[Fic/Original]Asas de anjo

"Pare com isso!" Era minha mãe gritando e batendo na porta do meu quarto.
"Cale a boca vadia! ouhh!" Estava aquele homem em cima de mim,me machucando,fazendo coisas que eu não deveria conhecer antes da minha adolescência.
Eu chorava pela dor. Ele me apertava e se colocava entre as minhas pernas,indo e voltando,gemendo sem parar.
-Filha?- Ouvi uma voz suave e a luz passando pela fresta da cortina.
-Oi mãe... - Ela passou a mão no meu rosto,secando as lágrimas,o olho dela estava roxo e o rosto vermelho e inchado.
-Acabou,ele não vai mais te machucar. - Ela sorriu e eu olhei ao redor. Pude ver muito sangue e o corpo do meu pai estirado do chão. - Nunca mais.
Ela se levantou e tirou roupas limpas do armário pra mim,disse para me trocar pois iríamos embora.
Fiz o que ela disse e ela também se arrumou,encontrei-a na cozinha,escrevendo algo em um pequeno papel,terminou,sorriu pra mim e se levantou para encontrar minha mão com a sua e me levar porta a fora.
Chegando nas escadas ouvimos sirenes e pessoas falando.Subimos até o telhado e ficamos na beirada para observar uma multidão que se formava com os moradores,policiais,bombeiros e outros profissionais mais.
Minha mãe me soltou,me deu um beijo na testa:
-Vou virar um anjo e te proteger sempre!- Subiu no parapeito,pulou. Eu fiquei em choque e meus gritos e choro se misturaram aos da multidão enquanto me carregavam para uma ambulância.

-Aff você com essas invenções! - Dizia pro moreno ao meu lado,voltando a atenção pro meu celular.
-Ah tá. Cê acha que aquele prédio do lado da estação tá abandonado a toa? - Ele cruzou os braços e me encarando.
-Só é um prédio abandonado. A empresa que o fez deve ter falido e não conseguiu vender,ou sei lá. Só tem mendigos e drogados lá agora. - Dei de ombros.
-Então tá. Se você acha mesmo isso a gente vai lá hoje de noite com a galera.
-Feito! - Encerramos o assunto por ali e não nos comunicamos até a noite.
Todos se reuniram na frente da estação,umas 10 pessoas,todos colegas do prédios onde morava,a maioria se conhecia desde criança. Fomos caminhando,fazendo brincadeiras e muito barulho. O tal edifício da garota tinha 5 andares,janelas quebradas,mato crescendo entre os azulejos.
-Dizem que ela fugiu do hospício e tava vivendo aqui escondida! - O moreno continuou com sua historinha.
-Ah que besteira!- Disse uma amiga minha de cabelo curto.
-Só tem um monte de bituca de marafa e camisinha velha - Um garoto mais gordinho disse chutando algumas madeiras no chão.
Eles ficaram brincando e fazendo piadas,mas olhando ao longe uma porta aos fundos tinha me chamado a atenção. Nem perceberam que eu tinha saído. Em silêncio empurrei uma moldura daquelas com telas de mosquito e subi uma escada que rangia muito. O andar de cima tinha algumas portas arrombadas,colchões velhos e roupas rasgadas largados por lá,nada de mais até escutar alguns ruídos. Podiam ser ratos,e outros bichos. Fui andando até o final do corredor,meu maior erro.
Havia sangue em todas as paredes,coisas estranhas,palavras escritas aleatórias. Corpos de homens no chão,resto de comida e roupas rasgadas. Ouvi uma respiração forte e olhei pra trás.Uma garota com um sorriso largo,magra,me segurou cravando as unhas nas minhas costas.
-Onde estão suas asas de anjo mamãe?! Eu quero ver você voar! - Ela arregalou os olhos e me arrastou correndo.
A ultima coisa que me lembro foi do vidro quebrando,de um forte impacto,dor,meus amigos correndo.

-Tinha uma garota lá. - eu afirmei ao policial que me interrogava no hospital.
-Nós investigamos e a única coisa que notamos é que você apoiou numa grade que soltou e você caiu da janela do primeiro andar.
-Eu juro! Tinha uma garota e muitos corpos mortos.Sangue!
-Olha,nós vamos continuar procurando por qualquer suspeito na área,tudo foi isolado.
-Filha,descanse. Meu pai veio me acalentar e se virou para os policiais,agradecendo-os pelo trabalho.
Passaram-se alguns anos. Depois de uma demorada reabilitação eu consegui sair do hospital sem muitas sequelas. Algumas dores e cicatrizes,e um pesadelo com a garota e aqui e ali,mas a terapia,meu marido e minha filha me ajudavam sempre,até aquela noite.

-Solta ela desgraçado! - Puxei o braço do meu marido que apertava a garotinha. Coloquei a faca em frente ao corpo,ameaçando-o.
Minha filha chorava muito,estava com as roupas rasgadas e vários hematomas no corpo.
-Ela está tendo o que merece vaca! - ele apontou pra mim,segurando as calças e gritando. - A culpa é sua dela ser assim! Saia da minha frente! - Ele tentou passar, eu o cortei no braço. Ele ficou furioso e avançou sobre mim,eu continuei parada e a lâmina afundou em seu abdômen. Ele se afastou com a mão no local do corte,caiu de joelhos e depois deitou parando de se mexer. Olhei pra minha filha e chorei.
-Não pude te proteger,me desculpe. - E levei a faca de um lado a outro do pescoço.

-Coitada tão nova e perdeu os pais assim. - Cochichou uma mulher vestida de branco,bem alta.
-Temos que arranjar um bom lar pra ela. - Disse outra com um rabo de cavalo.
Abriram uma porta e encontraram o desenho de asas e palavras aleatórias na parede,todos feitos com sangue.
A garotinha estava de cócoras num canto,resmungando. As mulheres se assustaram,uma correu chamando um médico e outro tipo de ajuda,a mais alta se aproximou tentando se comunicar,quando a tocou a menina se virou com os olhos arregalados:
-Você é um anjo? Veio me proteger?!
E antes de voltarem à sala,só puderam ouvir um grito.
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Atrasada 2 dias,mas antes tarde do que nunca. Odiei. Eu tentei escrever uma antes,mas também ficou ruim. Fazer o que...falta de inspiração.