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[Fanfic / Original] Dois espelhos pulsantes

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Mensagem por Nutty Qui Nov 29, 2012 7:24 pm

Dois Espelhos Pulsantes


“Eu não sou louca”

É a frase que mais repito pra manter a sanidade. Acredite, eu já fui uma garota normal. Quer dizer, eu sempre fui capaz de saber o que minha irmã gêmea estava pensando, mas nunca considerei isso anormal. Porém tudo começou a mudar quando minha mãe casou-se novamente. Não havia mais espaço pra mim e pra minha irmã em casa e fomos mandadas pra um colégio interno onde nossa tia era professora.
Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar bem claro: vocês conhecem os gêmeos “dizigóticos”? São aqueles fecundados em dois óvulos diferentes. Assim como minha irmã e eu. Somos totalmente opostas, eu nasci parecida com meu pai e ela com a minha mãe. Ela sempre foi bonita e cobiçada, com seus olhos azuis e cabelos loiros, enquanto eu era apenas uma nerd comum de cabelos castanhos e olhos mel. Nunca a invejei por isso.
Quando chegamos ao colégio, nossa tia e duas alunas (nossas colegas de quarto) nos receberam. Depois de uma breve excursão conhecendo o antigo casarão adaptado pra ser a escola, voltamos para o quarto. As coisas ficaram estranhas nesse ponto. Foi quando Mellanie (uma das garotas) começou a contar antigas lendas sobre coisas que aconteciam na escola. Demônios, fantasmas, coisas que eram freqüentes em relatos dos alunos, antigos e novos. Wendy (minha irmã) geralmente se assustava com essas coisas, porém dessa vez parecia incrivelmente interessada.
Resolvemos brincar do jogo do copo. Foi à pior coisa que fizemos naquela noite ou em qualquer noite de nossas vidas. Inicialmente, nada aconteceu. Depois de muito esperar, desistimos e fomos dormir. Quando Wendy acordou naquela manhã, ela soltou um gemido ao pisar no chão e eu, como irmã mais velha, fui correndo ver. Cortara o pé num caco de vidro... Quando esse pensamento me ocorreu, corri pro tabuleiro (ainda montado) do jogo do copo. Quase tive que me sentar quando confirmei minhas suspeitas... O copo havia quebrado.
Voltei-me para Wendy, mas ela parecia estranha. Não falava nada, apenas observava o sangue escorrer pelo corte. Fiz um curativo naquilo, Wendy ainda em silêncio, não gemeu nem nada, como faria em qualquer situação normal. Comecei a ficar com medo e chamei nossa tia. Ela tentou falar com Wendy e nada... Deixamo-la no quarto e titia foi procurar a diretora. Quando entrei novamente, ela tinha desaparecido!

Mal dormi na noite seguida ao acontecido. As buscas eram incessantes, mas meus pesadelos eram mais, coisas terríveis que nem me atrevo a narrar pra nenhum ser humano. Somente uma coisa era freqüente: minha irmã morria em todos, com as formas mais terríveis e dolorosas que é possível uma pessoa morrer. Acordei gritando e a vi. Wendy me observava dormir com uma expressão amedrontadora no rosto.
Chamei por ela mas ela não respondeu. Abriu um sorriso de orelha a orelha que teria posto medo no Coringa do Batman. Suas mãos estavam manchadas de sangue e quando olhei pro lado... Minhas colegas de quarto estavam mortas... Mutiladas.
Wendy pulou em cima de mim e rolamos pelo chão por alguns segundos, enquanto eu tentava desarmá-la. Fiquei por cima e retirei a faca das mãos dela, ela sorriu mais uma vez, puxou meus braços e fincou a faca no próprio coração... Enquanto soltava a mais cruel das gargalhadas. Cai no chão, ao lado de seu corpo morto e comecei a gritar.

Foi assim que me encontraram, me amarraram e me levaram ao sanatório. Mesmo com todos os calmantes e tarjas pretas, os pesadelos não me abandonavam, minha irmã continuava morrendo, de novo e de novo. Depois de alguns anos presa no sanatório, passei realmente a acreditar que eu tinha matado a minha irmã, os pesadelos colaboraram bastante.

Esses dias, depois de pintar mais um dos meus quadros que me ajudam a relaxar. Recebi uma carta... Não uma carta comum, mas uma carta da diretora do antigo colégio. Ela me pedia pra voltar pro colégio e lecionar artes (no qual eu havia me formado). Quando cheguei lá, ela me contou a história de sua irmã gêmea que havia sido assassinada muitos anos antes por sua colega de quarto... E que seu fantasma a perturbava todas as noites.
Ela não agüentava mais e decidira abrir mão do colégio, entregando-o a mim... Porque ela sabia do meu tormento... Foi quando avistei duas gêmeas, recém-chegadas pela janela. A antiga diretora sorriu pra mim e sussurrou: “Eis que chegou o fim de seu tormento”...

“Eu não sou louca”, repito enquanto jogo gasolina em todos os cômodos, enquanto as garotas dormem. Jogo principalmente em meu corpo e acendo o fogo. “Eis que chegou o fim de meu tormento”... Essa maldição precisa acabar.
Minha irmã aparece em meio ao fogo e me abraça. Queimamos alegremente juntas e choramos muito. Depois, algo inesperado acontece... Aquele sorriso de Coringa se abre novamente e eu grito. Tudo apaga.

Acordo em meio às cinzas, vários corpos cremados ao meu lado, mas eu estou inteira.
Um policial me pergunta se estou bem... Meus lábios movem-se sozinhos...
“Mas é claro... Planejo até reconstruir esta escola nesse mesmo lugar... Um colégio interno próprio para gêmeas.”
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