Onde "erramos"? Onde o problema realmente começa?

Pra quem não sabe, trabalho em uma escola (nossa, que maravilha, parabéns pra mim). Quando comecei atendia alunos de 5ª série do ensino fundamental até alunos do 3º ano do ensino médio, agora não há mais 5ª e 6ª aqui, enfim. Quando havia 5ª série, por Zeus, eu preferia trabalhar em um zoológico, qualquer animal, determinado irracional, era mais civilizado. Dois meninos, primos, brincavam de se bater e se socar, um dia brincaram de bater na cabeça do outro com a cadeira. Pra eles isso é normal. É normal ser surrado pelo pai bebum e pela mãe que, muitas vezes, parece ter se arrependido de ter parido. O mais violento desses primos e mais revoltado, melhorou depois que o pai morreu, comentou que "foi melhor assim". Se não estou enganada, era um dos muitos pais presidiários.
Esse ano está com a febre do baby boom, não só em escolas, mas o mais preocupante é que "também" em escolas. Uma aluna da 8ª série, com 14 anos, veio com o namorado, de 18, falar que não podia vir mais à escola, pois, está no 6º mês e a gravidez é de risco. No começo do ano, disse que estava feliz com a gravidez, mas pela expressão facial da criança (sim, pra mim, todos são crianças), pelos olhos tristes, você vê que a felicidade parece ser um sonho impossível. Tem instrução, pensei que era inteligente, sabe abrir as pernas, mas não sabe abrir a embalagem de uma camisinha, se bem que hoje em dia deveriam distribuir pílula anticoncepcional no kit escolar. Mas o mal começa a se proliferar em casa, nessas horas penso: por que aqui não tem o controle de natalidade da China? Pensamento absurdo, talvez, mas, do jeito que está, não seria tanta maldade minha. Acho que deveria existir alguma lei pra famílias sem condições terem no máximo dois filhos e operarem assim que o segundo nascesse, ou o marido operasse, bolsa família não é eterno e não é usado de modo correto. Voltando ao que eu dizia...
Os pais da maioria desses alunos não sabem escrever, as vezes nem os avós. A maioria deles nem se dão ao trabalho de vir fazer matrícula, de comparecer em reunião, de saber se o filho come ou aprende, mas se brigam e aparecem com a cara inchada em casa, aparecem pra querer arrebentar o ou a outra que bateu, isso quando não são os próprios alunos que juntam um grupo saído do inferno pra resolver o problema. Traficantes e usuários: temos aqui também. Ex-aluna foi morta e cortaram a língua, dedurou alguém. Aluno se escondendo dentro da escola pra não morrer espancado por OLHAR a namorada do outro que se insinuou pra ele em uma balada, apareceu duas semanas depois todo arrebentado e o garoto que bateu, continuou vindo normalmente. Mas, mesmo que fosse preso, seja na fundação casa ou em presídio comum, já que é maior de idade, sairia no lucro, só estuprador e, as vezes, assassinos, se fodem em prisão, viciados também, então de resto, ta suave. Aprendem um ofício, comem, dormem, não que seja uma mordomia, mais em ALGUNS presídios, vive-se melhor do que em liberdade.
Pelo jeito, o BO começa no berço e vai até o fim da vida. Há jeito de acabar com isso? Tem como eliminar de vez o mal pela raiz? Mas ONDE esse mal começa? Parece que vem impregnado no sangue e na alma... Mesmo com tanto projeto, programa, tanta coisa pra melhorar, a situação só piora, o abismo fica mais fundo. Não sei nem mais o que pensar... Queria saber o que pensam a respeito de tudo isso, não só nesse meu mundinho, mas em todo lugar... Se bem que falei tanto, né... Enfim...