Os Campos Imaculados II

Cortadas ao meio pelo Grande Rio, as Planícies Imaculadas são belos e pacíficos campos completamente dominados pelos humanos. É onde muitos cavaleiros são treinados e onde os comerciantes podem ir e vir sem qualquer complicação. Os campos não possuem monstros ou animais perigosos, no máximo ocasionais assaltantes que acabam cedo ou tarde sendo caçados pela guarda real.

É comum achar vilas humanas e vilas hobbits, pois nem todos gostam de viver na grande agitação de Shandrya, optando por ambientes tranquilos como este. Também é possível encontrar pequenos animais como coelhos e cervos, que servem de alimento para as pessoas, assim como as frutas dos eventuais pomares.

Os campos se estendem até as Montanhas do Leste, lugar considerado o limite para a paz humana, já que as montanhas estão amaldiçoados por feiticeiros. O regente de Shandrya sempre envia tropas às montanhas em busca da famosa Fortaleza Prontera.

Lief se deliciou com o sangue de Pam por volta do meio-dia. Ele e Hatsuko caminharam pela Floresta Anciã durante toda a tarde e quando a noite caiu eles chegaram aos Campos Imaculados.

Não havia nenhuma árvore sequer em torno deles e a dupla sabia que o vampiro teria grandes problemas quando chegasse a luz do dia. Para a sorte deles, após 2 horas de caminhada pelos campos eles encontraram uma singela casa de madeira onde duas garotas conhecidas conversavam (sentadas em suas cadeiras de balanço) sob a luz de um lampião de vaga lumes.



- Olha! São aqueles da floresta!



- É mesmo!

Lana e Clare correram para cumprimentá-los.

Lutrael que estava com fome decide se lançar as águas do Grande Rio, para pegar pelo menos um peixe, imitando o razante que as águias fazem no ataque.
Porém, ele acabou errando o momento de planar sobre as águas e bateu nas mesmas, fazendo-o capotar até a margem.
Lá, ele se levantou e voltou para os céus, aonde avistou uma cabana e resolveu ir até ela para ver se encontra alguém que tenha uma toalha para lhe emprestar e assim se secar.
Ao chegar lá, viu que duas garotas correramem direção à duas pessoas e assim ficou esperando que o grupo retornasse, preguiçoso que é, se pos a flutuar em frente da casa mais ou menos na altura do telhado e se deitou em pleno ar.

- Espero que não demorem, seria bom me secar logo._Disse o elfo, enquanto bocejava.

Lief percebeu que duas garotas estavam indo atrás dele, mas nãos e lembrava muito bem de quem elas eram.

- Ah, olá... vocês são... as garotas da floresta? - Lief podia não ter certeza, mas sabia de algum modo que era elas.

Hatsuko sorriu - Olá Lana e Clare - ela lembrava-se do nome das garotas - Então foi pra cá que vocês vieram?

Hatsuko e Lief avistaram um anjo sobrevoando a casa de madeira, porém Lana e Clare estavam de costas e não conseguiram notar a presença dele.



- Sim! - respondeu Lana com um sorriso. - Mas estamos receosas, pois essa casa não é nossa. Acabamos perdidas na floresta e, quando finalmente desistimos de encontrar a cidade dos elfos, resolvemos voltar à cidade, mas encontramos essa casa abandonada e decidimos ficar uns dias por aqui antes para nos recompormos.



- Nós mesmas! - respondeu Clare para Lief. - Vamos, entrem! Está tarde da noite, vocês devem estar exaustos de tanto viajar. Vamos preparar alguma coisa para que vocês comam.



Lana olhou para Lief com olhos misteriosos antes que adentrassem a estrutura de madeira.

- Cedo ou tarde ela vai te achar.

O vampiro pensou ter escutado Lana dizendo alguma coisa, mas refletiu que talvez fosse só sua impressão.

Lutrael que havia cochilado enquanto esperava, acorda com as vozes do grupo. Então se levanta e diz para si mesmo:

- Ahn?...

- Já voltaram?...

- Que bom...

Depois regressa para o chão e fala com Lana:

- Desculpe incomodar, mas...

- Pode me emprestar uma toalha?

- A poposito...

- Me chamo Lutrael D. Marshall.

- Prazer em conhece-la, bela jovem!

Lana não pareceu incomodada com a aparência incomum do visitante, apenas ficou olhando por alguns segundos para as asas dele.

- Claro que sim. Venha conosco para dentro. - sorriu ela gentilmente. - Me chamo Lana, prazer em conhece-lo.



Clare olhou para Lutrael um pouco apreensiva mas, ao ver que Lana estava calma, disse:

- E eu sou Clare.

Ambas entraram pela porta.

Hatsuko seguiu as garotas até a cabana, mas algo voltava a sua mente.
"Até logo, crânio."
Essas garotas - pensou - Não devo confiar tão profundamente nelas, mas, de qualquer modo, sempre haverá a opção lutar.

Observou o elfo do céu que aparecera misteriosamente. Até que não era feio.
- Olá, senhor Lutrael - disse, sorrindo gentilmente.

Ao ser bem aceito no local, Lutrael agradesceu a hospitalidade e entrou. Onde viu outra linda e que logo o cumprimentou, assim, ele retribuiu dizendo com um sorriso gentil e sedutor.

- Olá, linda senhorita.

- E por favor, esqueça o "Sr".

- Apenas "Lutrael" está bom.

Depois olhou em volta e pegou uma toalha para se secar e enquanto fazia tal ação, falava calmamente e ingenuamente para todos os presentes.

- Aaaahhhhhhh, como é bom achar pessoas tão gentis nesse mundo de guerra.

- Que os Deuses lhes abençoem.

- Ah, sim. Irei entrar, e obrigado novamente. - Lief entrou e ficou pensando sobre o que ela havia dito, mas pensou que seria algo que veio em sua mente, igual costumava acontecer depois de matar sua madrasta e meia-irmã.

Hatsuko ficou corada com a gentileza daquele homem misterioso.
- S-sim, senh... Quer dizer, sim Lutrael - deu um sorriso meio sem graça - Então, o que estava fazendo aqui por perto? E por que está molhado?

- Estava pregando a justiça, como um bom bispo que sou.

- Ajudando quem precisasse de uma luz salvadora.

- Dai no fim do trabalho, fiquei com fome e estava perto daqui mesmo, vim pra cá...

- Vim pescar que nem as águias, com aqueles razantes legais e..._Disse com um tom heróico e de cara legal enquanto olhava para cima.

- O meu razante deu errado e capotei na água até a margem...

- Peguei nenhum peixim..._Disse contristado enquanto olhava para baixo.

Pegou uma segunda toalha e jogou sobre os cabelos de Lutrael.
- Não fique assim, acontece - sorriu, gentilmente - Mas, seque-se, ou pode ficar resfriado.

Lief ficou observando Lutrael e a forma que ele tratava Hatsuko.

- Aqui está a toalha que você pediu! - Clare entregou a toalha à Lutrael. - Tem roupas limpas num armário do quarto dos fundos. Elas devem ter pertencido ao antigo dono da casa... *coça a cabeça* Espero que ele nunca volte...



Lana trouxe para o meio da sala de estar uma caixa decorada com desenhos do sol e da lua.

- Enquanto Clare prepara a comida de vocês, podemos jogar um jogo, não? - ela sorriu gentilmente enquanto retirava estranhos objetos de dentro da caixa.



- Lana é capaz de prever o futuro. - disse Clare serenamente. - Esse jogo é muito divertido! Mas estarei na cozinha preparando a refeição de vocês. Divirtam-se...

A garota se virou e retirou-se do cômodo.



- Algumas pessoas me chamam de sacerdotisa... - falou Lana enquanto pegava um chifre dentro da caixa e colocava sobre a mesa junto de uma bacia cheia d'água. - Outras me chamam de bruxa. - os dedos alvos da garota espalharam sobre o móvel uma pilha de cartas com símbolos desconhecidos. - Mas eu me considero apenas uma vidente.

Lana acendeu um palito negro que exalava uma fumaça aromática. Em seguida colocou-o dentro de um cilindro metálico e decorado com o desenho de dragões.

- A única coisa que eu sei é que eu posso ver o futuro. Qual de vocês gostaria de ser o primeiro?

A fumaça vinda do cilindro do dragão espalhou pela sala um aroma doce. A água começou a se mover levemente e os delicados dedos de Lana tocaram o chifre.

Lief ficou observando as cartas.

- Isto é... tarô, não? - E continuou observando as cartas. - Gostaria de ser o primeiro.

Hatsuko achou curioso as estranhas peças que Lana mexia. Ela aproximou-se.
- Poxa, que interessante - disse, olhando atentamente - Se Lief vai ser o primeiro, gostaria de ser a segunda.
O que será que o futuro nos reserva?

- Não exatamente. - respondeu Lana. - Cada uma dessas cartas representa um dos deuses.

A vidente pegou duas delas, uma tinha o símbolo de um grande olho vermelho, a outra tinha o símbolo de um coração alado.

- Essa é a carta da deusa Sylvya. Ela irá fazer sua visão se propagar até terras distantes, pois é lá que seu destino se encontra. - falou ela indicando a primeira - A outra é a carta da deusa Flieer, a deusa do amor e da paixão. Ela irá te mostrar aquilo que te aguarda em relação à garota que o ama.

Lana colocou as duas em frente ao vampiro.

- Mas você só pode escolher uma delas. O que deseja saber sobre seu futuro? O amor ou o destino?

- Destino. O amor eu descubro depois. - disse, sorrindo

- Tudo bem.

Lana afundou a carta sob a água, que tomou uma tonalidade levemente avermelhada. Um olho luminoso se abriu sobre a superfície e encarou Lief.

- Afunde sua cabeça na água.

Lief sem falar nada, colocou sua cabeça na água e a afundou.

Lutrael que estava molhado, logo se secou agora que possuia três toalhas e então se pos a flutuar e deitou de bruços no ar, indo em direção para a roda do jogo de cartas e ficou observando.

Quando Lief afundou sua cabeça sob a água foi como colocá-la para fora de uma janela. À sua frente imagens claras e vívidas puderam ser vistas por ele.

Primeiro, ele viu um retrato seu colado sobre um muro de pedra. O desenho era imperfeito, não o retratava com exatidão (um retrato falado), mas não seria impossível reconhecê-lo. Embaixo de sua imagem estava escrito: ASSASSINO. RECOMPENSA: 15.000 MOEDAS DE OURO.

A imagem se desfez. Lief viu Mary caminhar por uma paisagem longínqua e desolada. A pele da mãe do garoto que o vampiro assassinara era levemente translúcida e prateada.

- Eu estou procurando pelo meu filho. Por um acaso você encontrou um pequeno chamado Arthur? - perguntou ela para Lief antes da imagem novamente se desmanchar (como se tivesse sido repentinamente tingida por uma tinta muito escura).

Olhos amarelos se abriram em meio ao breu e Lief pôde escutar rosnados. Ouviu passos de alguém correndo desesperadamente no escuro. Barulho de uma luta de espadas. Alguém caindo ao chão. Sentiu o cheiro de sangue. Escutou latidos furiosos e, nesse momento, instintivamente colocou sua cabeça para fora d'água e tudo voltou a ser como era antes. A sala e as pessoas estavam à sua volta.



Lana o encarou indiferentemente.

- Hatsuko é a próxima.

A vidente pegou as duas cartas.

- Hatsuko, o que deseja saber? Amor ou destino?

- Assassino... Arthur... aquela mulher... - Lief estava pensativo e um pouco assustado.

- Ela... ELA ESTÁ VIVA?!?!?! - Lief se levantou de modo brusco e ficou andando em círculos, pensando.

- Ela quer me encontrar e está dando uma recompensa caso alguém me encontre... Se alguém me reconhecer na cidade, estarei ferrado... Mas acredito que ela não tenha ido até a cidade, eles teriam a matado... ela é uma exilada agora.

Lief se lembrou do sussurro que havia ouvido de uma das garotas, agora estava mais do que claro, a mãe de Arthur iria encontrá-lo, mas agora, ela não é mais uma humana qualquer e sim, uma exilada.

- Droga!!! - Lief gritou, colocando as mãos sobre a cabeça. - Preciso descansar... - E ficou deitado no chão, olhando para cima e ainda incomodado com o que havia visto.