Notredame's Crew

O desenvolvimento da música ocidental tem essa fase lenta, cautelosa e bizarra que se passou dentro das igrejas e monastérios medievais.

Ficaram decididas algumas regras básicas para as canções da liturgia. Não deveriam ter saltos melódicos, privilegiando e destacando a palavra de Deus em detrimento da musicalidade em si.

Foi aí que unificaram tudo no canto gregoriano.

Ficaram na mesma, só fazendo isso, até que um dia, em um ensaio numa catedral no interior da França, um corista meio tonto não conseguiu acompanhar os seus amigos e mandou um intervalo de quinta dupla, dando início ao que hoje nós chamamos de power chord.


Um momento de choque. Silêncio absoluto. Todos se entreolharam, cada um com medo de comentar o que sentiu no momento, até que um deles, mais ousado, disse: "Puta que pariu, maluco! Ficou muito foda essas notas, faz de novo! Vamos lá, no um, dois. Um, dois, três, quatro!". Neste momento, o abade entrou na nave principal da igreja e, vendo tal transgressão, fumegou o cu de raiva e disse que aquilo era errado. Ele argumentou que Deus, criador do Universo, do Sol, da Terra, do cordeiro, da pedra pome, das nuvens cirrus fibratus e de mais um milhão de coisas, ficaria MUITO PUTO se ouvisse a galera cantando daquele jeito. O que é muito engraçado, porque em momento algum eu soube que Deus é, além de - bom - tudo, professor de música. 

Claro que não deu para segurar essa galera por muito tempo. Pouco a pouco, eles começaram a zoar a porra toda. "Ah, é? Que tal se a gente cantar umas três músicas ao mesmo tempo? Tá bom pra vocês? E se uma dessas músicas nem para a Igreja for?", mas esse procedimento foi bem longo e demorado, porque eles temiam queimar no fogo do inferno pela eternidade só por causa de umas notinhas que eles cantaram.

Vivendo e aprendendo