Lua Arianaur

-Ok,você quer que eu seja tipo o professor Xavier do teu time, impedindo os dois Juggernauts ali de se matarem?

-Tábom, mas só porque ando meio entediado e andar com sua trupe parece ser perigoso. *disse o vampiro, sussurrando no ouvido de Hatsuko, agora já havia parado o cafuné.*

A súbita aproximada do vampiro fez com que ela se afastasse. Tornara-se velhaca quanto a tanto carinho sem segundas intenções. Um passo mais distante, sentiu-se mais reconfortada.

- Bem... Preciso que você acorde Myul primeiro... Sabe, o de cabelos brancos - fez um pausa - Acho que ele será o mais difícil de convencer a não matar Lief... Aliás, você fez bem em manter-nos separados. Também preciso que fique por perto, caso preciso acalmá-lo...

- Mas eu não vos conheço... ainda mais em se tratando da richa deles...
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- Ao menos venha comigo, oras... *disse o vampiro, virando o rosto pro lado em sinal de um breve momento de revolta*

- Está zangado com minha ousadia? - perguntou, arrependendo-se de ter pedido tal abuso sem conhecer direito aquele homem - Prometo que será recompensado se me ajudar...

Aquele homem a deixava meio nervosa. Seu comportamento era tão parecido com o de Lief quando se conheceram que ela não podia deixar de pensar em seu amado de cabelos ruivos sempre que olhava para aquele que tinha os cabelos brancos.

São como Myul e Lief em um só homem... - pensou, surpresa.

- Zangado com sua ousadia?... Recompensa?
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Nháááá...
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Eu gosto de ousadia - who dares, wins!... E não ligo pra recompensas, faço as coisas que quero por mero capricho...
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A questão foi, você querer que eu acorde sozinho, uma pessoa enfurecida que eu adormeci e me intrometer na richa dela...
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- Ele a conhece há mais tempo que eu, então venha comigo e o desperte ao meu lado. *disse, caumamente, enquanto olhava profundamente nos olhos da garota demônio*

- Ah sim, entendo... - agora sim, ele havia explicado suas intenções.

Hatsuko dirigiu-se para onde Myul se encontrava e fez gestos pra que Eros a seguisse. Voltaram pro jardim onde o homem de cabelos brancos jazia caído.

E tendo ficado resolvido, Eros seguiu calmamente rumo ao local onde o homem adormecera. E a cada passada do vampiro, Myul dava mais sinais de que estava despertando, até que finalmente despertou, quando o ser bebedor de sangue - chegou à porta do jardim, parou e disse (enquanto punha um cigarro na boca e o acendera):

- Nada demais, apenas distância preventiva...

Hatsuko agradeceu silenciosamente o vampiro com um acenar de cabeça. Aproximou-se de Myul, que despertara lentamente conforme a vontade de Eros.

Bem, que todos os infernos me protejam - pensou, antes de ajoelhar ao lado de Myul.

- Myul... - sussurrou seu nome suavemente, como fizera naquele dia...

Myul, ainda um pouco abobado, semicerrou os olhos para o vampiro e ficou o observando por um tempo antes de se levantar.

- Hatsuko... - ele caminhou um pouco torto na direção dos dois. - Hatsuko... finalmente você está à salvo.

O feiticeiro a envolveu nos braços, dando-lhe um terno abraço. Hatsuko se sentiu um pouco estranha à princípio, mas acalmou-se ao ter as narinas invadidas pelo cheiro natural do teleporter, cheiro este que lhe trouxe um misto de lembranças fraternais, amorosas e ardentes. Sentira aquele aroma outra vez, quando estavam mergulhados nas Cachoeiras de Wushu, e tinham seus corpos colados, esforçando-se juntos para dar prazer um ao outro. Mas o cheiro também lhe lembrava a briga que eles dois tiveram e o braços de Myul envolvendo o corpo dela logo após. Os dois na cama, sonhando apertados.

O que mais pesava na memória da feiticeira era saber que, apesar de tudo, Myul apenas esteve preocupado com ela o tempo todo, pois até o presente momento ainda não fugira a ele a idéia de que tudo o que acontecera fora um mero truque de Lief para seduzir e depois raptar sua mulher.

- Obrigado a você também. - falou ele para o homem ao lado.

Hatsuko correspondeu o abraço com o máximo de ternura que pôde. Embora recusa-se a admitir, sentira falta daquele cheiro, daquele calor e principalmente, daquele amor, que lhe parecia bem diferente do de Lief, menos doloroso, menos fogo. O romance dela com Myul era como a lama e o com Lief era fogo.

Você pode semear o amor e a comida para seus filhos na lama, mas é o fogo quem queima avassaladoramente. Ela queria o fogo... Mas também queria a lama. O impasse era doloroso e isso dava-lhe uma angústia sem tamanho.

- Myul... - sua voz soava rouca - Precisamos conversar...

É agora ou nunca!

- Primeiro, quero que entenda que não estou nem nunca estive enfeitiçada - começou, olhando-o nos olhos - Fui com Lief porque ele sempre significou muito para mim, mas... Mas... Meu coração não está só repleto dele... Como de você também... - nesse momento, lágrimas começaram a cair de seus olhos, mesmo ela fazendo força para contê-las - Gosto de você, Myul... Mas também gosto dele... Compreende? Não posso escolher, não sou capaz disso. Mesmo que você me pegue no colo e fuja comigo agora, como daquela outra vez... Sei que ele vai me procurar... Sei que vamos nos encontrar... E isso virará um ciclo infinito... Um ciclo do qual eu mesma não consigo sair... Myul, tudo que peço é que me espere... Você e Lief... Quero que convivam um com o outro, sem se matar porque... Preciso de vocês dois...

Finalmente, as palavras pararam de saltar da boca da sulfure e ela mordeu os lábios até sentir gosto de sangue.

- O vampiro apenas mexeu a cabeça em sinal afirmativo, como reposta ao agradecimento de Myul. Depois falou consigo mesmo:

- Mais um final feliz, isso significa que ainda não é o fim...
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- Não mesmo... somente um já foi, falta outro... *e apagou o cigarro amassando-o na mão que fechara*

- Não chore.

Ternamente, o teleporter limpou as lágrimas de Hatsuko, permitindo a ela que sentisse o peso das batalhas através dos dedos ásperos e da mão calejada - mas ainda ainda suaves de algum jeito - que Myul possuía. O toque dele exalava força e experiência, era algo fraterno e protetor. Sua textura imperfeita era apreciada instintivamente, assim como o formato belo de seus músculos braquiais que agora deslizavam sobre o delicado tecido que cobria o torso da feiticeira.

- Também não diga que gosta de mim. Diga que me ama, pois posso ver em seus olhos. Vejo também que, assim como ama a mim, ama a ele. Talvez eu tenha sabido desde o princípio, mas não tive vontade de enxergar. Mesmo tentando fugir de todas as formas e tentar trazer você à mim e só a mim, aqui estamos nós de novo dando continuidade ao ciclo. Você tem razão, isso nunca vai terminar. Estarei sempre tentando lhe alcançar, seja lá onde estiver, pois você é a minha mulher e eu não desejo ter nenhuma outra. O tempo em que passei sem você foi preenchido de solidão e dor, mesmo que não tenha durado muito, eu percebi que eu não suportaria... quer dizer, talvez eu até suportasse sim a dor de não te ter, pois sou forte também por dentro, mas... eu não quero. Eu não quero estar longe de você, pois a amo e farei de tudo para que você me aceite, mesmo que seu coração não seja completamente meu.

Myul voltou-se para Eros.

- O que fizeram com aquele rapaz? Eu gostaria de conversar com ele agora. Afinal, não sou só eu quem tenho que aceitar essa condição.

Ele tava dormindo, assim como vocês dois. *respondeu Eros, olhando para trás e diretamente à Lief, fazendo-o despertar*

Seu coração parecia prestes a explodir. Ele realmente tinha aceitado ela... Apesar de tudo. Aquilo era mais do que ela poderia desejar, muito mais. E naquele momento, ela realmente teve certeza que amava a lama tanto quanto amava o fogo. Nem mais, nem menos, apenas por igual. Tudo aquilo graças a intromissão de um total desconhecido. Percebeu então que estaria eternamente ligada aquele homem de nome Eros, sempre deveria sua felicidade a ele. Estava decidida a pagar por tudo.

- Lief... - chamou Hatsuko, enquanto o outro amado despertava, dando um passo a frente, na direção dele.

Lief abriu os olhos lentamente. Com a vista ainda turva, observou Hatsuko e Myul se aproximando, o que o fez despertar por completo de imediato. Recuando assustado, fez esforço para se pôr de pé, apoiando-se num assento próximo para conseguir se levantar.

- AFASTE-SE!!

O garoto apontou a espada para o feiticeiro, que continuou andando até ele calmamente.



- Fique longe de nós, Hatsuko. Esse é um assunto que apenas eu e ele temos que tratar.

Myul estalou os dedos e a espada de Lief se teletransportou para sua própria mão. Coisa que arrancou uma exclamação abafada do feiticeiro da sedução.

- Não estou aqui para lutar.

Após jogar a espada ao chão, o celestino se aproximou ainda mais do outro.



- O que é que você quer?! Não vê que Hatsuko escolheu ficar comigo?



- Eu não quero machucá-lo, Lief. - ele falou serenamente. - Quero apenas estar ao seu lado.



- O QUE?! O QUE ESTÁ DIZENDO?



- Você deve saber muito bem. Você, no fundo, deve ter sentido... não é mesmo? Pois eu senti. - agora eles estavam próximos o suficiente para se encostarem e, antes que Lief esbravejasse mais alguma coisa, Myul prosseguiu: - Enquanto estive com ela e pensava que seria para sempre só nós dois... eu, no fundo, sempre soube que isso não era uma total verdade... Eu podia notar que Hatsuko me amava (e ainda me ama), mas tive a consciência de que o coração dela não era só meu e também notei (quando você sorriu para mim ao me ver me aproximar dela), que você também sabia que à partir daquele dia ela não seria apenas sua. Você não desistiu e aqui está, junto dela, mas fui eu quem a ensinei a amar de verdade. Estaremos para sempre conectados, nós três.



- CHEGA!! - Lief o empurrou - QUE BABOSEIRA É ESSA QUE VOCÊ ESTÁ ME DIZENDO???

Rangendo os dentes, ele tentou lutar contra os insistentes pensamentos que voltaram a despencar como torrentes em sua cabeça. Aquele homem e sua garota, se amando de modo ardente...



- LIEF! - Myul segurou os braços dele para se defender - Escute-me! Se você a ama como eu a amo. Terá duas opções agora: torná-la infeliz por egoísmo ou dar a ela a felicidade junto comigo! Não ficarei aqui para insistir, posso evaporar quando eu quiser e não tenho medo de ser atacado por você, então pare de perder tempo com essa cena, pois eu sei que no fundo você vem se preparando para isso assim como eu! Imagino, em suas suposições, o que sua imaginação não deve ter criado sobre meu momento de amor com Hatsuko. Essas memórias inventadas, tudo isso deve te incomodar muito, não?! Tudo aconteceu rápido demais para ser simplesmente apagado. Nada disso será apagado, Lief, a não ser que você a deixe para sempre e eu sei que não é isso que você quer!

O guerreiro segurou o garoto pelos ombros, olhando-o no fundo de seus olhos lacrimosos e sofredores.

- Não tenha medo, Lief.



Com os lábios tremendo levemente e as bochechas ardendo por conta de sentimentos que nem ele mesmo compreendia, Lief sentiu-se fraco e vulnerável. Era o pior de todos os homens. Envolvendo-o naquele instante, estava o feiticeiro que havia tirado a inocência da mulher que ele amava. Lief tivera a oportunidade de se tornar íntimo de Hatsuko diversas vezes, mas nunca fora homem o suficiente como Myul fora. Aquele era um pensamento doloroso que o queimava por dentro. Estava sendo dominado pelo homem que havia sido superior a ele em todos momentos. Myul parecia mais forte, honrado e poderoso, o que fez o ex-vampiro pensar que talvez Hatsuko fosse bem mais feliz ao lado dele. Mas a sulfure o amava e ele tinha essa certeza, ela sempre se sacrificaria mais uma vez, se fosse necessário. Não podia abandoná-la. Mas o que poderia fazer agora?

O mais doloroso de tudo era sentir a admiração extrema que, desde o princípio, nutriu secretamente por Myul. Ele era tudo o que Hatsuko precisava e Lief queria ser igual a ele. Não havia espaço para ódio, apenas para um reprimido bom sentimento que o senhor Elsphyr havia trancafiado nos confins de sua própria alma.



Percebendo tudo aquilo transbordar pelos olhos dele, Myul deixou que o garoto afundasse a cabeça em seu peito, agarrando-se com os dedos ao tecido de seu quimono celestino. Em seguida, abraçou-o como um irmão, tendo o gesto carinhosamente retribuído pelo outro, que nada conseguiu dizer.

- Venha comigo. - Myul deslizou uma mão pelas costas de Lief, pousando-a no ombro dele e conduzindo-o em seguida até Hatsuko, que chorava copiosamente. - Estamos aqui, Hatsuko, e não queremos mais ver lágrimas em seu rosto. Nunca mais.

O teleporter segurou uma das mãos dela. Lief segurou a outra. Ele até então havia se mantido cabisbaixo, pois se sentia sem dignidade de encará-la, mas logo notou que o choro de Hatsuko era de alegria. Não havia o que temer.



- Isso pode parecer estranho, mas... - ele olhou de rabo de olho para Myul antes de encará-la. - ... eu estou, de certa forma, até um pouco aliviado agora. Tenho aqui ao meu lado a mulher que amo e o homem que admiro, mesmo que o tenha temido por tanto tempo. Creio que agora não há mais motivos para nós dois temermos, pois estamos todos juntos.

Lief pretendia falar mais, mas quando viu que Myul se aproximou da sulfure para beijá-la na bochecha direita, perdeu completamente a fala. Admirou por alguns segundos a confiança do teleporter, que de forma provocante segurou a sulfure pela cintura e aconchegou o corpo dela ao próprio.

Estamos todos juntos. Repetiu ele para si mesmo. Então se aproximou também, estava um pouco tímido e nervoso, mas Myul o puxou pela mão, mesmo estando de olhos fechados, havia sentido a aproximação do outro. Lief segurou os dedos dele e chegou mais perto, dando um beijo quente e suave na bochecha esquerda de Hatsuko e, junto de seu até então rival, apertou o corpo dela contra o seu.

- Estou tão feliz... - murmurou, fechando os olhos e sentindo o calor dos corpos dos amados envolvendo o seu.

Depois de abri-los novamente, olhou para Eros e sorriu:

- Devo agradecer à você também, senhor Eros - seu sorriso era caloroso, daqueles que aqueciam todo o ambiente quando apareciam - Sem sua ajuda, isso provavelmente não aconteceria... Serei eternamente grata à você.

Olhou novamente para os amados, seus olhos perguntando se poderia convidar aquele homem a andar com eles.

Continuação.