A Floresta Anciã

É a floresta mais antiga do reino. Costuma ser tranquila e pacífica, mas é lar de elfos, fadas, pixies, gnomos e de outras criaturas traiçoeiras.

Hatsuko estava tão exausta que nem notara que havia adormecido por horas. Quando acordou, sentiu o calor do sol sobre seu rosto, uma sensação que há muitos dias havia se tornado estranha para ela.

Já não havia mais tempestade, nem névoa, e ela sabia muito bem o que isso significava. Estava na lendária Floresta Anciã, a acolhedora dos corações que choram, o lar dos elfos e das criaturas belas.

A poucos metros de distância de si estava uma caixa surrada e fechada. Os bandidos consideraram aquele objeto completamente inútil - além de ser muito pesado - e o jogaram na estrada.

Dentro dele, Lief também havia acordado de um longo sono, mas ainda não conseguira se libertar das pesadas correntes metálicas.

Como vim parar aqui? - pensou Hatsuko, após acordar - Será que alguém me trouxe?
- Tem alguém ai? - gritou.

- Hatsuko?!

Ela apoiou-se numa árvore pra levantar, meio zonza por ter perdido tanto sangue.
Ao menos, agora parou de sangrar.

Ao ouvir a voz de Lief, sobressaltou-se.
- Lief? Onde você está? - gritou de volta pra voz que a chamara.

- Dentro de uma caixa... amarrado. - Ele gritou de volta, não muito alto.

Hatsuko começou a olhar a sua volta, procurando a caixa. Avistou-a não muito longe, uma caixa surrada e mal tratada pelo tempo. Estava fechada e podia muito bem guardar um humano, ou algo do tamanho de um, lá dentro.
- Espere! - disse, cambaleando em direção a caixa - Estou indo.

- Ok, irei esperar...

Quando finalmente chegou na caixa, caiu sobre os joelhos, mas, antes de abrir, uma pensamento lhe ocorreu.
- Lief, está sol aqui fora - disse - Você pode correr perigo se eu abrir.

- Aqui dentro está muito escuro e se eu ficar aqui não terá problema. Caso você fique aí sozinha pode acontecer algo e eu não vou poder ajudar.

E se alguém quiser me atacar depois eu vou me ferrar, já que estou amarrado...

- Se eu lhe devolver a camisa, haverá problema ainda?

- Bem, acho que haverá sim pois o meu rosto estará nu. Porém, ajudará muito.

Lief vai me ver sem blusa - pensou, ficando vermelha - Mas preciso ajudá-lo!
Ela retirou a blusa com alguma dificuldade, pois a ferimento em seu peito podia recomeçar a sangrar a qualquer momento. Com a blusa em mãos, abriu a caixa que não estava trancada.

Lief sorriu para Hatsuko com um olhar malicioso.

- Bem, me ajude a me soltar aqui agora.

Hatsuko sentiu-se ficando mais vermelha ainda quando viu o olhar de Lief.
Não há tempo pra isso.
- Tudo bem, me dê suas mãos.

- Não dá, elas estão aqui amarradas...

- Sem piadas - mas até ela riu dele.
Começou a trabalhar habilidosamente nas amarras de Lief. Até que elas finalmente afrouxaram o suficiente pra ele soltar-se sozinho.

- Ah, obrigado. - Lief se soltou e ficou de pé.

- Faz ideia de como viemos parar aqui? - perguntou, tentando levantar-se, mas a dor ainda era demais pra levantar sem apoio.

- Me colocaram dentro de um carro e o carro foi assaltado. Alguma coisa deste tipo. - Lief pegou a camisa da mão de Hatsuko e a vestiu. - Você não se sente desconfortável do jeito que está? Sabe, você é uma garota...

Que vergonha, eu quero morrer...
- Não deixar você morrer é mais importante - disse, já desistindo de levantar sem se arrastar pra árvore mais próxima.

- Ah, entendi... Obrigado. Eu vou continuar aqui dentro, é bom para não mim não correr risco.

- Tudo bem... Qualquer coisa, eu te chamo - e sentou-se de costas pra caixa, abraçando os joelhos - Bom, estamos mais perto da cidade agora.

- Pois é... Bem, você não está com fome não?

- Um pouco - na verdade, estava com muita - Nada que não dê pra aguentar.