Maria Nilza
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Maria Nilza
Uma avó clichê - talvez essa seja uma boa definição. Ela possui todas as características clássicas que permeiam o nosso imaginário: frágil, sorridente, caseira e possuidora de uma mania incontrolável de mimar os netos. É, nada de original nisso. Ela parece ter sido diretamente tirada de um comercial, representando a figura da "velhinha boazinha" (e bebendo Coca-Cola, comendo Peru Sadia ou calçando Havaianas, dependendo do que o comercial esteja tentando te vender).
Existem avós mais interessantes, suponho. Ricas, aristocráticas e severas (como nas novelas) ou "jovens" -cabelo tingido, corpo em forma - "modernas" e aventureiras (como nas comédias românticas do cinema). Mas o seu amor por algo não surge necessariamente do interesse que esse algo provoca em você - ele surge do que esse algo te faz sentir.
Minha avó nunca foi uma pessoa charmosa. Ela é tão misteriosa quanto uma receita de bolo, e tão exótica quanto uma manhã de domingo na praia. Sua característica mais particular surgiu do fato de não ser boa cozinheira: confrontada com a terrível realidade de não poder causar obesidade infantil nos netos com bolos preparados pelas próprias mãos, Maria não hesitou, fazendo seu melhor para causar obesidade infantil nos netos com bolos preparados por outras pessoas (além de chocolates, balas, jujubas, chicletes, rocamboles, cupcakes, algodões doces, muuuitos etcs...).
Vovó sempre foi boazinha demais para ser uma bruxa, e mesmo assim acho que existe 93,5% de chance de o verdadeiro nome dela ser "Cassandra", "Abigail" ou "Hermione". Não tem outra explicação para o tanto de porcaria que ela empurrava pela minha goela. Até hoje acho que ela queria me colocar num caldeirão, e só desistiu por achar que cozinhar alguém da própria família poderia trazer má sorte (insira aqui alguma explicação forçada envolvendo Profecias, Eclipses e o Chupa-Cabra...). Sinceramente, eu não sei como ainda tenho dentes: consumi tantos doces na infância que minha dentição deveria ser mais esburacada que uma rodovia interestadual.
Aos 7 anos, eu tive minha primeira crise asmática, e enfrentei um período de 5 ou 6 anos nos quais minha garganta fechar era um acontecimento constante. Perdi a conta de quantas vezes fui parar no colo da minha avó, ganindo de forma horrorosa, enquanto ela sussurrava no meu ouvido e dizia que não ia deixar nada de mal me acontecer. Não morri, cresci e as crises pararam (... o que obviamente confirma que Maria de fato é uma bruxa). À medida que envelhecemos, eu e ela, o colo da idosa se tornou um lugar pequeno demais para aconchegar os netos. Acho que é disso que mais tenho saudades: ser pequeno. Me sentir protegido, sereno, naquele colo.
A saúde dela piorou com cada novo ano, e chegou a minha vez de ser aquele que mima, aquele que protege. Seja empurrando a cadeira de rodas, fazendo uma massagem ou simplesmente enchendo-a de beijos, eu tentei deixar claro que não iria deixar nada de mal acontecer a ela.
Crianças e idosos são tão ironicamente parecidos.
Esse pensamento costuma dançar, azedo, na minha mente.
Avós clichês não sabem dizer "não", e são 10x piores que mães quando o assunto é puxar-saco.
Eu sou lindo. Minhas tatuagens são lindas. As roupas que eu escolho pra sair são sempre lindas.
... tenho 99,5% de certeza que se minha vó me visse fantasiado de dinossauro rosa, iria sorrir e dizer que eu estava, como sempre, "Tão lindo".
Avós clichês não sabem como se mexe num computador. Elas acham agradável ver fotos de Facebook ou vídeos do Youtube, mas se recusam terminantemente a ter um e-mail ou fazerem qualquer tipo de registro em redes sociais, temendo que o aparelho vá explodir no segundo em que ela apertar "Enter".
Corvo: Mas vó! É a mesma coisa que uma TV! Uma máquina!
Vó: Claro que não. Televisão é diferente.
Corvo: Diferente como?
Vó: Dá pra mexer de longe, no controle. Aí não leva choque.
... só avós fofas e pirralhos possuem o privilégio de usar impunemente argumentos horrendos numa discussão. Eu podia passar horas discutindo com meu avô e provando que ele estava errado ("Não, o Flamengo não ganharia do Barcelona. Não, vô, o Zico não é melhor que o Maradona!"), mas minha vó sempre me dobrou com as lógicas mais escrotas do Universo ("Tá, vó, eu vou dormir cedo porque a senhora não consegue dormir sabendo que eu estou acordado... é, vó, eu sei que você acha que eu vou ficar muito doente se dormir depois da meia-noite. Faz muito sentido").
Avós clichês gostam muito de novelas. Uma vez perguntei a ela qual era o seu Top 3. Ela me olhou, confusa, e me perguntou o que era um "Tópi Três". Eu ri e disse que queria saber quais eram as três novelas favoritas dela.
1 - Terra Nostra
2 - Esperança
3 - Passione
Corvo: ... vó, cê adora a Itália, né?
Vó do Corvo: Acho tão lindo o jeito que eles falam! *-*
Minha avó acha que uma das coisas mais lindas do entretenimento moderno é o sotaque italiano forçado dos atores da Globo. É, o mundo é cheio de mistérios. Mas alguns mistérios te fazem sorrir.
Maria Nilza morreu ontem à tarde, no hospital. "Morte natural" soa muito melhor que "infecção generalizada", mas nenhuma das duas expressões me serve pra porra alguma. Dor é dor. Perda é perda.
Eu não sei bem porque eu comecei a escrever tudo isso numa página de Word, mas quando reparei meus dedos já haviam ganhado vida própria. Acho que eu queria falar dela. Acho que eu queria lembrar dela. Acho que eu queria ter mais motivos pra chorar até ficar esgotado e aí não pensar em mais nada - como um pano molhado que você espreme até conseguir extrair a última gota.
Existem inúmeras correntes de pensamento relativas ao que ocorre após a morte. E, ironicamente, quando surge um exemplo prático, todas elas são irrelevantes.
Cristãos, muçulmanos, espíritas, budistas, judeus, o CACETE... nesse momento, pouco me importa o que eles acham.
Eu não quero respostas.
Eu quero o colo da minha vó.
Crow J, triste.
Existem avós mais interessantes, suponho. Ricas, aristocráticas e severas (como nas novelas) ou "jovens" -cabelo tingido, corpo em forma - "modernas" e aventureiras (como nas comédias românticas do cinema). Mas o seu amor por algo não surge necessariamente do interesse que esse algo provoca em você - ele surge do que esse algo te faz sentir.
Minha avó nunca foi uma pessoa charmosa. Ela é tão misteriosa quanto uma receita de bolo, e tão exótica quanto uma manhã de domingo na praia. Sua característica mais particular surgiu do fato de não ser boa cozinheira: confrontada com a terrível realidade de não poder causar obesidade infantil nos netos com bolos preparados pelas próprias mãos, Maria não hesitou, fazendo seu melhor para causar obesidade infantil nos netos com bolos preparados por outras pessoas (além de chocolates, balas, jujubas, chicletes, rocamboles, cupcakes, algodões doces, muuuitos etcs...).
Vovó sempre foi boazinha demais para ser uma bruxa, e mesmo assim acho que existe 93,5% de chance de o verdadeiro nome dela ser "Cassandra", "Abigail" ou "Hermione". Não tem outra explicação para o tanto de porcaria que ela empurrava pela minha goela. Até hoje acho que ela queria me colocar num caldeirão, e só desistiu por achar que cozinhar alguém da própria família poderia trazer má sorte (insira aqui alguma explicação forçada envolvendo Profecias, Eclipses e o Chupa-Cabra...). Sinceramente, eu não sei como ainda tenho dentes: consumi tantos doces na infância que minha dentição deveria ser mais esburacada que uma rodovia interestadual.
Aos 7 anos, eu tive minha primeira crise asmática, e enfrentei um período de 5 ou 6 anos nos quais minha garganta fechar era um acontecimento constante. Perdi a conta de quantas vezes fui parar no colo da minha avó, ganindo de forma horrorosa, enquanto ela sussurrava no meu ouvido e dizia que não ia deixar nada de mal me acontecer. Não morri, cresci e as crises pararam (... o que obviamente confirma que Maria de fato é uma bruxa). À medida que envelhecemos, eu e ela, o colo da idosa se tornou um lugar pequeno demais para aconchegar os netos. Acho que é disso que mais tenho saudades: ser pequeno. Me sentir protegido, sereno, naquele colo.
A saúde dela piorou com cada novo ano, e chegou a minha vez de ser aquele que mima, aquele que protege. Seja empurrando a cadeira de rodas, fazendo uma massagem ou simplesmente enchendo-a de beijos, eu tentei deixar claro que não iria deixar nada de mal acontecer a ela.
Crianças e idosos são tão ironicamente parecidos.
Esse pensamento costuma dançar, azedo, na minha mente.
Avós clichês não sabem dizer "não", e são 10x piores que mães quando o assunto é puxar-saco.
Eu sou lindo. Minhas tatuagens são lindas. As roupas que eu escolho pra sair são sempre lindas.
... tenho 99,5% de certeza que se minha vó me visse fantasiado de dinossauro rosa, iria sorrir e dizer que eu estava, como sempre, "Tão lindo".
- Spoiler:
- ... os outros 0,5% são para a possibilidade de ela me confundir com um calango gigante e me encher de chineladas.
Avós clichês não sabem como se mexe num computador. Elas acham agradável ver fotos de Facebook ou vídeos do Youtube, mas se recusam terminantemente a ter um e-mail ou fazerem qualquer tipo de registro em redes sociais, temendo que o aparelho vá explodir no segundo em que ela apertar "Enter".
Corvo: Mas vó! É a mesma coisa que uma TV! Uma máquina!
Vó: Claro que não. Televisão é diferente.
Corvo: Diferente como?
Vó: Dá pra mexer de longe, no controle. Aí não leva choque.
... só avós fofas e pirralhos possuem o privilégio de usar impunemente argumentos horrendos numa discussão. Eu podia passar horas discutindo com meu avô e provando que ele estava errado ("Não, o Flamengo não ganharia do Barcelona. Não, vô, o Zico não é melhor que o Maradona!"), mas minha vó sempre me dobrou com as lógicas mais escrotas do Universo ("Tá, vó, eu vou dormir cedo porque a senhora não consegue dormir sabendo que eu estou acordado... é, vó, eu sei que você acha que eu vou ficar muito doente se dormir depois da meia-noite. Faz muito sentido").
Avós clichês gostam muito de novelas. Uma vez perguntei a ela qual era o seu Top 3. Ela me olhou, confusa, e me perguntou o que era um "Tópi Três". Eu ri e disse que queria saber quais eram as três novelas favoritas dela.
1 - Terra Nostra
2 - Esperança
3 - Passione
Corvo: ... vó, cê adora a Itália, né?
Vó do Corvo: Acho tão lindo o jeito que eles falam! *-*
Minha avó acha que uma das coisas mais lindas do entretenimento moderno é o sotaque italiano forçado dos atores da Globo. É, o mundo é cheio de mistérios. Mas alguns mistérios te fazem sorrir.
Maria Nilza morreu ontem à tarde, no hospital. "Morte natural" soa muito melhor que "infecção generalizada", mas nenhuma das duas expressões me serve pra porra alguma. Dor é dor. Perda é perda.
Eu não sei bem porque eu comecei a escrever tudo isso numa página de Word, mas quando reparei meus dedos já haviam ganhado vida própria. Acho que eu queria falar dela. Acho que eu queria lembrar dela. Acho que eu queria ter mais motivos pra chorar até ficar esgotado e aí não pensar em mais nada - como um pano molhado que você espreme até conseguir extrair a última gota.
Existem inúmeras correntes de pensamento relativas ao que ocorre após a morte. E, ironicamente, quando surge um exemplo prático, todas elas são irrelevantes.
Cristãos, muçulmanos, espíritas, budistas, judeus, o CACETE... nesse momento, pouco me importa o que eles acham.
Eu não quero respostas.
Eu quero o colo da minha vó.
Crow J, triste.
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Re: Maria Nilza
Passione??????? cara, você não vai acreditar em onde eu to escrevendo isso -oi barrinha do navegador- mas na hora que eu vi Passione no "topi treis" eu tive que parar tudo pra digitar isso uhsahusauhsahuhsau gente, como alguém pode gostar daquela novela?????? Foi meu pior pesadelo -sua vó uma é uma macumbeira muito sinistra, porque eu sem querer apertei enter logo na hora do "pesadelo" e agora to digitando isso na barrinha do google
Bom, voltando ao fórum - e já comentando no lugar normal- tenho que te dizer que cara, você escreve muito bem, daria um perfeito colunista ou sei lá o que, jornalista talvez husauhsahusa sei lá, só sei que é muito bom ler qualquer coisa que você escreve, e eu fico rindo que nem palhaço das suas piadas toscas ushushaahuusah E tipo:
morri hushusahusahusahusahusauhuhshusuahshuahusahusahuas
Eu digitei tudo isso antes de chegar ao final do texto, tudo no calor da empolgação. Tive a intuição de que esse blog não traria uma notícia boa (será que é porque eu li o "Crow J, triste" antes de ler o resto? uhsahusasa). Eu tenho certeza que eu não diria as coisas boas que eu disse nos parágrafos acima se tivesse lido tudo antes de comentar, acho que talvez eu iria apenas tentar te consolar, mas com você eu sei que sempre posso fazer diferente. Por isso eu não vou te dizer mais nada além disso.
Bom, voltando ao fórum - e já comentando no lugar normal- tenho que te dizer que cara, você escreve muito bem, daria um perfeito colunista ou sei lá o que, jornalista talvez husauhsahusa sei lá, só sei que é muito bom ler qualquer coisa que você escreve, e eu fico rindo que nem palhaço das suas piadas toscas ushushaahuusah E tipo:
Vó do Corvo: Acho tão lindo o jeito que eles falam! *-*
morri hushusahusahusahusahusauhuhshusuahshuahusahusahuas
Eu digitei tudo isso antes de chegar ao final do texto, tudo no calor da empolgação. Tive a intuição de que esse blog não traria uma notícia boa (será que é porque eu li o "Crow J, triste" antes de ler o resto? uhsahusasa). Eu tenho certeza que eu não diria as coisas boas que eu disse nos parágrafos acima se tivesse lido tudo antes de comentar, acho que talvez eu iria apenas tentar te consolar, mas com você eu sei que sempre posso fazer diferente. Por isso eu não vou te dizer mais nada além disso.
Re: Maria Nilza
Essas experiências do passado nos fazem falta. Sinto pela sua perda. Eu ainda tenho minhas avós vivas, mas nenhum dos meus avôs. Sei como é triste perder alguém importante pra gente. Mas esses momentos que viveu com ela - não precisam necessariamente serem os melhores - ficarão sempre guardados com você.
Re: Maria Nilza
Poxa, Crow, você conseguiu arrancar lágrimas minhas aqui.
Acho que é porque entendo como você se sente.
Eu perdi uma das minhas avós há mais ou menos um ano, e foi naquela hora que eu parei pra pensar nesse tipo de coisas que você escreveu. Nos momentos bons e engraçados, principalmente. Parecia até que todos os desentendimentos (se é que existiam) sumiram, sobrando só boas recordações.
Acho que foi a primeira vez que enfrentei a morte de um familiar tão próximo. Era como se minha ficha não tivesse caído completamente.
E a isso se somou a culpa que eu sentia, por não tê-la visitado tanto naqueles últimos tempos, por causa de trabalho, faculdade e o caramba.
E talvez fosse por isso, por não ter tanto contato com ela antes que ela se fosse, que nos primeiros meses era como se ela estivesse viva ainda, lá na casinha dela, só esperando que eu a fizesse uma visita. Demorou um certo tempo pra que essa impressão de ela estar longe, mas viva, fosse se apagando.
No finalzinho do mês passado fui à missa de um ano e, diferentemente do que aconteceu na missa de sete dias, eu não chorei. Acho que superei um pouco o que aconteceu.
Ou então, deixei a tristeza em suspenso.
Talvez seja isso, já que até hoje não consegui visitar o túmulo dela.
Trabalhei durante meses encostada no cemitério (praticamente dentro) onde ela foi enterrada e não tive coragem de pegar o caminho que levava ao túmulo dela. Acho que é medo de encarar o que aconteceu. Medo de me lembrar do funeral, que foi a ocasião que mais chorei na vida.
E o mais estranho é que, durante o velório, assim que estavam levando o caixão para começarmos o funeral, estávamos eu e minha família reunidos, e eu ainda olhei pra trás, procurando minha avó no meio dos que estavam lá, pra ela não se perder de nós: a avó que tinha acabado de falecer!
Foi difícil eu me acostumar com essa idéia. Muito.
Mas hoje eu estou um pouco melhor, apesar de não conseguir encarar algumas coisas ainda.
Passei a ficar mais próxima da minha outra avó, pra evitar que eu cometesse o mesmo erro. Hoje estou morando com ela, em vez de morar com meus pais, e espero continuar assim, pra que eu passe o máximo de tempo próxima dela. E foi morando com ela que eu percebi aquilo que você disse, de os papéis terem se invertido. Ela continua cuidando de mim, mas eu cuido bastante dela também. Eu a ajudo a carregar as coisas mais pesadas da compra, eu a vigio enquanto atravessamos a rua, eu é que verifico o que está acontecendo quando ela ouve algum barulho estranho (ela morre de medo de ladrão), eu fico acordada esperando ela terminar de tomar banho (mania dela) ^^
E meus pais ainda perguntam se eu quero morar com eles na casa nova. Será que tenho que explicar tudo isso? Fico triste por eles não entenderem sem que eu explique. É meio óbvio que eu queira continuar morando com ela pra cuidar dela, não é? Eu não iria deixá-la sozinha.
Enfim, espero que você consiga superar o que houve, mas ao mesmo tempo fico feliz por ter tido uma boa relação com a sua avó. Acho que assim é melhor. Sem culpas, sem ressentimentos.
Bom, é isso. Só queria dizer que acho que entendo como você se sente.
Acho que é porque entendo como você se sente.
Eu perdi uma das minhas avós há mais ou menos um ano, e foi naquela hora que eu parei pra pensar nesse tipo de coisas que você escreveu. Nos momentos bons e engraçados, principalmente. Parecia até que todos os desentendimentos (se é que existiam) sumiram, sobrando só boas recordações.
Acho que foi a primeira vez que enfrentei a morte de um familiar tão próximo. Era como se minha ficha não tivesse caído completamente.
E a isso se somou a culpa que eu sentia, por não tê-la visitado tanto naqueles últimos tempos, por causa de trabalho, faculdade e o caramba.
E talvez fosse por isso, por não ter tanto contato com ela antes que ela se fosse, que nos primeiros meses era como se ela estivesse viva ainda, lá na casinha dela, só esperando que eu a fizesse uma visita. Demorou um certo tempo pra que essa impressão de ela estar longe, mas viva, fosse se apagando.
No finalzinho do mês passado fui à missa de um ano e, diferentemente do que aconteceu na missa de sete dias, eu não chorei. Acho que superei um pouco o que aconteceu.
Ou então, deixei a tristeza em suspenso.
Talvez seja isso, já que até hoje não consegui visitar o túmulo dela.
Trabalhei durante meses encostada no cemitério (praticamente dentro) onde ela foi enterrada e não tive coragem de pegar o caminho que levava ao túmulo dela. Acho que é medo de encarar o que aconteceu. Medo de me lembrar do funeral, que foi a ocasião que mais chorei na vida.
E o mais estranho é que, durante o velório, assim que estavam levando o caixão para começarmos o funeral, estávamos eu e minha família reunidos, e eu ainda olhei pra trás, procurando minha avó no meio dos que estavam lá, pra ela não se perder de nós: a avó que tinha acabado de falecer!
Foi difícil eu me acostumar com essa idéia. Muito.
Mas hoje eu estou um pouco melhor, apesar de não conseguir encarar algumas coisas ainda.
Passei a ficar mais próxima da minha outra avó, pra evitar que eu cometesse o mesmo erro. Hoje estou morando com ela, em vez de morar com meus pais, e espero continuar assim, pra que eu passe o máximo de tempo próxima dela. E foi morando com ela que eu percebi aquilo que você disse, de os papéis terem se invertido. Ela continua cuidando de mim, mas eu cuido bastante dela também. Eu a ajudo a carregar as coisas mais pesadas da compra, eu a vigio enquanto atravessamos a rua, eu é que verifico o que está acontecendo quando ela ouve algum barulho estranho (ela morre de medo de ladrão), eu fico acordada esperando ela terminar de tomar banho (mania dela) ^^
E meus pais ainda perguntam se eu quero morar com eles na casa nova. Será que tenho que explicar tudo isso? Fico triste por eles não entenderem sem que eu explique. É meio óbvio que eu queira continuar morando com ela pra cuidar dela, não é? Eu não iria deixá-la sozinha.
Enfim, espero que você consiga superar o que houve, mas ao mesmo tempo fico feliz por ter tido uma boa relação com a sua avó. Acho que assim é melhor. Sem culpas, sem ressentimentos.
Bom, é isso. Só queria dizer que acho que entendo como você se sente.
Re: Maria Nilza
............... Sem comentários \cry
Agora editando esse post, lamento demais pela tua avó porquê eu sei como é perder alguém que você ama e que te entende. Crow, eu não tenho palavras pra lhe dizer, apenas força pra seguir em frente.
Agora editando esse post, lamento demais pela tua avó porquê eu sei como é perder alguém que você ama e que te entende. Crow, eu não tenho palavras pra lhe dizer, apenas força pra seguir em frente.
Última edição por Akane Kurohana ~ em Qua maio 16, 2012 7:24 pm, editado 1 vez(es)
Re: Maria Nilza
Eita porra... Dá-lhe lembranças do meu avô...
O cara que fazia carrinhos de madeira pra mim usando não mais do que um canivete velho (do qual ele não se separava).
O cara que me ensinou a fazer estilingue, stoc, espingarda com cano de guarda-chuvas, peões, arapucas e um milhão de outras traquinagens da época em que crianças brincavam utilizando a própria energia, e não a elétrica.
O cara ao lado de quem eu cresci assistindo Chaves, que tinha incontáveis cadernos de desenhos, que me emprestava o isqueiro pra eu brincar com bombinha (e, com isso, deixava minha mãe fula da vida).
O cara que fez de mim o cozinheiro que sou hoje (sim, Sir Panzer cozinha muito bem, modéstia a parte).
O cara que, pouco antes de completar 87 anos em 2008 viu-se livre do enfisema pulmonar.
Recusei-me a ir ao velório, não era a imagem que eu queria guardar do meu "vô".
Meus mais sinceros sentimentos, pra qualquer coisa pode contar comigo, Crow!
O cara que fazia carrinhos de madeira pra mim usando não mais do que um canivete velho (do qual ele não se separava).
O cara que me ensinou a fazer estilingue, stoc, espingarda com cano de guarda-chuvas, peões, arapucas e um milhão de outras traquinagens da época em que crianças brincavam utilizando a própria energia, e não a elétrica.
O cara ao lado de quem eu cresci assistindo Chaves, que tinha incontáveis cadernos de desenhos, que me emprestava o isqueiro pra eu brincar com bombinha (e, com isso, deixava minha mãe fula da vida).
O cara que fez de mim o cozinheiro que sou hoje (sim, Sir Panzer cozinha muito bem, modéstia a parte).
O cara que, pouco antes de completar 87 anos em 2008 viu-se livre do enfisema pulmonar.
Recusei-me a ir ao velório, não era a imagem que eu queria guardar do meu "vô".
Meus mais sinceros sentimentos, pra qualquer coisa pode contar comigo, Crow!
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Re: Maria Nilza
Sinto muito pela sua perda Crow.
Não tenho o que dizer, nunca tive em situações como essa (despedidas me emocionam). Mas só quero dizer que enquanto você tiver as lembranças, basta fechar os olhos e imaginar, que terá pelo menos a minima sensação de estar no colo da sua avó. Infelizmente é o que a vida nos deixa, as recordações daquilo que um dia foi a razão da nossa existência...
Não tenho o que dizer, nunca tive em situações como essa (despedidas me emocionam). Mas só quero dizer que enquanto você tiver as lembranças, basta fechar os olhos e imaginar, que terá pelo menos a minima sensação de estar no colo da sua avó. Infelizmente é o que a vida nos deixa, as recordações daquilo que um dia foi a razão da nossa existência...
Re: Maria Nilza
Perder alguém nunca é bom. Vi minha mãe desacreditar de Deus e o cão de dor depois de perder os pais de uma só vez.
Mas pelo menos vc tem lembranças que te confortam agora.
Eu sei que nada agora vai te animar, mas quem sabe sua vó esteja ai num lugar melhor, es espirito, olhando pra você?! ^^
Mas pelo menos vc tem lembranças que te confortam agora.
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Re: Maria Nilza
Muito, muito obrigado pelas palavras de vocês. Sei que muitas vezes as pessoas ficam "sem ter o que falar" nesse tipo de situação desagradável, então imagino que não tenha sido fácil postar algo aqui. Valeu mesmo.
kyokun escreveu:Eu tenho certeza que eu não diria as coisas boas que eu disse nos parágrafos acima se tivesse lido tudo antes de comentar, acho que talvez eu iria apenas tentar te consolar, mas com você eu sei que sempre posso fazer diferente. Por isso eu não vou te dizer mais nada além disso.
É por essas e outras que eu gosto de ti.
Ma escreveu:Mas esses momentos que viveu com ela - não precisam necessariamente serem os melhores - ficarão sempre guardados com você.
Uhum. Cê tá certíssima.
TiNoSa escreveu:Poxa, Crow, você conseguiu arrancar lágrimas minhas aqui.
Acho que é porque entendo como você se sente.
Bah, TiN. Se eu pudesse, te abraçava agora.
TiNoSa escreveu:Bom, é isso. Só queria dizer que acho que entendo como você se sente.
Bonita, sua história. Me soa mesmo familiar, por ser parecida com a minha. Acho que é sempre bom saber que somos compreendidos, que não estamos sozinhos.
Akane Kurohana ~ escreveu:............... Sem comentários \cry
Agora editando esse post, lamento demais pela tua avó porquê eu sei como é perder alguém que você ama e que te entende. Crow, eu não tenho palavras pra lhe dizer, apenas força pra seguir em frente.
Valeu, Kuro. Todo mundo aqui em casa vai precisar de força, sim. Mas vamos nessa, um dia de cada vez.
Sir Panzer escreveu:Eita porra... Dá-lhe lembranças do meu avô...
O cara que fazia carrinhos de madeira pra mim usando não mais do que um canivete velho (do qual ele não se separava).
O cara que me ensinou a fazer estilingue, stoc, espingarda com cano de guarda-chuvas, peões, arapucas e um milhão de outras traquinagens da época em que crianças brincavam utilizando a própria energia, e não a elétrica.
O cara ao lado de quem eu cresci assistindo Chaves, que tinha incontáveis cadernos de desenhos, que me emprestava o isqueiro pra eu brincar com bombinha (e, com isso, deixava minha mãe fula da vida).
O cara que fez de mim o cozinheiro que sou hoje (sim, Sir Panzer cozinha muito bem, modéstia a parte).
Seu vô parece ser foda. O tipo de pessoa que eu gostaria de ter conhecido.
Sir Panzer escreveu:Meus mais sinceros sentimentos, pra qualquer coisa pode contar comigo, Crow!
Agradeço, Panzer.
kri escreveu:Melhoras, cara.
A dor nunca vai passar totalmente.
É um vazio que nada nem qualquer outra pessoa será capaz de preencher.
A dor nunca vai passar totalmente, mas vai melhorar com o tempo.
Vai melhorar.
Bem por aí. Pensamos parecido.
Hikaru escreveu:Mas só quero dizer que enquanto você tiver as lembranças, basta fechar os olhos e imaginar, que terá pelo menos a minima sensação de estar no colo da sua avó.
Cê praticamente leu meus pensamentos. Sonhei com isso ontem.
Foi bom.
Deeh Namikaze escreveu:Eu sei que nada agora vai te animar, mas quem sabe sua vó esteja ai num lugar melhor, es espirito, olhando pra você?! ^^
Quem sabe. Ela queria muito me ver formado. Espero que consiga, não importa aonde esteja.
É um pensamento que conforta.
Crow J, que está melhor.
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Re: Maria Nilza
Confesso que chorei aqui.
Eu perdi meu avô quando era muito pequena, sou a unica das minhas primas que não tem lembranças dele, tenho uma vaga de mim tentando olhar ele no caixão...
Confesso também que sinto um pouco de inveja de quem tem uma relação assim com seus avos, minha avó materna mora longe, e me distanciei da paterna quando ela ficou doente, eu tinha medo quando era menor.
Seu texto me lembrou muito minha avó materna, o mesmo jeito tradicional, mas diferente da sua, a minha vive cozinhando grudada no velho fogão a lenha, vai ser doloroso ver aquela casa sem ela um dia, por sua presença la ser tao marcante pra mim.
Mudando um pouco, minha mãe tem uma idade meio avançada, 54 anos... Além de uma doença no coração a qual ela fez cirurgia a 6 anos, meu maior medo nesse mundo e perde-la. Ver ela tao abalada pela morte de uma irma, do pai e agora a separação, não sei o que fazer, quando a presença se que sempre esteve ao meu lado por tudo desaparecer.
Eu perdi meu avô quando era muito pequena, sou a unica das minhas primas que não tem lembranças dele, tenho uma vaga de mim tentando olhar ele no caixão...
Confesso também que sinto um pouco de inveja de quem tem uma relação assim com seus avos, minha avó materna mora longe, e me distanciei da paterna quando ela ficou doente, eu tinha medo quando era menor.
Seu texto me lembrou muito minha avó materna, o mesmo jeito tradicional, mas diferente da sua, a minha vive cozinhando grudada no velho fogão a lenha, vai ser doloroso ver aquela casa sem ela um dia, por sua presença la ser tao marcante pra mim.
Mudando um pouco, minha mãe tem uma idade meio avançada, 54 anos... Além de uma doença no coração a qual ela fez cirurgia a 6 anos, meu maior medo nesse mundo e perde-la. Ver ela tao abalada pela morte de uma irma, do pai e agora a separação, não sei o que fazer, quando a presença se que sempre esteve ao meu lado por tudo desaparecer.
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Re: Maria Nilza
Miyuki escreveu:Mudando um pouco, minha mãe tem uma idade meio avançada, 54 anos... Além de uma doença no coração a qual ela fez cirurgia a 6 anos, meu maior medo nesse mundo e perde-la. Ver ela tao abalada pela morte de uma irma, do pai e agora a separação, não sei o que fazer, quando a presença se que sempre esteve ao meu lado por tudo desaparecer.
Só tem uma coisa que dá pra você fazer: aproveite sua mãe. Aproveite ao máximo a companhia dela. Não desvalorize o tempo que vocês ainda têm juntas.
Cê nunca vai achar que foi suficiente, mas as coisas são assim mesmo. Faça seu melhor, um abraço de cada vez.
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