Má noite

Quando me mudei para cá (Mogi), em 1998, coisas boas e ruins aconteceram. O bom foi poder fazer novos amigos, escola nova com professores legais, vizinhos legais, toda a família veio conhecer a casa nova, inclusive uma tia que acabara de engravidar e morava no RJ, ocorreu uma reunião geral da família. Até mesmo o Pedro (prefiro não citar o nome verdadeiro do meu primo) estava lá. Na nossa antiga casa, quando ele ia nos visitar, sempre levava as outras primas e eu para dar voltas de moto, quando seu cachorro mordeu minha mão uns 2 ou 3 anos antes, ele limpou minha mão e me levou no colo para tomar sorvete, era o primo, cuidava muito dos outros e era como um irmãozão pra mim. Só depois de um tempo, já adolescente (mudei-me com 9 anos, em fevereiro), fiquei sabendo que ele se envolveu com drogas, mas foi mais forte, melhor do que esse lixo e conseguiu sair, mas não quiseram deixar...

Numa manhã, não me recordo que ocasião era nem o mês exato, evito pergunta a minha mãe também, mas algumas primas vieram de São Paulo nos ver, dormiram por lá, foi uma das muitas noites em que eu não lembro do que sonhei, fiquei cansada, acordei várias vezes durante a noite, parecia que o tempo não corria, por mais que me esforce não lembro do que sonhei ou se sonhei aquela noite, quando lembro dos meus sonhos, rola um déjà vu bem desconfortável, até hoje não me dou bem com isso. Estávamos brincando no quintal, eu tinha acordado com uma sensação bem ruim, não sabia o que era, ignorei e fiquei brincando de pega-pega com as meninas, dava pra correr em círculos no meu quintal, o que tornava mais divertido. Uma prima da minha mãe que mora na casa do outro lado da rua e sempre chamamos de tia, apareceu perto da hora do almoço, corremos pra cumprimentá-la. Sua expressão era abatida, pedi para sentarmos e falou:

- Vocês não sabem o que aconteceu...

Do nada eu disse, rindo e fazendo escárnio:

- O que, o Pedro morreu? - e dei outra risadinha.

Ela nos deu um olhar triste e arregalado e confirmou com a cabeça. A prima que estava comigo começou a chorar, eu só fiquei parada encarando as duas. A meses eu nem falava com ele ou o via.

Minha mãe chegou, estava exausta e com os olhos vermelhos, depois que o restante da família chegou todo mundo foi ao velório, seguido do enterro. Pedro foi espancado na noite anterior, a noite em que não dormi bem, o jogaram na linha do trem. O maquinista chegou a vê-lo levantar a cabeça enquanto estava nos trilhos, mas não teve tempo de parar.