As Cachoeiras Paradisíacas dos Domínios de Wushu II

- Eu já lhe disse - respondeu - Ela terminará o que começamos. É melhor que não saiba sobre ela, se não quiser machucar-se.

Por algum motivo, ela sabia que não devia explicar. Não queria que o amigo entrasse em apuros por causa das decisões dela.

- Entregue-me ou não confia em sua companheira de Casa?

Vermithax começou a recuar, ainda se sentia desconfiado em relação àquela Hatsuko, seria mesmo a garota que ele conhecia? Ele não podia ter certeza.



Myul emergiu da água, focando seus olhos no brilho forte que a adaga emitia sob a luz do sol. Hatsuko sentiu a mágica vibrar no ar, uma garra sobrenatural e ofuscante cortou a realidade em frente ao meio-dragão, e nesse momento tudo se desmanchou, escorrendo como tinta numa pintura que acaba de ser encharcada.

Hatsuko sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto e se deu conta de que, na verdade, já estava acordada. Sentia dor na palma e notou que apertava um objeto metálico e cortante, a faca dos sonhos estava em suas mãos. Sobre seus dedos estavam os dedos de Myul.

- Eu peguei a faca para você... - sussurrou ele ao ouvido dela. Os raios de sol da manhã já penetravam o quarto e o feiticeiro ainda a abraçava, colocando a própria mão sobre a mão da sulfure. Ela ainda sentia uma certa ardência nos olhos devido ao brilho ofuscante do sonho, aquilo havia sido uma magia real, um feitiço que transportara a faca onírica para o mundo dos humanos. - Eu sou o mago do teletransporte... quando o sonho começou eu sabia que ele era muito mais que um sonho comum, Hatsuko... Chegou a hora, chegou a hora de destruir a maldição...

As palavras de Faee ecoaram na cabeça da Princesa do Terceiro Inferno:

Não destrua a faca.

- Myul - ronronou Hatsuko, ainda meio adormecida ao ouvir a voz dele - Eu não sei se posso...

Hatsuko sentiu um aperto avassalador no peito. Queria muito ajudar Myul, mas ela não tinha certeza se valia a pena tudo aquilo.

Mãe... Eu sacrifiquei-me por Lief e ele me deixou sem hesitar, mesmo sabendo que eu o amava - ela pensou, muito confusa - Mesmo aquele sendo o pai que sempre desprezei, é a última coisa próxima de família que eu tenho. Como abrir mão da família?

Livrou-se dos braços de Myul, ainda apertando a faca. Sentou-se na cama e deixou sua cabeça cair sobre os joelhos. Estava chorando como uma criança.

- O que está acontecendo?!

Myul se levantou rapidamente, pondo-se ao lado dela e segurando-lhe os ombros numa tentativa de consolo.

- Pra salvar você e o seu mestre, eu... - ela soluçou - Eu preciso sacrificar a única coisa que me resta.

Hatsuko levantou o rosto e encarou a faca. Apertou-a forte, deixando sulcos profundos na palma da mão.

- Já me sacrifiquei antes por amor... E isso me custou caro... Gosto de você, Myul... Mas, mas... Eu não sei o que fazer - quase engasgou quando terminou de falar, as lágrimas rolando por seu rosto - Isso é apenas negócios... Sei que vai ir embora depois...

- Não me salve... - sussurrou ele ao ouvido dela. - Há uma coisa que eu preciso te contar.

Pássaros cantaram ao lado de fora.

- Eu pouco me importo com o que acontecerá com Maverick, de verdade. Quando te vi em meio àquela confusão, eu só queria estar perto de você, e eu realmente não sabia porque estava me empenhando tanto por um garoto que não é importante para mim de forma alguma. Eu percebi que estava fazendo isso apenas para que eu pudesse ficar um pouco mais perto do que realmente me importou naquela hora. O brilho dos seus olhos... a luz que transparecia por seu rosto... - ele a envolveu ainda mais. - Eu sei que isso tudo pode parecer estranho mas... Eu acho que não temos muito tempo para mentiras, já que podemos muito bem estar diante do fim do mundo. A guerra começou e não há porque continuar escondendo as coisas um do outro, mantendo segredos... E se tudo acabar? E se eu nunca mais for te ver? O que será de nós? Eu não sei... é por isso que eu não tenho medo... não tenho medo de confessar que... eu estou apaixonado por você, Hatsuko, desde o momento em que eu te vi.

Aquelas palavras. Aquelas palavras tão doces. Eu estou apaixonado por você. Hatsuko nunca esperava ouvir aquilo de ninguém.

Não nasci pra ser amada... Mas agora, não sei o que fazer - pensou, o coração parecia que ia explodir no peito.

Ela encarou aqueles olhos vermelhos brilhantes. E percebeu que não importaria se morresse agora, desde que estivesse com aquele homem em seus braços.

- Eu amo muito você, Myul - conseguiu dizer - Tanto que não posso respirar.

Hatsuko jogou-se nos braços do samurai e beijou-o na boca. Passou os braços em volta do pescoço dele e colou seus corpos.

Myul evolveu corpo de Hatsuko com seus braços nus e musculosos. A única coisa que cobria o corpo do feiticeiro era sua roupa íntima branca que usava para dormir. Ele sentiria-se sujo se não estivessem tão próximos do fim do mundo. De que importava o cavalheirismo quando tudo tinha simplesmente a chance de acabar? A visão lhes mostrara que a realidade da Terra do Exílio estava ameaçada e não fazia sentido perder sequer um segundo.

- Segure sua respiração... - disse ele docemente ao ouvido da sulfure. - Nós vamos afundar...

O exilado jogou seu peso sobre a cama, trazendo Hatsuko consigo. Ela sentia-se envolvida, aquecida por aquele corpo quente, protetor, forte. Suava junto dele num beijo ardente. Quando as costas de Myul tocaram os lençóis, Hatsuko pôde ver bolhas se formando no ar. Tudo tomou uma tonalidade levemente azul, e o ar quente se tornou fresco como um banho de mar. Eles estavam sob a água, sob as águas cristalinas e paradisíacas dos domínios de Wushu.

Suas mãos estavam unidas assim como seus lábios. O rosto de Myul estava colado ao dela enquanto mais bolhas subiam para a superfície toda a vez que o feiticeiro se aproximava para beijá-la mais uma vez. Em torno deles estava um verdadeiro paraíso aquático, muitos peixes grandes e coloridos nadavam tranquilamente em torno do casal, plantas aquáticas brilhantes e muito verdes escondiam pequenas criaturas que, em meio à escuridão de seus esconderijos, espreitavam o casal de estranhos curiosamente.

Quando não houve mais fôlego, Myul segurou Hatsuko e nadou junto dela para a superfície, então eles puderam ver as cachoeiras e ouvir o barulho mágico da água se chocando contra as pedras. O exilado os teletransportara para uma região secreta e longínqua daquelas redondezas, um lugar cercado por natureza bela onde poderiam, em paz, amar um ao outro. Ou pelo menos era assim que ele planejava...

O lugar era simplesmente maravilhoso. A água era tão pura e linda que dava pra ver o fundo sem o menor esforço. As plantas que tinham ali eram únicas, perfeitas e incontavelmente belas.

Hatsuko sentiu que poderia ficar ali para sempre, naquele paraíso esplêndido. Tinha tudo o que sempre quis: paz e amor. O medo e o desespero dissiparam-se de tal modo que poderiam nunca ter existido. Os pavores da guerra pareciam sonhos longínquos, daqueles que você tem numa noite ruim de pesadelos. Pesadelos que ela conhecera tão bem quanto a palma de sua mão, mas não a incomodavam enquanto estava nos braços de Myul.

Myul... Era tudo aquilo que ela desejava. Alguém que a amasse, protegesse e não fosse embora. Ela sabia o que ele queria quando levou-a aquele lugar e estava pronta para entregar-se de corpo e alma aos toques e ao amor do samurai.

- Gostaria de poder ficar assim para sempre - disse, envolta pelo calor de Myul.

Encostou a cabeça no peito dele, os longos cabelos verdes molhados e levemente desgrenhados. Desejava com todo o fervor reivindicar o samurai para si, somente para si. Que se danasse a guerra, o importante eram os dois ali, juntos como sempre deveria ter sido.

- Essas roupas devem estar pesadas...

Myul começou a despir Hatsuko gentilmente, sem tirar os olhos dos olhos dela. A sulfure sentiu que aquele olhar lhe penetrava a alma e a dizia, dentro que seu coração, que aquele homem estaria sempre junto dela, sempre por perto e que jamais a deixaria. Ele nada precisava dizer, seu corpo falava, seu toque fazia transparecer cada palavra não dita.

Em meio às águas cristalinas que refletiam a luz do sol, Myul e Hatsuko se sentiram flutuando quando, mais uma vez, seus corpos se juntaram em um beijo quente. Seus rostos suavam em meio ao frescor e ao mesmo tempo calor incandescente que os queimava de dentro pra fora, explodindo-se em fagulhas apaixonantes toda vez que eles se olhavam, se beijavam, se tocavam ternamente...

Myul continuou a despi-la, deixando-a completamente nua como ele também estava agora. O feiticeiro tocou-a nos seios, afundou o rosto em seus cabelos, colou suas intimidades e, juntos, experimentaram o doce sabor de amar pela primeira vez.

Deixou que as mãos habilidosas e sedentas de Myul retirassem suas roupas molhadas. Curtiu cada momento enquanto ele as retirava, a fome um pelo outro aumentando cada vez mais. O coração dela martelava com tal intensidade que parecia que pularia de seu peito.

Suas mãos passearam delicadamente pelas costas musculosas dele, desenhando cada músculo que parecia ter sido esculpido com toda a maestria e cuidado. O simples contato com aquele fogo intenso que ele emanava fazia Hatsuko sentir-se quase em ebulição, seu corpo pedindo cada vez mais. Suas lábios bebiam de todo o amor de Myul, com beijos ardentes e molhados.

Quando sentiu Myul entrar, seus lábios soltaram um leve gemido meio suspirado, sentindo agora a consumação de seu amor. Seus corpos mexiam-se juntos, como se fossem um só, separados por algum deus cruel que zombara do amor que tinham um pelo outro. Subiu as mãos pelas costas até tocar os cabelos brancos macios de Myul, que agora pingavam água e aproximou seus lábios novamente, pedindo mais e mais...

Myul apoiou-se sobre Hatsuko depois muito se amarem, deixando que a sulfure sentisse seu peso e seu calor. Flutuaram sobre a água juntos, agarrados ao corpo um do outro e sentido a alma se conectar através deles, atravessando as correntes de vida que compartilharam naquele momento em que o amor ardeu em seus corações e explodiu por dentro, transformando-se na mais tranquila calma após o ato. Sentiram como se nada mais importasse. Nada além deles dois. Mas eles sabiam que as coisas não eram assim.

- Temos uma guerra para enfrentar. Precisamos zelar pelo nosso reino, Hatsuko, é isso que todas as Casas devem estar fazendo agora. A criatura mais poderosa de todas está destruindo tudo o que vê pela frente nos Campos Imaculados. Eu realmente espero que o Colosso não tenha chegado à Shandrya, pois se isso acontecer tudo estará perdido. - ele olhou no fundo dos olhos dela. - Você vem comigo?

Hatsuko sabia que era egoísmo dela querer ficar com Myul para sempre enquanto todo o mundo que eles viviam podia ser destruído. Então, respondeu, decidida:

- É claro que vou - depois de uma pausa, completou - Não pretendo te deixar nunca mais - deu um sorriso meio tímido.

- Nem eu... - respondeu Myul antes de beijá-la mais uma vez. - Acho que precisaremos de roupas secas, não? - ele deu um sorriso. - Irei nos levar para dentro de uma loja de roupas em Shandrya que fica próxima ao castelo do rei. É onde se encontra o alfaiate mais habilidoso de todos os tempos. Se segure firme.

Ele apertou-a suavemente enquanto murmurava as palavras do feitiço de teletransporte.

Continuação.