
Gostei muito dela. Achei original, além de ser uma crítica bem humorada sobre o mundo da música, e que me arrancou risadas em muitas passagens. E a cena do amasso foi show, vou te falar... x)
“Como compositor ou cantor, eu não vou para o estúdio compor esperando que o público aprove. Não posso pensar assim.” Gostei muito dessa frase. Penso assim sobre muitas coisas que faço.
Não consigo nem citar um mangá, anime, fic ou filme que ela me lembre, porque nunca li nada parecido. Definitivamente, achei essa fic muito original ;D
P.S.: se foi você quem escreveu nas folhas de caderno mostradas nas imagens, sua letra é muito bonitinha :3
Gostei muito dela. Achei original, além de ser uma crítica bem humorada sobre o mundo da música, e que me arrancou risadas em muitas passagens. E a cena do amasso foi show, vou te falar... x)
“Como compositor ou cantor, eu não vou para o estúdio compor esperando que o público aprove. Não posso pensar assim.” Gostei muito dessa frase. Penso assim sobre muitas coisas que faço.
Não consigo nem citar um mangá, anime, fic ou filme que ela me lembre, porque nunca li nada parecido. Definitivamente, achei essa fic muito original ;D
P.S.: se foi você quem escreveu nas folhas de caderno mostradas nas imagens, sua letra é muito bonitinha :3
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