Montanhas do Leste

Ao norte das Colinas do Leste estão as montanhas que servem de esconderijo à esplendorosa Fortaleza Prontera, que muitas vezes é procurada (em vão) pelos monges das ruínas e pelos guerreiros do exército do Lord Mümn.

Shiki emergiu de um dos rios das Montanhas do Leste, sem rumo e sem entender direito o que se passava, assim como o motivo pelo qual o portal mágico o levou até ali.

"Hum... Má perdedora." Resmungou Shiki, começando a procurar um lugar para descansar.

"Bem, pelo menos estou perto da Floresta onde Descansa o Samurai. Quanto a minha sanidade..."

Shiki vendou novamente seus olhos e calou seus pensamentos. Ele já sabia. Tudo o que o monstro havia lhe dito, ele já sabia. Ele era um ser distorcido, um ser que estava destinado a perdição.

"Mas não há problema algum. Desde que Nühr volte a seu trono. Desde que os deuses recuperam a eternidade que lhes é de direito. Comparada a isso, a sanidade de um punhado de mortais não vale nada..."

E sem perceber o sussurro mudo em seu espírito exaurido, Shiki continua a vagar em sua cegueira.

Depois de muitas horas de caminhada, Shiki escutou o barulho de cavalos. Ele não sabia o que estava acontecendo devido à venda em seus olhos, mas podia ouvir que aproximadamente dez homens cavalgavam em algum lugar não muito longe.

Tomando cuidado para não ser descoberto, Shiki então se aproxima o suficiente para tentar identificar os homens pela voz. Se fossem mercadores, seria fácil tentar convencê-los a oferecerem ajuda. Se fossem soldados... Shiki teria que segui-los até o anoitecer.

- Quem é você? - perguntou uma voz à Shiki. Era uma voz masculina e ele supôs que o homem teria cerca de 20 anos.

O barulho dos galopes parou.

Houveram sussurros.

Logo ele escutou os cavalos se aproximarem.

"Eu sou Shiki, chamado de O Cego na ausência de um sobrenome. Fui abandonado nas redondezas, e não sei meu caminho..." Respondeu Shiki, acostumado com a situação.

- Precisa de ajuda? - perguntou o mesmo homem, mais por obrigação do que por gentileza.

Os outros apenas aguardavam.

Shiki sorriu para o homem.

"Sim, por favor. Apesar de não ser a primeira vez que eu me encontro nesse tipo de situação, eu nunca estive nesse lugar." Disse ele.

"Poderiam me dizer aonde estão indo, e talvez até me levarem junto?"

- Como foi que você chegou até aqui? - perguntou outro deles de uma forma brusca.

Shiki sentiu que havia uma leve desconfiança na atitude daqueles rapazes.

"Ah, me perdoe. Devo parecer realmente suspeito..." Disse Shiki, se curvando na direção da voz.

"Eu sou um andarilho que foi vítima de uma brincadeira perversa. Veja, graças a minha cegueira, muitas vezes acabo dependendo da boa vontade de pessoas como os senhores. Infelizmente, parece que escolhi mal meus últimos bem-feitores... Eles haviam prometido me levar até os arredores da Brilhante Cidade de Vellyria, mas me abandonaram na metade do caminho. E agora, aqui estou eu vagando pelas Montanhas do Leste." Respondeu ele, sem demora.

"Se não puderem ou não quiserem me ajudar, não insistirei. Acho que também sentiria suspeita se estivesse em sua posição, mas temo não ter o que fazer a respeito..."

Os soldados ficaram em silêncio por um tempo. O que fez Shiki perceber que eles tentavam se comunicar entre si sem dizer nada, para que o "cego" não ouvisse.

- Me desculpe, senhor, mas a pergunta que farei agora é inevitável. - falou uma voz desconhecida. - Mas essa sua doença de pele é contagiosa ou não?

Shiki pensou rápido, e imaginou que os deliciosos cogumelos que permitiram que ele escapasse daquela ilusão talvez tivesse deixado sequelas.

"Marcas em minha pele?" Disse ele, fingindo surpresa "Não me lembro de ninguém mencionando nada parecido para mim antes, muito menos de ter andado por alguém com alguma doença semelhante."

Shiki finge pensar por alguns intantes

"Eu me lembro de ter comido algo estranho a pouco tempo. Infelizmente, graças a minha cegueira eu não tenho como saber o que era."

Os soldados cochicharam brevemente.

- Você pode nos seguir se você quiser. - disse um deles, que estava posicionado às costas de Shiki. - Mas não temos nenhuma montaria disponível para você.

- Dê graças ao céus por você ser cego, pois o que está acontecendo com sua carne é realmente pavoroso. - comentou maldosamente outro deles.

Houve uma risadinha.

- Vamos homens. - chamou um terceiro.

Os cavalos começaram a galopar e Shiki sentiu leves gotas de chuva se chocarem contra sua face adoecida.

Shiki começa a caminhar atrás dos soldados, agradecendo a vinda da chuva.

Assim que anoitecesse e todos eles fossem dormir, seus planos seriam colocados em ação.

"Obrigado por tudo..."

A chuva começou a ficar cava vez mais forte, logo se transformando em uma terrível tempestade. Shiki notou que os cavaleiros o cercavam por todos os lados, como se quisessem vigiá-lo.

- Vamos fazer uma parada. É impossível continuar a viagem embaixo desse temporal.

Os guerreiros o conduziram até um lugar onde não chovia. Shiki deduziu que fosse uma caverna natural em alguma das montanhas.

Ouviu os homens retirando suas peças de armadura. Algumas conversas. Uns sussurros. Trovões. Chuva pesada caindo.

Um tempo depois ouviu também o crepitar das chamas. Alguém havia acendido uma fogueira.

Escutou o barulho de um dos homens roncar. Houve um suspiro. Mais estrondos de trovão.

Shiki sentiu um cheiro estranho, cheiro de decomposição.

Shiki então buscou em sua pele as marcas dos soldados e as esfregou com os dedos. Em seguida, comparou o cheio que havia sentido com o cheiro das estranhas feridas.

Ao passar o dedo por sua própria pele, Shiki sentiu estranhas protuberâncias e o cheiro, sim, vinha delas.

Incomodado com o cheio, Shiki se aproximou da fogueira.

"Um de vocês poderia me ajudar a cauterizar essas marcas com o fogo? Estou começando a ficar preocupado." Disse ele "Bastaria me estender uma lenha incandescente."

Um dos soldados soltou uma risada.

- Além de cego você é louco?

Shiki se vira para a origem da voz, com um sorriso rasgando seu rosto.

"Sim ou não? Caso contrário, eu terei que apanhar eu mesmo a lenha, e isso pode resultar no desmoronamento da fogueira."

Mais risadas.

- Abre a mão. - pediu um deles. - Quero ver se você é louco mesmo.

Shiki estendeu a mão. Já tinha ouvido aquele tom centenas de vezes, e não dava a mínima. Sua única preocupação era se deveria ter cortado a própria pele primeiro, antes de atear fogo nela...

Shiki sentiu a pele da palma arder contra as chamas. O soldado havia queimado sua mão usando a lenha que o feiticeiro pedira. O ferimento inesperado trouxe lágrimas de dor aos olhos de Shiki.

- Isso é pra você aprender a largar de ser esquisito!

Nesse momento ele foi derrubado ao chão e levou um pontapé no estômago.

(1d4/fogo + 2d4/chute)

O membro 'kyokun' realizou a seguinte ação: Lançar dados

#1 'd4' : 2

--------------------------------

#2 'd4' : 4, 2