Um filme de terror gore italiano qualquer.
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Um filme de terror gore italiano qualquer.
Prosa machuca.
Sempre fui de prosa. Comecei a escrever com dez anos de idade, depois de assistir um filme de terror particularmente marcante. Eu senti tanto medo - e, ao mesmo tempo, algo a mais, algo que ainda não deram nome, um sentimento geral de uma excitação incontida - que eu precisei colocar no papel aquilo que se passava pela minha cabeça, exatamente as impressões que eu tive enquanto ia assistindo aquelas cenas que me pareciam tão estranhas e, ainda assim, tão fascinantes. Foi assim que construí a minha primeira história. Palavra por palavra, oração por oração, até que suas estruturas já estivessem firmes o suficiente para criar vida própria.
A poesia eu demorei a entender. A poesia demorou pra entrar em minha pele, e eu nunca consegui entrar na pele dela. Já era mais velho quando a poesia conseguiu germinar uma semente tímida no meu solo duro e escuro de prosa. E, desde então, tenho cuidado muito bem do meu pequeno jardim de Poesia. Eu rego, eu adubo, eu amo tanto a sua beleza que às vezes me dá vontade de meter uma redoma de vidro ao redor do pequeno canteiro, para impedir que o vento seco e a chuva ácida da minha prosa atinjam as pétalas das flores ou tirem o viço verde das folhas.
A prosa é dura. A prosa é afiada. A prosa dói. A prosa machuca. E a prosa, meus amigos, não machuca no susto, como folha sulfite que corta dedos de pessoas distraídas. A prosa machuca de propósito. A prosa mira no seu braço pra te fazer sentir dor, mas nunca na cabeça, porque não quer que você perca os sentidos. Ela quer você acordado e em prantos. Falando assim posso fazer entender errado. Falando assim, a prosa fica parecendo um médico insano de filme de terror, que opera sem anestesia só pelo sadismo. Não, não. A prosa não é esse cara, é outra coisa. A prosa machuca, e ela também magoa. É aquela ex-namorada que devolve suas coisas sabendo o significado emocional de cada objeto e - por mais que você acabe queimando tudo e não a ame mais - ela sabe que, em algum lugar, doeu. A prosa é aquele cara amargo que mete o dedo na sua cara, te ofende, ri com deboche de tudo em que você acredita e sempre consegue destruir com realidade o pouco de esperança que ainda teima em restar. Se a prosa fosse coisa, seria foto em preto e branco, seria história que se conta com textura, e não com cores. A prosa é caminhada sem sapato em baixo do Sol; não pela tortura, mas porque há de se caminhar.
Na prosa é tudo muito preciso. Há precisão de tudo. É chão rachado, sol escaldante, suor nas têmporas, dores nas pernas. É noite sombria, frio que congela os ossos, silêncio e solidão, respiração pesada. Prosa é metrópole, ônibus lotado, metrô lotado, trânsito caótico, grandes distâncias, cansaço no fim do expediente, salário curto. É o asfalto sujo contra os sapatos pesados, sorriso quebrado do travesti, gente feia e pobre no bar, vomitar no meio-fio, gosto de bile e sangue na garganta. Prosa é o dinheiro jogado às pressas pro traficante, a ponta do cigarro brilhando no ar poluído, o som vítreo da garrafa de bebida barata, o álcool queimando a boca, a língua, o esôfago. É a solidão de quarto de motel enquanto o outro dorme: prosa.
Prosa machuca.
Não porque ela queira, mas porque ela é feita de coisas que machucam e mesmo esse céu, as estrelas e todo o amor que houver nessa vida, se a poesia não levar... Ah, machuca. E vira prosa. A prosa machuca, mas não é por nada. O médico nazista de filme de terror gore italiano - aquele que você assistiu sem querer quando tinha 10 anos de idade -, tirando todas as suas vísceras e mostrando pra você, isso não é prosa. Isso é poesia pura. Mas quando você perceber, as flores do mal já estarão enraizadas nas suas entranhas, se alimentando de seu sangue e de seu desespero, e então será tarde demais.
Sempre fui de prosa. Comecei a escrever com dez anos de idade, depois de assistir um filme de terror particularmente marcante. Eu senti tanto medo - e, ao mesmo tempo, algo a mais, algo que ainda não deram nome, um sentimento geral de uma excitação incontida - que eu precisei colocar no papel aquilo que se passava pela minha cabeça, exatamente as impressões que eu tive enquanto ia assistindo aquelas cenas que me pareciam tão estranhas e, ainda assim, tão fascinantes. Foi assim que construí a minha primeira história. Palavra por palavra, oração por oração, até que suas estruturas já estivessem firmes o suficiente para criar vida própria.
A poesia eu demorei a entender. A poesia demorou pra entrar em minha pele, e eu nunca consegui entrar na pele dela. Já era mais velho quando a poesia conseguiu germinar uma semente tímida no meu solo duro e escuro de prosa. E, desde então, tenho cuidado muito bem do meu pequeno jardim de Poesia. Eu rego, eu adubo, eu amo tanto a sua beleza que às vezes me dá vontade de meter uma redoma de vidro ao redor do pequeno canteiro, para impedir que o vento seco e a chuva ácida da minha prosa atinjam as pétalas das flores ou tirem o viço verde das folhas.
A prosa é dura. A prosa é afiada. A prosa dói. A prosa machuca. E a prosa, meus amigos, não machuca no susto, como folha sulfite que corta dedos de pessoas distraídas. A prosa machuca de propósito. A prosa mira no seu braço pra te fazer sentir dor, mas nunca na cabeça, porque não quer que você perca os sentidos. Ela quer você acordado e em prantos. Falando assim posso fazer entender errado. Falando assim, a prosa fica parecendo um médico insano de filme de terror, que opera sem anestesia só pelo sadismo. Não, não. A prosa não é esse cara, é outra coisa. A prosa machuca, e ela também magoa. É aquela ex-namorada que devolve suas coisas sabendo o significado emocional de cada objeto e - por mais que você acabe queimando tudo e não a ame mais - ela sabe que, em algum lugar, doeu. A prosa é aquele cara amargo que mete o dedo na sua cara, te ofende, ri com deboche de tudo em que você acredita e sempre consegue destruir com realidade o pouco de esperança que ainda teima em restar. Se a prosa fosse coisa, seria foto em preto e branco, seria história que se conta com textura, e não com cores. A prosa é caminhada sem sapato em baixo do Sol; não pela tortura, mas porque há de se caminhar.
Na prosa é tudo muito preciso. Há precisão de tudo. É chão rachado, sol escaldante, suor nas têmporas, dores nas pernas. É noite sombria, frio que congela os ossos, silêncio e solidão, respiração pesada. Prosa é metrópole, ônibus lotado, metrô lotado, trânsito caótico, grandes distâncias, cansaço no fim do expediente, salário curto. É o asfalto sujo contra os sapatos pesados, sorriso quebrado do travesti, gente feia e pobre no bar, vomitar no meio-fio, gosto de bile e sangue na garganta. Prosa é o dinheiro jogado às pressas pro traficante, a ponta do cigarro brilhando no ar poluído, o som vítreo da garrafa de bebida barata, o álcool queimando a boca, a língua, o esôfago. É a solidão de quarto de motel enquanto o outro dorme: prosa.
Prosa machuca.
Não porque ela queira, mas porque ela é feita de coisas que machucam e mesmo esse céu, as estrelas e todo o amor que houver nessa vida, se a poesia não levar... Ah, machuca. E vira prosa. A prosa machuca, mas não é por nada. O médico nazista de filme de terror gore italiano - aquele que você assistiu sem querer quando tinha 10 anos de idade -, tirando todas as suas vísceras e mostrando pra você, isso não é prosa. Isso é poesia pura. Mas quando você perceber, as flores do mal já estarão enraizadas nas suas entranhas, se alimentando de seu sangue e de seu desespero, e então será tarde demais.
Neoshadow- Furious Witch
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Re: Um filme de terror gore italiano qualquer.
Que legal esse texto, não tava esperando por isso. Li o título do tópico e jurei que você iria comentar sobre algum filme que assistiu recentemente, asuhasu.
Tenho certeza que minha mãe iria gostar de conhecer você ^^
Eu admiro quem tem esse talento (ou habilidade) pra escrita.
E o que você quis passar com seu texto mostra que você não só tem a habilidade pra escrever, mas também a sensibilidade pra apreciar e entender esses dois tipos de texto.
No meu caso, além de eu não ser boa com as palavras, essa sensibilidade pra apreciar prosa e poesia é algo que eu sinto que ainda estou desenvolvendo. No caso das poesias, foi o que mais demorou. Deve ser assim com quase todo mundo, né?
Agora, pra escrever eu não levo jeito mesmo, uhasuhauhs.
Tenho certeza que minha mãe iria gostar de conhecer você ^^
Eu admiro quem tem esse talento (ou habilidade) pra escrita.
E o que você quis passar com seu texto mostra que você não só tem a habilidade pra escrever, mas também a sensibilidade pra apreciar e entender esses dois tipos de texto.
No meu caso, além de eu não ser boa com as palavras, essa sensibilidade pra apreciar prosa e poesia é algo que eu sinto que ainda estou desenvolvendo. No caso das poesias, foi o que mais demorou. Deve ser assim com quase todo mundo, né?
Agora, pra escrever eu não levo jeito mesmo, uhasuhauhs.
Dead.Doll- Demented Stranger
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Re: Um filme de terror gore italiano qualquer.
TiNoSa escreveu:Que legal esse texto, não tava esperando por isso. Li o título do tópico e jurei que você iria comentar sobre algum filme que assistiu recentemente, asuhasu.
Tenho certeza que minha mãe iria gostar de conhecer você ^^
Eu admiro quem tem esse talento (ou habilidade) pra escrita.
E o que você quis passar com seu texto mostra que você não só tem a habilidade pra escrever, mas também a sensibilidade pra apreciar e entender esses dois tipos de texto.
No meu caso, além de eu não ser boa com as palavras, essa sensibilidade pra apreciar prosa e poesia é algo que eu sinto que ainda estou desenvolvendo. No caso das poesias, foi o que mais demorou. Deve ser assim com quase todo mundo, né?
Agora, pra escrever eu não levo jeito mesmo, uhasuhauhs.
O título é uma metáfora pra tudo o que eu disse no texto. Mas tenho certeza de que você notou isso.
Por que sua mão gostaria de me conhecer? Eu infelizmente não tenho a habilidade de fazer com que todas as mães gostem de mim automaticamente - algo que eu invejo na Kat, por exemplo.
Ah, obrigado. Eu to nessas vibes de tentar justificar o que faço, sabe? To com essa crise de auto-consciência que não tenho conseguido controlar ultimamente, então to tentando deixar as coisas um pouco mais claras - nem que seja para mim mesmo, de uma forma que só eu entenda; ou, no caso, com uma linguagem própria da poesia e da prosa. Nem que, para isso, eu tenha que criar algumas coisas, transformar outras.
A poesia só começou a "entrar" em mim no ensino médio, numa aula de Literatura em que falávamos sobre o Romantismo. Li uma poesia do Álvares de Azevedo ("Por que mentiras, leviana e bela?, se minha face pálida sentias queimada pela febre, e se minha vida tu vias desmaiar, por que mentias?") e combinou completamente com a vibe que eu tava na época (uma coisa entre "The Jesus & Mary Chains" e "The Cure"). Mas meu vício começou - olha só, que coincidência - com os simbolistas. Alguma coisa na linguagem sombria - e estranhamente divertida - do Baudelaire me atraiu, e os versos de Cruz e Sousa eram tão musicais que eu mal conseguia resistir. Aí veio Augusto dos Anjos, e eu não me segurei mais haha
Como eu deixei bem claro no texto, a escrita é algo que vai surgindo em você. Ninguém nasce com isso. É claro, existem aqueles que têm um talento que até eu sou tentado a classificar como "inato", mas no fim a prática leva à perfeição. Acho que muito do que a gente escreve vem do que a gente lê, então uma boa forma de praticar é lendo - sim, eu acredito nisso. haha
Dead.Doll escreveu:Lindo...
Eu ou o texto?
Obrigado pela leitura, querida.
Neoshadow- Furious Witch
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Título de Nobreza : Duque de Turandor
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Re: Um filme de terror gore italiano qualquer.
Porque minha mãe também gosta de escrever. Quase sempre que leio um texto seu aqui no fórum eu lembro da minha mãe. Às vezes eu acho que ela falaria as mesmas coisas.Neoshadow escreveu:O título é uma metáfora pra tudo o que eu disse no texto. Mas tenho certeza de que você notou isso.
Por que sua mão gostaria de me conhecer? Eu infelizmente não tenho a habilidade de fazer com que todas as mães gostem de mim automaticamente - algo que eu invejo na Kat, por exemplo.
Ah, obrigado. Eu to nessas vibes de tentar justificar o que faço, sabe? To com essa crise de auto-consciência que não tenho conseguido controlar ultimamente, então to tentando deixar as coisas um pouco mais claras - nem que seja para mim mesmo, de uma forma que só eu entenda; ou, no caso, com uma linguagem própria da poesia e da prosa. Nem que, para isso, eu tenha que criar algumas coisas, transformar outras.
A poesia só começou a "entrar" em mim no ensino médio, numa aula de Literatura em que falávamos sobre o Romantismo. Li uma poesia do Álvares de Azevedo ("Por que mentiras, leviana e bela?, se minha face pálida sentias queimada pela febre, e se minha vida tu vias desmaiar, por que mentias?") e combinou completamente com a vibe que eu tava na época (uma coisa entre "The Jesus & Mary Chains" e "The Cure"). Mas meu vício começou - olha só, que coincidência - com os simbolistas. Alguma coisa na linguagem sombria - e estranhamente divertida - do Baudelaire me atraiu, e os versos de Cruz e Sousa eram tão musicais que eu mal conseguia resistir. Aí veio Augusto dos Anjos, e eu não me segurei mais haha
Como eu deixei bem claro no texto, a escrita é algo que vai surgindo em você. Ninguém nasce com isso. É claro, existem aqueles que têm um talento que até eu sou tentado a classificar como "inato", mas no fim a prática leva à perfeição. Acho que muito do que a gente escreve vem do que a gente lê, então uma boa forma de praticar é lendo - sim, eu acredito nisso. haha
Ela escrevia contos, mas costuma escrever mais poesias. Já até ganhou concursos de ambos, ashuashu. Ela gosta de ler bastante também e curte Game of Thrones assim como você, ou seja, vocês têm algumas coisas em comum ^^
No meu caso, acho que não teve um "turning point" pra eu começar a apreciar poesia. Foi algo bem gradual. Até hoje não posso dizer que sou fã de poesia como eu diria que sou fã de anime e mangá, porque a poesia nunca entrou completamente na minha vida, mas eu fui aprendendo a gostar mais dela com o passar do tempo.
É, eu imagino. Antes eu achava que escrever bem era um talento, mas depois de ler opiniões de escritores a esse respeito eu vi que a boa escrita é uma habilidade adquirida através de esforço, prática, aprendizado, da mesma forma que a habilidade pra desenho, por exemplo. Muita gente acha que se trata mais de talento do que prática e estudo, mas não.
Pois é, alguns falaram mesmo que ler muito é indispensável pra escrever bem. Vai ver a culpa de eu não ter me envolvido muito com essas coisas foi eu ter me afastado um pouco da literatura nesses últimos anos =P
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