A Vila Escondida Hüwho

Uma pacífica vila escondida entre os bosques das Terras Celestiais. É um refúgio para aqueles que querem evitar o caos de Wushu e as opressoras regras do Rei Celestial.

Keiko e Kimiko tocavam uma bela melodia de violino quando Anita, Acheflour e Fenrisulfr chegaram aos portões prateados de Hüwho. Ambas os encararam e pararam imediatamente com a música. Kimiko os olhava um pouco espantada, mas a outra manteve sua expressão indiferente.

- Sejam bem vindos à Vila Escondida. - disse a garota de orelhas negras de coelho. - Kimiko, vá buscar o presente de boas vindas.



- S-sim, c-claro, Keiko-sama. - gaguejou ela abaixando a cabeça e atravessando os portões da vila.

Acheflour havia escutado uma melodia, e relaxou um pouco devido a isso. Haviam duas meninas, e ela havia chegado na Vila Escondida. Um belo lugar, pensou ela. Acheflour não queria se demorar ali, apesar de tudo, devido à criatura que o trio havia visto. Porém, ela não podia negar que precisavam de descanso.

- Ah, que lugar mais lindo! Olá!

Kimiko retornou em menos de um minuto trazendo três pratos pretos e quadrados que eram bem pequenos, em cada um deles havia um bolinho de arroz branco e fumegante. A garota quase tropeçou nos próprios pés antes de entregá-los aos viajantes. Entregou a eles também palitos para que pudessem comer os bolinhos.

- S-sejam bem vindos! - disse ela se curvando timidamente para cumprimentá-los.



- Por favor, aceitem esse nosso presente. - disse Keiko. - Damos esses bolinhos abençoados para todos os que chegam à nossa vila. Vocês podem entrar assim que terminarem de comer.

Ela olhou para os bolinhos, desconfiada. Tinham uma aparência adorável, porém Acheflour não sabia se devia confiar nas duas meninas.

- Muito adorável, estes bolinhos! - Ela disse, feliz, com o seu em suas mãos, o sorriso malicioso. - Poderia permitir que eu adicione algo ao bolinho? Ah, tenho uma poção que combina perfeitamente com bolinhos de arroz.

A bruxa piscou, percebendo seu erro. Precisava ser cuidadosa. Olhou para Anita e deu um sorriso, sussurrando entre dentes que não havia necessidade.

- De maneira alguma! Perdoe-me, tenho apenas um paladar um tanto... exótico. De fato, a comida de minha terra não me agrada. É um velho costume meu, apenas isso.

Ela olhou o bolinho, e deu uma delicada mordida. O gosto era bom, notou ela, e esperava não estar envenenado.

- Ah, que maravilhoso! Sua comida é divina. Eu poderia comer até outro bolinho, de tão delicioso!

- A culpa foi minha, bela Keiko. Eu deveria ser mais cordial, ora, nada explica minha falta de boas maneiras! - ela disse, ao terminar de comer o bolinho. - Devo admitir, senti o calor amoroso deste bolinho, ah, que adorável, muito obrigadal. A tradição Hüwho me parece interessante, se possível gostaria de sabe mais sobre ela. Ah, e a propósito, meu nome é Acheflour, sou a líder da Casa Valentine. - ela disse, ao ao atravessar a passagem assim como Anita.

Keiko sorriu.

- Está tudo bem. Irei hospedá-las na casa onde durmo todas as noites, pois aqui todas as casas pertencem à todas as pessoas. Temos muito o que conversar se você está interessada em aprender nossas tradições. Kimiko, feche os portões.



Quando todos passaram, a garota obedeceu à ordem sem nada dizer.



Enquanto Keiko as conduzia pelas ruas tranquilas, ia explicando à Acheflour:

- Todos os dias fechamos os portões às seis horas, pois bons viajantes chegam ao dia, maus viajantes chegam à noite.

A Líder Valentine observou que, as poucas pessoas que andavam por ali, vestiam quimonos tradicionais e tinham semblante misteriosamente calmo.

- Você disse algo sobre ser Líder da Casa Valentine, certo? O que isso significa exatamente? - Keiko perguntou enquanto abria a porta de uma casa de madeira. - Tirem os sapatos antes de entrar.

A garota colocou os próprios na varanda, abrindo a porta em seguida para os viajantes.

Acheflour ouvia Keiko com interesse, de fato aquela Vila era interessante. As ruas tranquilas eram muito belas, assim como tudo que ela via ali. Os quimonos que as pessoas usavam pareciam arte, e ela se perguntou como ficaria em um.

- Ah, sobre isso. Talvez eu deva contar minha história? - Disse ela, tirando seus sapatos. - É um pouco longa, mas se quiser ouvir...

- Teremos muito tempo para falar sobre isso mais tarde. Antes vocês precisam relaxar um pouco.

Acheflour, Anita e Fenrisulfr adentraram um hall redondo de aproximadamente dois metros de diâmetro. À direita e à esquerda havia longos corredores que seguiam em linha reta até dobrarem em esquinas. Ao longo dos corredores havia tapeçarias e armas ornamentais decorando as paredes, que eram cobertas por um papel que retratavam o desenho de cerejeiras, também havia muitas portas ao longo dos dois corredores.

Às costas deles estava a porta por onde entraram e à frente havia uma fusuma (painéis retangulares verticais que podem deslizar de lado a lado, podendo servir como porta, são feitas de papel de arroz) enfeitada com pintura de tigres e montanhas. Dos tetos desciam luminárias douradas onde queimavam chamas ardentes contidas em globos ornamentados por artes caligráficas do Povo Celestial.

O cheio de incensos doces inundaram o ar instantaneamente quando Keiko abriu a fusuma, revelando uma grande piscina retangular de águas fumegantes, cobertas por pétalas cor-de-rosa, em meio a um chão branco de mármore, que cobria todo o aposento por detrás da passagem. Aos cantos daquela sala de banho havia plantas exóticas que mergulhavam o cômodo num clima levemente selvagem.

- Apenas mulheres podem entrar. - disse ela fechando a passagem quando Kimiko, Anita e Acheflour passaram, deixando assim Fenrisulfr de fora. - Tirem suas roupas, meninas, vamos tomar um banho.

Acheflour nada mais disse, apenas olhou ao seu redor. Era tudo muito belo tanto dento quanto fora da casa, aquela vila a estava surpreendendo. A fusuma do aposento tinha desenhos que chamaram a atenção da bruxa, e ela sentiu vontade de estudá-los de perto. Os incensos deram a ela uma sensação confortável, o cheiro preenchia seus pulmões e ela se sentia mais leve.

- Ai, ai... Finalmente, uma banho. - Ela suspirou, já tirando suas roupas e indo em direção a piscina.

Acheflour estava apoiada na borda da piscina, os olhos fechados, relaxando. Ela abriu os olhos abruptamente ao ouvir as palavras de Keiko, e abriu a boca, disfarçando rapidamente em um sorriso.

- Ora... Que interessante. O tempo passa de maneira... interessante por aqui. - Ela fechou os olhos novamente, amaldiçoando-se mentalmente por ter vindo para aquele lugar, sem desfazer o sorriso. - Sobre eu ser líder... - Abriu os olhos. - Eu sou a líder de uma das grande Casas, rainha de um castelo, e bruxa. Na realidade, tenho mais de 1000 anos, então não seria bom para a minha pele se eu envelhecesse tão rapidamente mais cem! Ora, imagine só!

Ela ria, um tanto preocupada. - Sendo assim... Anita. - Ela se levantou, virando-se para ela. - Acho que demos ir, já abusamos muito da hospitalidade destas bondosas mulheres!

Acheflour percebeu que aquilo tudo parecia muito estranho. Analisou com cuidado as palavras de Keiko e Kimiko, os olhos estreitos. Pegou o pano que Anita lhe deu, se enxugando rapidamente e se vestindo logo em seguida. Notou que todas olhavam para o relógio, e resolveu olhar também.

- Anita... Precisamos ir. Agora.

Acheflour parou. Não podia abrir o portão para eles, mas tinha que encontrar uma maneira de passar por eles sem muitos problemas.

- Ora! - exclamou Acheflour, pensando no que fazer. - Sinto muito, senhora, mas creio que não posso deixá-los entrar. O vilarejo não é meu, e eles possuem uma regra muito rígida que só permite que viajantes entrem de manhã. - Ela olhou para o garoto. - Mas, se me permitem, eu posso ajudá-los. Tenho uma poção que seria perfeita para curar seu filho, muito poderosa. E, é claro, Anita e eu podemos tentar achar comida para vocês.

Ela olhou para Anita. Não podiam perder dezesseis anos.

- Anita, será que conseguiremos quebrar a maldição?

Acheflour virou-se para Arthur, um pouco surpresa pela língua do menino arder em chamas.

- Que tal eu propor um trato? - Disse, com cautela. - Se eu abrir o portão, vocês terão de nos ajudar a quebrar a maldição. O que acham?

Acheflour sorriu também.

- Fico feliz em ouvir isso. Como garantia, quero que jurem lealdade a mim antes. É apenas uma precaução de rotina, é claro.

Ela se aproximou mais do portão, e colocou suas mãos nele, pronta para abri-lo.

- Eu juro, claro. - sua voz era amável e dócil.



Arthur, ao contrário da mãe, rosnou assustadoramente quando a bruxa se aproximou. Fumaça negra escorria por entre seus dentes sujos.



- Não se preocupe com o Arthur, ele jamais me desobedeceria. - ela acariciou os cabelos do filho. - Não foram esses os modos que lhe ensinei, querido...

Apesar da advertência dada, Mary não parecia nenhum pouco aborrecida ou alvoraçada com o comportamento demoníaco de seu filho.

- Que adorável, - ela sorriu. - Apesar disso, eu preciso da palavra dele. Não me entenda mal, eu quero ajudar vocês, é claro.

Ela olhou direto para ele, o olhar convidando o menino a ir contra ela.

- Juro, doce menino. - Acheflour disse, firme.

Matar Lief?, pensou ela. O que Lief fez para eles?

Ela sorriu. - Acho que você não entendeu, pequenino. Você deve jurar lealdade a mim, e só assim abrirei o portão, não há nenhuma condição a qual devo me submeter. Querem entrar na vila ou não?

Acheflour parou, e virou-se para encarar a clériga guardiã.

- Ora, então esse local de fato tem uma guardiã. - Ela sorriu. - Devo dizer, aqui é muito bonito. É calmo, agradável. Mas, sinto-lhe dizer que, a não ser que me deixe sair sem correr riscos de envelhecer ainda mais... Bom, nesse caso serei forçada a abrir os portões. E, caso não tenha notado, posso muito bem cuidar de tais demônios, já que tenho a lealdade dos mesmos.

- Como se eu fosse me deixar ser manipulada! - Ela soltou uma risada musical, que cessou ao ver Arthur.

Acheflour arfou. Teriam muito trabalho a fazer ali. Ela olhou de relance para Galiene, pensando no que fazer.

- Ora essa, ótimo. Ajude-nos a eliminar o menino e te ajudaremos a se libertar desta tal dívida com sei lá quem. A única coisa que queremos é sair daqui sem perder sequer um dia a mais do justo.

Acheflour também sofreu com a visão. Faltou-lhe o ar por alguns segundos, e sentiu seu corpo todo tremer. Ela olhou para Galiene, séria. Ela sabia o que tinha que fazer.

- Desejo. Por favor, leve-me até tal local.

Continuação.