Lua Arianaur

Lief arregalou os olhos para Hatsuko, ainda tendo uma crise de tosse. Quando ele se acalmou, começou a respirar muito rapidamente enquanto olhava para todas as direções sem mexer a cabeça. Sussurrante e estupefato, ele falou:

- Hatsuko... eu estou vivo... - havia certo pânico em sua voz. -Eu estou vivo MESMO! Eu... eu não sou mais um vampiro...

Isso é possível?

Hatsuko estava chocada. Ela nunca ouvira falar de algo como aquilo.

- Lief! Você é humano agora? - perguntou, de olhos arregalados - Como isso é possível? - essa pergunta era pra todos e ninguém ao mesmo tempo.

Spoiler:

Ignorando o choque de Hatsuko, Karolina voltou-se ao Senhor das Sombras:

- Mais alguma coisa, senhor?

- Karolina, prepare a passagem para o outro lado, por favor. Não quero ter que perder o casamento de meu filho. - respondeu ele um pouco pensativo. - Hatsuko, poderia nos dar licença agora? Há um lugar onde preciso ir antes que seja tarde. Não se preocupe com o estado de Lief, pois apenas fiz um bem a ele. Apesar de não ser mais um vampiro, sua força e agilidade continuam intactas, então não há porque lamentar o fato.



Lief, ainda um pouco desnorteado com a idéia, sacudiu a cabeça e se levantou com dificuldade. Ao alongar o corpo, ouviu os ossos estalarem e sentiu o sangue bombear nas veias. Tudo muito estranho. Quando passou os dedos pelos caninos, notou que eles continuavam grandes, mas não havia mais sede ou vestígios de sangue. O feiticeiro abraçou a si mesmo, deslizando os dedos sobre a pele morna enquanto caminhava para as janelas, para que assim pudesse sentir o calor da luz. Era uma sensação nova, quente e acolhedora. Por dentro ele sorria, mas sua face permanecia descrente e assustada.



Hatsuko havia se distraído o suficiente para notar tardiamente o que Karolina preparava. A nativa lunar tinha um pote em mãos e despejava seu conteúdo (um pó rosado) sobre as chamas da lareira, que logo tomaram a cor lilás.

- Está pronto, mestre.

- Muito obrigado, Karolina. Agora vocês podem ir.

A criada cruzou a sala e, ao passar ao lado da sulfure, ela falou:

- Venha, Hatsuko, vou levá-los até a porta.

Hatsuko seguiu Karolina porta afora, mas em momento algum tirou os olhos das chamas da lareira. Imaginou o que aconteceria se se atirasse naquele fogo. Queimaria? Seria transportada pra algum lugar? Nada importava mais. Lief estava vivo (realmente vivo) e ela só queria estar próxima dele. Segurou-lhe as mãos e sorriu sinceramente para ele...

Mas algo a preocupava. Sendo humano, Lief não poderia mais ficar ao seu lado para sempre. Tal imortalidade havia sido retirada pelo Senhor das Sombras. Precisaria de uma nova solução.

- Adeus. - Karolina sorriu para o casal antes de se trancar na sala da lareira junto do Senhor das Sombras, impedindo a sulfure de ver o que se sucedeu em relação às chamas.

Quando Hatsuko cruzou a porta, as três criadas de pele, cabelos e roupa branca estavam lá, todas aguardando inexpressivamente no corredor amplo e iluminado.

- Venha conosco, iremos levar a senhorita para tomar um chá. - disse a primeira com um tom de voz seco e indiferente. Antes que eles pudessem recusar, as outras duas cruzaram os braços com os deles e os conduziram até o andar inferior, onde a feiticeira novamente atravessou o salão de chão lustroso e xadrez, mas dessa vez seguiram para a direção da cozinha.

A decoração e o piso do cômodo era todo branco, assim como a forte luz que penetrava através da janela (o que fez Lief agradecer com todas as forças por não ser mais um vampiro). Havia um bule sobre a mesa e seis xícaras. As criadas puxaram três cadeiras para os convidados e se sentaram perante eles nas outras três, servindo o chá em seguida para cada um. Lief se sentou e ficou se perguntando quem era a terceira pessoa que se sentaria com eles, mas logo sua pergunta foi respondida.

- Não se preocupem, o outro convidado está se banhando e chegará logo. - respondeu a criada de cabelo mais curto antes de dar uma golada no líquido quente, doce, verde-limão e fumegante.

Hatsuko não bebeu o chá. Desconfiava daquela gente acima de tudo e aprendera a sempre manter um pé atrás.

Afinal, fui traída por uma conhecida - pensava.

- Quem virá tomar chá conosco?

Quando Eros cruzou o portal, foi como atravessar uma fina e ondulante camada gélida de água. Quando "emergiu" do lado oposto da película espiritual, viu-se envolto de um luxuoso salão circular. Sobre o reluzente piso xadrez (das cores lilás e prata) vinham caminhando dois homens. O primeiro deles era Geert, que se vestia como um coringa, e o outro era um garoto de cabelos brancos. Geert conduzia o garoto até uma das portas laterais do salão quando notou a chegada de Eros.

- Seja bem vindo, meu jovem. - sorriu ele. O vampiro reparou que a decoração do cômodo era impecavelmente rica. Havia castiçais e lustres cristalinos, assim como móveis de material fino (entre eles um sofá onde três bonecas de tamanho humano estavam sentadas). - Estamos indo tomar um pouco de chá, está servido?




Antes que as criadas respondessem, Lief arregalou os olhos para xícara, convidando Hatsuko silenciosamente a fazer o mesmo. Quando a sulfure observou o conteúdo da sua própria, percebeu que, em meio ao líquido verde-limão, estranhos rostos se formavam, como almas agonizantes em miniaturas que emergiam e submergiam entre o chá e a fumaça.

A mulher de cabelos cheios e cacheados foi quem respondeu:

- A pessoa que virá se chama Millo. Ele é um arianeller que foi comprado como criado para a mansão. - ela elevou a xícara aos lábios e bebeu um pouco. Em seguida, depositou-a sobre a mesa e pegou o bule para servir-se de mais chá. - Está delicioso! Vocês deveriam experimentar.

A terceira, que tinha o cabelo preso por um coque, pegou um dos guardanapos sobre a mesa e começou a fazer uma espécie de origami.

- Não precisa temer. - ela falou. - Essa bebida os fará bem, pois contém o ingrediente do qual feiticeiros se alimentam: almas.

Hatsuko corria os olhos de Lief para a xícara. Fez gestos para Lief esperar e tomou, ela seria a cobaia agora. Não queria arriscar o amado novamente (agora humano) e afinal, precisava de almas para poder enfrentar a vaca maldita que tinha roubado seu trono.

Estou curiosa sobre esse homem de cabeços brancos... - pensou - Ele me parece... Diferente.

Apesar de ter surgido em um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas e que oferecem bebidas - também com conteúdo desconhecido. O vampiro ficou indiferente, estava em busca de poder e não podia se dar ao luxo de demonstrar sentimentos semelhantes como medo e ou desconfiança. Assim sendo, ele agradeceu ao homem vestido como um coringa e o seguiu para tomar o tal chá.

Lief tomou ao mesmo tempo que Hatsuko, se algo acontecesse a ela, teria que acontecer a ele também. Jamais iria permitir que a sulfure se sacrificasse por sua causa novamente. Enquanto eles ingeriam a bebida fumegante, as três moças os observaram atentamente, esboçando um leve sorriso de satisfação depois de verem que os dois haviam engolido tudo. Assim que começaram a beber, foram incapaz parar, o chá era extremamente delicioso e os feiticeiros reconheceram o gosto de cereja, pêssego, cheiro de pêra e energia de alma, a essência da magia.

_{+50 PA para Hatsuko e Lief.}



Geert, junto de Millo e Eros, adentraram a cozinha branca e iluminada, deparando-se com Hatsuko, Lief e as três criadas de cabelos, roupas e pele branca. Uma delas se levantou e preparou lugares para todos os recém chegados se sentarem, servindo-lhes chá logo em seguida.



Millo estava um pouco tímido e se sentou em uma das extremidades da mesa, acenando brevemente para as pessoas presentes antes de tomar a xícara em mãos e começar a assoprá-la para tornar morno seu conteúdo antes de beber.

Uma segunda criada também se levantou, pegando um violino ornamental que estava suspenso sobre uma das paredes da cozinha e começou a tocá-lo enquanto os convidados se aconchegavam.

O origami em formato de pássaro (feito há pouco pela terceira criada) sobrevoou a mesa com suas asas de papel.

Eros apenas ficou a se deleitar com o chá e a música de violino, não proferiu uma única palavra. Não por estar entre estranhos, apenas questão de ser um homem de poucas palavras e assim ficou a observá-los.

Hatsuko olhou para Lief novamente. Seus olhos diziam que ele não deveria ter tomado o chá junto com ela. Deveria ter ficado esperando, não desejava que ele se arriscasse mais.

Depois, observou todos os convidados que tomava chá. Evitou os moradores do lugar, eles eram estranhos e deixavam-na aflita, mas os outros eram humanos comuns. Ambos tinham cabelos brancos e não falaram nada. Um deles usava tapa-olho e parecia extremamente tímido. O outro, apenas demonstrava ser de poucas palavras.

Deveria falar com eles ou ficar quieta? - pensou, questionando pra que serviria tudo aquilo - Talvez devesse ir embora e procurar quem roubou meu trono em Heldrie.

Vindo do saguão principal da mansão, um estouro dissonante interrompeu a música do violino. As criadas, pararam imediatamente as atividades que faziam, olharam assustadas para Geert. O coringa não tirou o sorriso do rosto, apenas encarou-as de volta dando de ombros, como se dissesse que não sabia o que estava acontecendo ou que simplesmente não se importava (ou as duas coisas).



- Q-QUE BARULHO FOI ESSE?? - Millo se levantou da mesa e virou-se em direção à porta que dava para o saguão.

A resposta veio rapidamente.

- HATSUKO!! - alguém gritou por trás da parede - HATSUKO ONDE VOCÊ ESTÁ?

A sulfure reconheceu a voz de Myul, o feiticeiro trotava para todos os lados à procura dela na sala ao lado.



- Você é Hatsuko, não? - Geert a encarou de maneira trivial - Gostaria que convidássemos esse homem que a procura para tomar chá conosco também?

Ele deu uma risadinha.

Hatsuko apertou as mãos de Lief, desesperada. Myul estava lá novamente, procurando por ela. Temia mais por Lief do que por ela mesma, pois da última vez que se encontraram, quase perdera o amado para sempre.

Olhou para Lief com os olhos demonstrando toda a sua angústia. Eles perguntavam o que deveriam fazer. Não respondeu a Geert.

Lief, depois de muito pensar e hesitar, bateu as duas mãos contra a mesa e levantou-se furiosamente.

- EU VOU ENFRENTÁ-LO!

Ele sabia que essa não era uma boa atitude a se tomar, não conhecia o tamanho do poder de Myul e poderia ser aniquilado facilmente dependendo do caso, mas também não se permitiria fraquejar diante Hatsuko mais uma vez. Precisava mostrar para aquele homem que o coração da sulfure agora possuía, e sempre havia possuído, um só dono.

Mesmo que ele quem tenha...

O garoto rangeu os dentes e evitou que a má lembrança voltasse a dominá-lo. Iria matar Myul de qualquer jeito ou morreria tentando, não haveria lugar para os dois no Multiverso e ele estava disposto a lutar com todas as forças, não importa o quanto poderia vir a se ferir.

Sob os olhares de todos sentados à mesa, Lief cruzou o cômodo e abriu a porta.

- Opa, "pão e circo"... *disse o vampiro, surpreso e animado ao mesmo tempo*

Assim se levantando e indo direto a porta para ver a briga, mas antes, parou no meio do caminho, pois percebeu o olhar angustiante estampado na cara de Hatsuko e assim olhou para ela e lhe disse:

- Nossa, você parece angustiada ou amendrotada sobre essa briga, tem algo contra o acontecimento dela?

- Quer que ela não ocorra?... Apenas diga - Sim ou Não.

Hatsuko levantou-se irada e respondeu rispidamente o homem de cabelos brancos que a questionava.

- Não devo satisfação a ninguém! Principalmente desconhecidos! - e saiu correndo, na direção de Lief e Myul.

Atravessou cômodos e mais cômodos procurando pelos dois. Batia portas e mais portas, corria, corria, alimentada de todo o seu desespero para ter forças o suficiente pra continuar em frente.

Preciso encontrá-los... Não posso deixar que essa luta ocorra... Não posso! - pensava, enquanto a angústia explodia em seu peito.

Quando sentiu que aproximava-se dos dois, a vontade de chorar explodiu e as lágrimas rolaram sem controle. Ela não queria chorar, mas também não podia conter-se, não mais.

- LIEF! MYUL! POR FAVOR! NÃO FAÇAM NADA! - gritou, numa voz esganiçada, para todos os lugares e nenhum em especial.

-Ok, isso também serve como resposta... *disse Eros, levantando os braços e dando as costas para a garota*
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- Que pena, eu queria fazer apostas nessa briga. *pensou o vampiro, agora virando em direção a porta e indo de encontro a mesma, para então se deparar com a garota bipolar e os dois futuros gladiadores .*

E então, estando à postos, Faulkner usa um de seus truques possiveis graças ao seu poder de exílio. Abrindo sua boca e dispersando uma onda sonora da sonolência (o Canto de Ninar), direcionada às 3 pessoas que se encontram na sua frente (Hatsuko, Myul e Lief). Pois a garota não queria aquela briga e Eros não queria ouvir o mimimi da garota pensando que ele matou os dois.

Spoiler:

Spoiler:

Geert e as criadas acharam os feiticeiros no jardim de flores púrpuras à frente da mansão. Lief, Myul e Hatsuko estavam completamente adormecidos sobre a estrada de pedrinhas que dividia os canteiros e Eros de pé diante deles. Geert, com um sorriso no rosto, parabenizou o benfeitor pela atitude:

- Fez muito bem, rapaz! O senhor Lorn iria detestar que alguém bagunçasse a casa dele, o homem se tornaria uma fera e eu e as damas brancas é quem sofreríamos as conseqüências.

As três mulheres concordaram com a cabeça.

- Aqui está sua recompensa.

Geert entregou a ele um diamante violeta que tinha o tamanho de uma palma.

Sobre os corpos adormecidos de Lief, Myul e Hatsuko, uma revoava de borboletas azuis pousou.

O vampiro agradeceu o diamante que Geert lhe dera, em seguida se aproximou do trio parada dura e colocou nos próprios ombros apenas Lief e Hatsuko, carregando-os de volta à sala do chá. E então, tendo vos largado um do lado do outro no mesmo sofá, acordou somente Hatsuko - ordenando-lhe que despertasse, sendo que falou com ela - utilizando de outro feitiço de voz - um que serve para acalmar as pessoas e assim, preparado, falou com Hatsuko:

- Acorde...
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E relaxe, os outros dois não estão mortos, só dormindo...
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Por favor, não desperte nenhum deles, será melhor assim, por enquanto.

Spoiler:

Hatsuko despertou lentamente com uma voz suave chamando-lhe. Viu que era o homem de cabelos brancos com quem ela havia brigado momentos antes... Ou seriam dias antes? Não sabia quanto havia dormido.

- Você... É um exilado - era mais uma afirmação do que uma pergunta - Bem... Obrigada...

Ela levantou-se, ficando de frente com o homem. Havia compreendido que ele fizera aquilo para ajudá-la, mas não sabia como agradecer.

- Me... Desculpe por ter sido grossa antes - murmurou, corando levemente - É que... Bem, eu estava muito nervosa... Posso... Te pedir um favor...?

Hatsuko sentia-se meio sem jeito na presença de um homem como aquele. Parecia coberto de segredos e exalava o mesmo charme vampiresco que Lief.

Relaxa, sou igual chuveiro velho...
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Não ligo, e quando ligo, não esquento...
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Quanto ao favor, não faço sem saber o nome de quem o requere e o que requere. *disse o jovem de cabelos grisalhos, com uma cara séria e num tom de voz do tipo de indireta, mas nada fora do comum, apenas não gosta de sorrir e falar diretamente o que quer, isso dava ainda mais enfase para seu hipnotizante olho vermelho.*

- Sou Hatsuko...

Ex-princesa, destronada por alguém que confiava - pensou, mas não disse.

- E você... Seria? - perguntou, pra não sair por baixo.

- Eros D. Faulkner *disse a seco e sem nenhum detalhe a mais*

Milésimos depois, se lembra do favor e pergunta a respeito do cujo.

- Agora pode pedir o favor, princesa *disse o vampiro, ao forçar um meio sorriso, pois gosta de manter a cara de sério e assim, enquanto se força para sorrir, também faz tipo um cafuné na sulfure*

- Preciso da ajuda dos seus poderes pra... Resolver meu assunto com esses dois... Sinto que só eu posso evitar que matem um ao outro - respondeu, sendo sincera - Porque, na verdade, tudo isso é culpa minha.

Ela não ligou do vampiro fazer cafuné nela. Sentia saudades de quando podia se dar ao luxo de ser afagada daquele jeito.