As Florestas Celestiais

- Porque vocês não me guiam até o castelo? - Perguntou dando um leve sorriso, era uma pergunta muito audaciosa. - Seria muito melhor do que me dar informações, afinal, sou inocente e não conheço essas terras. - Usou o comentário de Kenzo a seu favor.

- Você está querendo dizer... guiá-la até a morte?

Houve um silêncio total na mesa durante alguns segundos.



- Você é mesmo uma garota louca e teimosa!!

Hiei se levantou da mesa e se retirou. Logo depois voltou com mais comida e começou a comer furiosamente.



- Eu aceito te levar.



- O QUE???

Hiei cuspiu tudo o que tinha na boca.



- Eu também irei.



- Vocês estão ficando todos malucos que nem ela! Eu sabia que essa garota não traria nada de bom para nós!!!

Hiei apontou os palitinhos para Zaira como se fosse assassiná-la.

Zaira bateu nos palitos que lhe fora apontados derrubado-os no chão.- Sou louca e teimosa, e você é muito histérico. - rebateu olhando Hiei com frieza. - Não venha se não quiser. - Cortou-o. Em seguida voltou-se para Kenzo e Niang. - Obrigada pela ajuda de vocês. - Sorriu angelicalmente.

Hiei rangeu os dentes, irritado. Pensou em responder algo à Zaira, mas notou que de nada adiantaria já que não tinha ninguém ao seu lado. O ninja se levantou e deu as costas para o trio que ainda estava à mesa, dirigindo-se aos seus aposentos pessoais.



- Ele virá com a gente. - falou Kenzo calmamente enquanto mastigava um bolinho de arroz. - Hiei age dessa maneira sempre, mas no fundo é uma boa pessoa. Me chamo Kenzo e estou disposto a ajudá-la. Aviso já que nossa jornada não será fácil e que aqui existem muitas coisas perigosas. Porém, temos um motivo que nos dá força para seguir junto de você mesmo que isso nos torne vulneráveis.

Kenzo trocou um olhar com Niang K., que disse:



- Nosso mestre foi morto pelos homens do Rei Celestial. Não há um motivo aparente, mas nenhuma pessoa se importou com a morte dele. Todo mundo simplesmente tratou do fato como se fosse algo natural, e ele era como um pai para nós. Morávamos em Wushu quando tudo aconteceu, houve uma chacina na rua e até hoje ninguém soube nos explicar ao certo.

K. brincava com a comida usando os palitinhos, perdido em pensamentos.

- Somos devotos do Rei, fomos todos criados para ser. Mas sempre sentimos que algo não está em seu devido lugar... Assim que Hiei avisou que uma forasteira se aproximava eu já saberia que teríamos uma conversa como essa. Nós também vimos a chuva de estrelas e sabemos muito bem o que isso significa... Por isso, estamos ao seu lado.

- Compreendo a situação de vocês. - disse por fim depois de alguns minutos de silêncio. - Tmabém estou sendo movida pelo mesmo motivo de não "haver algo em seu devido lugar..." - Levantou-se da almofada. - Minhas condolências pelo mestre de vocês. - Não disse mais nada depois disso. Apenas caminhou até a porta e olhou a paisagem, Al e Tiara estavam brincando no pátio do templo. Estava satisfeita por ter arranjado novos aliados. Talvez... Virou-se repentinamente e olhou para Kenzo e Niang.

- Tem algo... - Começou hesitante, mas logo clareou a garganta para continuar. - Eu possuo alguns objetos... Que já me causaram problemas, mas eles foram me dados por uma pessoa muito importante para mim, por isso não vou abrir mão deles. - Franziu os lábios e o cenho. - Mas eu realmente não sei qual é importância deles... Talvez vocês possam me ajudar nesse problema. - Sua expressão mostrava um pouco desconfiança e indecisão, mas ela precisava descobrir sobre os objetos que Vizier havia lhe dado.

Kenzo, após terminar de comer, acendeu um cachimbo metálico e decorado enquanto Niang K. tratava de tirar a mesa. Os dois trocaram um olhar de cumplicidade enquanto Kenzo, cuspindo fumaça levemente, caminhava até a porta para responder à questão de Zaira.

- Objetos que causam problemas... Só pode estar se referindo aos Itens do Milênio... - disse ele suavemente. - Eu não posso te ajudar, mas sei quem pode. Hiei-kun é um especialista em artefatos. Acho que está na hora de você conquistar a simpatia dele. O quarto onde ele está é o último do corredor, ele sempre vai pra lá quando se aborrece.

Kenzo observou os animais agigantalhados brincarem no pátio do templo.

- Aprecie bastante essa visão, Zaira, pois sua paz está com os dias contados...

Zaira nada disse quanto ao comentário de Kenzo. Ela não achava que sua paz ia acabar, pois ela já tinha acabado há muito tempo, no entanto para ela era tudo normal. Não era algo que fazia um alarde. As pessoas falavam tanto do Rei Celestial, colocavam-no tanto num altar inalcançável que ela começou a achar que talvez , o Rei Celestial fosse um solitário. Todos tinham medo dele, ninguém podia ver ele. Esse cara devia se sentir muito sozinho e muito mal. Não que ela se importasse com os sentimentos dos outros, mas começou a se sentir mal por ele... Oh, céus, porque se sentir mal? E se ele fosse realmente do jeito que as pessoas falam? Ou pior? Mas, bem, ela só poderia saber comprovando por si mesma, e ela faria. Iria eliminar todas a suas dúvidas.

Sherazade franziu o cenho, e percebeu que já estava caminhando pelo corredor indicado. Adiantou o passo e parou na port ano final do corredor. Sem nenhum receio, bateu na porta do quarto.

Depois de alguns segundos, Hiei abriu a porta, deparando-se com Zaira. O rapaz olhou-a com desdém, então fechou a porta na cara dela.

Sherazade não se importou coma atitude de Hiei e atravessou a porta, entrando no quarto.

- Além de histérico é mau educado. - Comentou atrás dele, enquanto olhava em volta. - No entanto, eu preciso da sua ajuda. - Disse ela ainda olhando o quarto e a sua decoração. - Kenzo me disse que você entende de artefatos mágicos...

Hiei tentou não demonstrar surpresa diante da atitude sobrenatural de Zaira, mas ficou visivelmente abalado com aquela cena.

- Além de esquisita você é interesseira. - disse ele num tom ríspido, tentando parecer indiferente. - Eu não tenho motivos e nem vontade de te ajudar. Vá embora daqui.

Hiei pegou um pincel e voltou a pintar o quadro que pintava quando fora surpreendido pelas batidas na porta. Zaira notou que o local era uma espécie de sala dos tesouros. Havia muitos baús, moedas e objetos de todos os tipos. Armas brilhantes, cetros, correntes e jóias. O quadro de Hiei devia medir cerca de 2 metros de altura. A arte retratava um homem usando um kimono e apontando um arco-e-flecha para os céus.

- Eu não sou interesseira. - respondeu despreocupadamente, começou a andar pelo quarto dele, fazendo o que normalmente faz com Ariosto. Ignorando o que ele dizia. Aproximou-se de uma das estantes que possuía no quarto, e ficou fascinada os objetos. Ela passou a mão num colar que tinha um enorme pingente. Havia um cristal de cor muito azul, incrustado em algum metal brilhante de cor azul-prateada. - Que lindo disso. - Admirando- o colar, ela o tirou do lugar e ficou olhando-a na sua mão.

Depois voltou-se para Hiei, olhando-o por trás enquanto pintava o quadro. Ela sentou-se numa das almofadas que havia no chão e olhou o enorme quadro. Aquele desenho... Era um tanto familiar. Então finalmente lembrou-se de onde havia visto lago parecido.

- Eu já sonhei com isso... - Comentou um tanto surpresa. Prestou a atenção no quadro. Já havia sonhado com um homem atirando uma flecha no céu. - Sim, eu sonhei com isso. Ele atira a flecha ao céu e caem um monte de estrelas na terra... Que estranho você pintar isso. - Ela franzia o cenho, falava mais consigo mesma do que com Hiei. Enquanto isso, a joia passava de os dedos na joia que havia pegado.

- Isso não lhe pertence. - constatou Hiei sem nem ao menos olhar para Zaira. - Mas pode ficar, não tem nenhuma utilidade para mim.

Ele continuou pintando o quadro.

- Eu já devia imaginar que você é uma Cria do Exílio... - Hiei parecia, momentaneamente, ter esquecido da raiva. - Só isso justifica o fato de você ser uma garota tão estranha que faz coisas tão esquisitas.

O ninja se virou para encará-la. Então meteu o pincel em seu rosto para manchá-lo de tinta.

- Quantas vezes vou ter que dizer para você ir embora, garota?

- Eu não vou embora. - Respondeu enquanto guardava o objeto recém adquirido no bolso do vestido. Ele disse que não lhe pertencia, mas ele acabou lhe dando. Estava distraída pensando no lobeto, que acabou tendo seu rosto melado de tinta. Ela agarrou o pincel, tomando-o de sua mão e olhou para ele seriamente. - Não até você me ajudar. - repôs num tom solene e firme. - Ou seja, se quiser se livrar de mim, me ajude e te deixarei em paz. - E jogou o pincel melecado em direção quadro.

- NÃAAAAAAAAO!!!

O pincel de tinta preta atingiu justamente o rosto do Rei Celestial, desenhando sobre ele uma espécie de bigodinho.

- Olha só o que você fez!!!

Hiei olhava para ela com ódio.

- Agora que eu não vou querer te ajudar de forma alguma! Acha que não sei me livrar de gente como você?

Ele a encarou com um olhar astuto.

- Sou nascido nas Terras Celestiais e aqui encontramos todos os tipos de seres sobrenaturais. Não interessa se você é capaz de atravessar portas, eu saberei como me livrar dessa sua companhia irritante assim que eu quiser. Está vendo tudo isso que está à minha volta? Cada um desses itens tem uma utilidade e eu conheço um que pode ser simplesmente perfeito para espantar você!

Hiei caminhou até os fundos do cômodo e pegou uma espécie de cilindro em uma das prateleiras. Ao abrir um lacre metálico em sua extremidade, o objeto começou a exalar um cheiro terrivelmente insuportável. Hiei não esboçara nenhuma reação, o que fez com que Zaira percebesse que só ela sentia aquele cheiro. Aos poucos, começou a ficar zonza.

- Você vai ter que ser muito boazinha se quiser que eu faça algo por você.

Ele caminhou em direção a ela, o cheiro ficava cada vez mais forte.

Zaira se sentiu zonza, mas lutou contra isso com todas as suas forças. Não se sentia mal em ter estragado o quadro dele, ele iria ajudá-la de qualquer jeito, ela tinha certeza disso. No momento aquele cheiro era horrível, e ela não gostou nenhum pouco das palavras dele. Naquele momento ela se levantou da almofada e caminhou em direção a ele, pois bem. Ela não ia se deixar dominar, ela não estava sendo ruim com ele, estava sendo apenas ela mesmo, se ele não gostava, o problema era dele.

Você não vi se livrar de mim tão facilmente! pensou no momento em que lhe deu um rápida rasteira, e numa fracção de segundos agarrou o o pulso da mão que ele segurava o cilindro, apertando-a com intenção de fazê-lo soltar o frasco.

- Sua atrevida!!!!

Hiei lutava contra Zaira para não deixar que ela tomasse de suas mãos o delicado cilindro metálico. Enquanto os dois disputavam forças para ter poder sobre o objeto, ele escorreu pelos dedos de Hiei e chocou-se contra o chão, quebrando-se. Naquele momento o cheiro se foi.

- Não acredito!! É a segunda coisa que você me estraga!

Hiei se ajoelhou para pegar o artefato agora rachado e sem utilidade.

- Você não trouxe mesmo nada de bom...

Seu tom histérico agora havia tomado um tom triste. Hiei se sentou sobre o banco em frente ao quadro, olhando de relance para a pintura arruinada. Em seguida, escondeu o rosto com uma das mãos, pensando em coisas que iam além da compreensão de Zaira.

Ela sentou-se num banco, cruzando as pernas e os braços. Olhou para ele inquisitiva. - Me diga, qual foia primeira coisa que eu estraguei? - Questionou com um tom um tanto indignado. - O quadro? Por favor né, você nunca viu a fazer do Rei Celestial, nem sabe se ele tem ou não bigode. Posso muito bem ter dado o toque final. - Disse desgostosa com as atitudes do homem.

Francamente, esse garoto é muito implicante. Bufou se sentindo contrariada. - Quer saber? Você conseguiu. Vou embora, descobriu sozinha a importância da flor e do anel de cristal. Sua infantilidade me cansa. - Declarou por fim se levantando e indo em direção a porta.

Hiei segurou o pulso de Zaira.

- Você disse Flor e Anel de Cristal?

Havia um brilho incomum nos olhos dele.

Sherazade se controlou não dar um sorriso triunfante. Tinah conseguido manipular Hiei como previu. Sua expressão ainda era enfada. Ela virou-se para ele, encarando-o, depois de alguns minutos de silêncio. - Sim, foi isso mesmo que eu disse. - Ela disse lentamente deixando as palavras rolarem pela sua boca. - Vai me ajudar agora? - Perguntou um tanto sarcástica.

- Hm... - ele lutou internamente contra seu orgulho. - O que você quer, exatamente?

Ela encostou-se na parede e cruzou os braços. - Quero saber o que eles exatamente são. Me diga tudo o que sabe, por afvor. - Dessa vez ela pediu com educação. E então descruzou o braços para mostrar a Hiei o anel. Até aquele momento ela evitou expor em excesso sua mão direita para que ninguém visse o anel.

Hiei arregalou os olhos.

- Esse anel contém um Fragmento do Vizzerdrix! - ele tocou a mão de Zaira para poder visualizar melhor o objeto. - Se eu fosse você, nunca mais colocaria uma coisa dessas no dedo. Carrega consigo o tempo todo uma parte do assassino dos deuses... uma parte do maior inimigo de nosso rei, que felizmente foi derrotado. Se esse artefato me pertencesse eu faria questão de destruí-lo em honra de meu povo.

Hiei soltou a mão dela e encarou-a.

- Me mostre a flor que você possui. Essa coisa amaldiçoada não me interessa.

- Sério? - Perguntou ela surpresa e então olhou o anel. Mas em seguida, levou a mão esquerdo até o bolso do vestido e tirou a rosa de cristal. - Aqui está. - Disse ela lhe mostrando a rosa. Ela começou acariciar o anel, intrigada. - Eu não vou destruí-lo. - Sussurrou. - Ele pode ser amaldiçoado, mas é importante para mim. - Afinal foi Vizier que tinha lhe dado, ela não a poria em risco, poria? Mordeu o lábio inferior, as dúvidas e um certo medo assolando sua mente. Ela, que nunca teve medo de nada, estava com medo de ser traída novamente. Sua pele ficou mais pálida que o normal e seus olhos se arregalaram levemente.. Seu corpo tremeu levemente, lembrando da época que era viva, da traição de sua mão. Afundou com mais forças os dentes no lábio inferior que o fez sangrar.

- Com licença.

Hiei tomou a flor da mão dela para examiná-la. Ele esboçou um meio sorriso de satisfação.

- Isso sim é uma jóia rara. - falou ele tocando delicadamente as pétalas de vidro. - Essa é a Rosa Mestra de Cebyrllia. É o coração comandante de toda a Terra do Gelo e não pode ser destruída por meios comuns. Se um dia você for acertada pela Flecha da Morte, por exemplo, pode ter certeza que quem se quebrará será essa flor, não você mesma. Esse item foi feito para proteger aquele que o carrega. Mas há um efeito colateral. Se a Rosa Mestra der sua vida à você, todo o gelo dos Paraísos de Cebyrllia começarão a derreter...

Sherazade sua pequena crise, voltou-se para Hiei. - Sinceramente, essas coisas me deixam muito confusa. - Ela suspirou fatigada. Ela encostou-se mais na parede e levou a mão ao rosto cobrindo seus olhos, tampando-os. Agora era sua vez de mostrar emoções. - Um anel amaldiçoado e uma flor que dá vida por você. - Ela sorriu sem vontade, os lábios mais vermelho que nunca por causa do sangue, que escorria um pouco pela borda do lábio. - Oh céus, esses mistérios me deixam muito confusa... Isso algum tipo de teste?- questionou retoricamente num murmurio. Suspirou longamente ainda com a mão escondendo seu rosto.