The Sad Ghost Club

(para a última célula do corpo:)

você sentado na calçada, com um cigarro na mão, a cabeça baixa vendo o celular, uma touca vermelha. eu te enxergo de longe e de repente lembro que tenho uma caixa torácica e lá ressoa alguma coisa.

eu sabia que algo ia acontecer segundos antes de beijar você naquele dia. tive a impressão (é verdade que eu estava bêbado) de que o tempo estava parado, ou tão devagar que não tinha mais como computar. eu não sei se sabia do resto - é como você levantar uma mochila que pensa estar pesada, mas na realidade está vazia, e você acaba empregando muito mais força do que o necessário. sabe? eu tenho esperado o desconforto e a surpresa o tempo todo, mas o que tenho de volta é essa impressão de que já falamos. como se fizesse muito tempo. como se o tempo de vez em quando decidisse parar para ajeitar as coisas. é justo, considerando o que perdemos. eu estou desse jeito que você sabe, que eu não sabia que estaria, que não sabia se seria capaz - e ao mesmo tempo nada poderia ser tão natural.

porque é você. é o seu sorriso quando você não consegue evitar sorrir. é a primeira vez em que ficamos juntos assistindo vídeos e eu apoiei minha cabeça entre o travesseiro e o seu braço. é você dando exemplos sempre com o mesmo número, me beijando no meio da testa, se encaixando em mim. é você fazendo aquele comentário, aquela piada, aquele gesto - sabe? só que de um jeito bom. só que de um jeito ótimo. é você me contando as coisas e pedindo para que eu me torne mais claro e implícito. é você como que lendo a minha cabeça - e a melhor parte é que você nunca está. é que você é realmente assim, e você me faz sentir desse jeito, e todas as coisas que já conversamos deveriam parecer malucas e desmedidas mas só parecem elementos óbvios do contexto.

é você.

só para dizer que esse texto aí de cima me deixou triste e solitário, mas não tem nada de tristeza nele. pq você colocou ele aqui no e-muro das lamentações? poxa

"it’s hard to watch
the game we make of love,
like everyone’s playing checkers
with their scars,
saying checkmate
whenever they get out
without a broken heart.

Just to be clear
I don’t want to get out
without a broken heart.
I intend to leave this life
so shattered
there better be a thousand separate heavens
for all of my separate parts"

agora você pode entender melhor ahaha

cansei de ser insegura e impulsiva, de não me expressar direito e de achar que tais fatores vão fazer com que as pessoas se afastem de mim. cansei de mandar embora qualquer um que faz com que eu me sinta bem pelo simples e escroto medo de compromissos. cansei principalmente de reconhecer tudo isso e não conseguir resolver. cansei de sentir saudades e não admitir. cansei de não ir atrás do que eu amo simplesmente pelo medo de não dar certo.

pensando hoje sobre anseios e amor, me lembrei de uma mensagem do ano retrasado: "gosto de você mais do que deveria". o amor que ele me jurava me impedia de querer terminar de todo. pensava se alguém ia me amar assim de novo: sem consequência, sem convivência, sem julgamento. uma idealização romântica e adorável de mim. me perguntei se existe assim um me amar. se é possível, até. as coisas que a gente pensa. objetivamente falando é tão difícil morrer sozinho, mas não é disso que falo. é de ser amado nessas instâncias; não apesar do que me deixa deslocado, à parte, mas porque essas coisas mesmas me tornam algo meio irresistível. um amor por mim, sendo quem sou. não me preocupo com o que não posso controlar, mas apostar é costumeiro: se eu tivesse que prever, diria que não vai acontecer.

Eu nunca soube porque sempre estou tremendo de medo.

Cansei de ser solitário... De me sentir impotente...
E de ler os fucking textos lindos de amor do Neo hauhsuh

Eu passei vário meses me sentindo como se estivesse gritando embaixo d'água. Como se alguém estivesse segurando minha cabeça dentro de um balde e eu não conseguisse fazer nada a respeito, até eu perceber que quem estava me segurando era eu mesmo. Então eu soltei, e agora eu me sinto como eu mesmo de novo, e não me lembro de ter me sentido tão como eu mesmo em anos. É uma sensação libertadora, mas aterrorizante. Me fez perceber que eu não tenho a menor ideia quanto a quem eu sou e o que eu quero.