Cem anos de solidão é tempo pra caramba.
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Cem anos de solidão é tempo pra caramba.
Não há permissão pra melancolia em horário comercial, não existe lugar para o meu desagrado existencial na presença da minha família honesta e trabalhadora que fez tudo por mim e não merece minha expressão de desolação na hora da novela, não há espaço pra ser triste em pé no metrô lotado, não tem como sentar no chão da cozinha e chorar enquanto a pia tá abarrotada de louça, e a roupa no tanque, e a vida correndo sob meus pés e o tempo sendo o dinheiro que eu nunca vejo e tudo o mais e tudo sempre e tudo o tempo todo.
Minha melancolia é criminosa. É ofensiva. Um cuspe amarelo e gosmento na cara de quem tem que olhar pra mim todos os dias. Como você ousa estar tão triste quando você tem tudo. Essa eu ouvia da minha mãe: "Você tem tudo o que quer e ainda reclama", ao que eu respondia, insolentemente, com raiva e ressentimento: "Não tenho tudo, muito menos tudo o que quero!". A língua não diminuiu, mas essas respostas certamente não aparecem. E nem essas perguntas. Ultimamente, não temos tempo pra ter esse tipo de conversa. De qualquer forma, a questão nunca foi ter ou não ter. E que argumento mais pobre esse de "você tem tudo o que quer, não reclame". Ora, vai pro inferno! Eu devia estar feliz por ter uma graduação que vai me levar a um futuro não muito desejado, por ser um "cidadão respeitado" e um bom filho?
Só que não estou.
Com o tempo, eu fui percebendo que minha tristeza traz consigo um pouco de inconformismo e rebeldia. E nada me parece mais certo do que ser inconformado em uma sociedade que cobra felicidade, como se felicidade fosse a porra do imposto de renda. E aí vem você me dizer que eu preciso de uma terapia, e eu vou lá, fazer perninha de índio no estofado de uma desconhecida para esperar ela dizer que tem algo de errado comigo, e quando me for passada a palavra, eu vou dizer pra ela e pro mundo de normatividade que ela representa:
- Eu não quero me adaptar.
Minha melancolia é criminosa. É ofensiva. Um cuspe amarelo e gosmento na cara de quem tem que olhar pra mim todos os dias. Como você ousa estar tão triste quando você tem tudo. Essa eu ouvia da minha mãe: "Você tem tudo o que quer e ainda reclama", ao que eu respondia, insolentemente, com raiva e ressentimento: "Não tenho tudo, muito menos tudo o que quero!". A língua não diminuiu, mas essas respostas certamente não aparecem. E nem essas perguntas. Ultimamente, não temos tempo pra ter esse tipo de conversa. De qualquer forma, a questão nunca foi ter ou não ter. E que argumento mais pobre esse de "você tem tudo o que quer, não reclame". Ora, vai pro inferno! Eu devia estar feliz por ter uma graduação que vai me levar a um futuro não muito desejado, por ser um "cidadão respeitado" e um bom filho?
Só que não estou.
Com o tempo, eu fui percebendo que minha tristeza traz consigo um pouco de inconformismo e rebeldia. E nada me parece mais certo do que ser inconformado em uma sociedade que cobra felicidade, como se felicidade fosse a porra do imposto de renda. E aí vem você me dizer que eu preciso de uma terapia, e eu vou lá, fazer perninha de índio no estofado de uma desconhecida para esperar ela dizer que tem algo de errado comigo, e quando me for passada a palavra, eu vou dizer pra ela e pro mundo de normatividade que ela representa:
- Eu não quero me adaptar.
Neoshadow- Furious Witch
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Re: Cem anos de solidão é tempo pra caramba.
Eu tava falando sobre algo parecido com a minha amiga ontem: Eu disse pra ela que não gostava de quando me sentia bem porque eu já tinha me acostumado a ficar mal na maioria dos dias. "Eu me sinto bem quando eu não estou bem."
E ela me respondeu que pensava a mesma coisa e que foi sempre ela que destruiu todos os relacionamentos que ela já teve com alguém porque antes disso ela já tinha se acostumado a ficar sozinha e se sentir mal. E aí quando ela encontrava alguém que ela conseguisse gostar ela se sentia bem/feliz e começava a achar estranho e que não era ela.
'etc'
E ela me respondeu que pensava a mesma coisa e que foi sempre ela que destruiu todos os relacionamentos que ela já teve com alguém porque antes disso ela já tinha se acostumado a ficar sozinha e se sentir mal. E aí quando ela encontrava alguém que ela conseguisse gostar ela se sentia bem/feliz e começava a achar estranho e que não era ela.
'etc'
Ynys Wydryn- Obsessive Prince
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