A Morada do Ancião

Quando Azriel terminou de atravessar a passagem na parede, deparou-se com uma sala iluminada apenas por uma esfera brilhante sobre uma mesa onde um homem com cabeça de coelho se encontrava.

- Me chamo Neun. Sou aquele que interpreta a vontade do Ancião. Sente-se.

Neun indicou uma almofada em frente à mesa.

Azriel sentou-se, estava ofegante e preocupado.

- Neun, muito prazer. Tentarei ser breve: eu apenas quero saber o que fazer para deter o kimono que quer fazer mal aos meus amigos.

- É um kimono tão bonito... é uma pena que vocês tenham consigo ativar o lado ruim daquela preciosidade. Mas isso é culpa de vocês. Mayuri não os avisou que o silêncio devia ser absoluto enquanto Hyouka fizesse sua consulta? Quando a energia do Ancião está ativada, a película que separa esse mundo do outro se torna muito fraca. Qualquer palavra dita pode se tornar uma dica para os espíritos. Talvez vocês tenham dito palavras lascívias, já que despertaram nosso espírito protetor mais voluptuoso.

Neun tocou a esfera brilhante.

- Derrotar o kimono de Naoko não é uma tarefa fácil. Na verdade ela não está interessada em feri-los, o que ela deseja é apenas prazer carnal. Você deve dar isso a ela e só assim terão paz. Aqueles que forem encantados pelo kimono serão possuídos pelo espírito libidinoso de Naoko e isso pode ser muito perigoso numa sala onde se encontram tantos homens...

Azriel estava sentado com as mãos sobre o colo, e conforme ouvia as palavras de Neun, foi abaixando sua cabeça como se estivesse arrependido.

- Tem razão, ele nos avisou.

Azriel cerrou os punhos sobre o colo, ainda cabisbaixo.

- Então... De que forma seria possível dar prazer carnal ao espírito dela? Possuindo aquele que estiver com o kimono?

- Sim, essa seria a maneira mais fácil... - Neun esboçou um sorriso dentuço - O kimono também pode ser destruído pelos meios convencionais, mas o fantasma de Naoko é poderoso, furioso e vingativo. A batalha não seria fácil e os poderes dela são um tanto imprevisíveis, garanto que seria uma luta diferente de todas as outras das quais vocês já participaram.

- Entendo. Tudo bem.

Azriel fez menção de levantar-se e pagar o preço solicitado, mas deteve-se e sentou-se novamente, pois ainda tinha dúvidas.

- Desculpe incomodá-lo mais um pouco, mas aproveitando que estou aqui e terei que pagar um preço alto de qualquer forma, eu pensei melhor e gostaria de fazer mais algumas perguntas.
Primeiramente, sobre o Rei Celestial: ele é humano, ou exilado? A Terra do Exílio e o Supremo Santuário correm mesmo perigo, como Lord Mumn disse? Quais são os objetivos do Rei de Shandrya, e o que ele quer com as Terras Celestiais? Por que ele persegue o Rei Celestial? E qual a intenção de todos quererem tanto poder? Não seria possível que todos vivessem em harmonia? E finalmente, o Apocalipse em Exiled está por vir?

Neun ficou momentaneamente desnorteado com a quantidade de perguntas, observou a esfera por alguns segundos e obteve as respostas pouco a pouco através de símbolos místicos e imagens aparentemente desconexas que apareciam sobre a superfície brilhante da bola de cristal.

- O Rei Celestial é um Exilado; Sim, ambos correm grande perigo; O objetivo do Rei de Shandrya é o mesmo que o do Rei Celestial; Ele não o persegue; Há alguma razão para se desejar o poder? O poder é desejado por ele assim como é desejado por todos os outros seres. Os mundos superiores estão vazios, são como reinos sem um rei, o primeiro que alcançá-los irá governar tudo. O homem dotado de grande poder apenas está aproveitando a oportunidade que sempre desejou; Quanto ao Apocalipse, sobre isso eu não posso lhe informar, pois o Ancião é um sábio, não um vidente. Prever aquilo que irá acontecer está fora de suas capacidades.

Azriel ouvia tudo com muita atenção.

- Entendo... Muito obrigado pelas respostas. Agora só me diga que preço devo pagar.

- Eu não vou lhe cobrar caro, pois você possui um espírito puro. - Neun admirou os anéis grandes e cravejados de jóias que carregava nos dedos. - Tudo o que quero é Millo.

Azriel engoliu em seco, ficando paralisado por um momento, sem piscar os olhos, até que seus lábios tremeram para pronunciar algumas palavras:

- O que exatamente você quer com Millo?

- Sua consulta já acabou e o preço já foi pago. Talvez você saiba quando ele acordar... - a bola de cristal se apagou, mergulhando a sala na densa escuridão da madrugada. - Agora você já pode se retirar.

Azriel ficou sem palavras. Sabia que não adiantaria insistir com Neun.
Só restava a ele descobrir o preço por conta própria, então levantou-se, fez uma breve reverência e começou a andar em direção ao quarto onde estava anteriormente, preocupado.

Continuação.