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Enquanto o fogo voa as estrelas caem (6º parte)

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Mensagem por Sir Panzer Sáb Ago 11, 2012 2:45 am

Assalto


Após dois dias de repouso e poções preparadas por Stjerne eu estava completamente recuperado. O que era incrível, pois os francos tinham atingido meus ossos e eu teria tido sorte se simplesmente pudesse usar o braço novamente e mancasse sem dor. Mas eu podia correr e usar o braço de espada com a mesma maestria de sempre.
Pedi à minha esposa que organizasse provisões e, ao meio dia, montei-a em Turadör e seguimos em direção ao acampamento do cerco. Conversávamos pouco pelo caminho sinuoso em torno dos enormes pinheiros da floresta gelada mas ela sorria e fez questão de segurar forte minha mão enquanto seguíamos adiante, e isto era suficiente para me fazer sorrir também.

Quando saímos do meio das árvores e pudemos avistar as tropas acampadas toquei minha trompa e homens me olharam e saíram correndo a alardear, logo três homens montados vieram em nossa direção e eu pude reconhecer Ragnar, meu segundo em comando liderando dois outros guerreiros meus.
-Pela graça! O senhor está vivo!
-É preciso muito mais do que um punhado de francos para me matar, meu amigo! - Eu expliquei porque ele olhava as fendas na minha armadura com ar de curiosidade.
-Temos carne de javali salgada? Eu e minha esposa temos fome! - Ragnar parecia ainda mais espantado por eu ter desaparecido por 3 dias e ter voltado casado, Stjerne usava a longa capa branca com os ornamentos dourados nas bordas e com a toca sobre a cabeça. Era uma visão que parecia delicada e frágil sobre meu enorme cavalo de combate. Mas a verdade é que eu não ficaria surpreso se ela trucidasse algumas dezenas de cavaleiros sem esforço algum.
-Ragnar? - Perguntei trazendo de volta aos sentidos o homem que parecia a confusão encarnada.
-S-Sim, senhor! Temos bastante comida!
Encontrei-me com o restante de meus homens que estavam num salão preparando-se para as refeições num grande salão com uma comprida mesa de madeira no centro. Todos ficaram espantados e felizes ao me verem e começaram a ovacionar quando mostrei-lhes as placas amassadas e perfuradas da armadura e as cicatrizes da batalha.
Era disso que os homens gostavam, de senhores que liderassem os homens à vitória. Porque assim eles teriam reputação, teriam prata, ouro, mulheres, terras e, naquele momento, eu mostrei-me como um daqueles senhores.

À noite eu tinha dificuldades para dormir. Estava deitado com Stjerne sob peles de animais em minha tenda pessoal e, mesmo que estivéssemos nus, não sentíamos frio ainda que a neve caísse incessantemente lá fora e me deixasse com pena das sentinelas.
-O que foi? - Perguntou-me minha esposa.
-É possível que tenhamos batalha amanhã logo de manhã. Os outros senhores reuníram-se ontem no conselho de guerra e parece que temos engenheiros especiais trabalhando nos trebuchets para aumentar sua precisão. Se todos sincronizarem seus ataques num único ponto da muralha e isto funcionar meus homens e os outros guerreiros montados serão os primeiros a jorrarem para dentro da cidade inimiga...
Ela se ajeitou colocando a cabeça e uma das mãos sobre meu tórax, seus dedos pareciam brincar sobre meu coração...
-E por quanto tempo a batalha vai durar? - Perguntou-me ela.
-Não sei. - Respondi, e não sabia mesmo. As batalhas dentro das cidades dependem de uma série de fatores como barreiras temporárias que os defensores organizam nas ruas, do tamanho do exército defensor e de sua vontade em defender a cidade.
-E o que acontecerá depois dela?
-Seremos homens ricos. Além do saque eu terei direito a uma parte dos impostos arrecadados na cidade, que é um excelente entreposto comercial... - Virei a cabeça e agora eu olhava em seus olhos - Nossos filhos terão uma vida digna de príncipes! E herdarão tudo isto! Quero construir minha própria fortaleza. Tão forte que exércitos se chocarão contra ela como água se choca contra uma rocha.
Stjerne começou a descer a mão pelo meu corpo...
-Apenas volte logo, vou sentir sua falta enquanto estiver lá dentro.

E então, ao raiar do dia 1º de dezembro, os trebuchets dispararam.



As pedras cobertas de piche incendiado voaram loucas na direção de um ponto aparentemente intacto da muralha inimiga. Aquilo parecia tolo a primeira vista, já que havia outros pontos enfraquecidos que já tinham sido atingidos por outras pedras, mas fazia sentido porque esses pontos rígidos não tinham escoras ou montes de terra e pedras para reforçá-los de novos projéteis. No total, 18 dessas pedras flamejantes atingiram num curto espaço de tempo uma mesma região que deveria ter algo como dez metros de diâmetro na muralha inimiga despedaçando-a e abrindo espaço para o jorro de guerreiros que aguardavam impacientemente para ficarem ricos.
Eu e meus homens já estávamos preparados, assim como outros senhores que tinham homens especializados no combate montado. Esporeamos e nossos cavalos avançaram como demônios através da enorme fenda projetada entre as pedras e lá, à nossa espera, estava a parede de escudos inimiga.
Os homens nos aguardavam a cerca de 150 passos da muralha com escudos, lanças e espadas em punho. Deviam ter tentado chegar à fenda na muralha mas o movimento rápido da nossa cavalaria tornou tal estratégia impossível e, a medida que cavalgávamos, baixávamos as pesadas lanças de contato na direção de alvos selecionados ao longo da parede de escudos inimiga. Em pouco segundos aquilo era tripas, sangue e homens e cavalos gritando.

Acertei um escudo que tinha um javali preto pintado sobre um campo branco despedaçando-o, o homem que o segurava e o homem atrás dele morreram instantaneamente com a travessia da arma, que eu instantaneamente abandonei e desembainhei Garra de Grifo, minha fiel espada montante. O som que ela fez ao sair da bainha parecia o de uma voz sedenta... De sangue!
-Pressionar! - Gritei. - E meus homens esporearam e os cavalos passaram a pisotear, morder e coicear o inimigo que já estava em caos.
Um homem tentou golpear a barriga de Turadör com a espada mas eu lhe dei um chute na boca com o pé calçando pesadas grevas de aço e os dentes do sujeito se quebraram em uma cusparada de sangue. Ele cambaleou para trás e um de meus homens o estocou na nuca com a espada montante que atravessou até a base do seu pescoço.
Turadör tentou morder um homem que usou o escudo para se defender e eu aproveitei a oportunidade para estocar sua barriga e espalhar suas tripas pelo chão.
-Matem os desgraçados! - Eu gritava.
Um homenzarrão com um enorme machado de guerra tentou me atacar mas os dois homens que estavam ao meu lado o golpearam fazendo com que ele tomasse posição defensiva. Fiz turadör ficar sobre as duas patas traseiras e, na queda de volta para frente, um de seus cascos acertou o helmo do sujeito que caiu inconsciente no solo.
Continuei golpeando com Garra de Grifo e instigava meus homens a continuarem avançando e golpeando.
Agora os homens da parede de escudos inimiga estavam recuando para uma barreira improvisada com pedaços de madeira que um grupo de besteiros havia organizado numa das ruas cerca de 200 passos de onde estávamos. Alguns deles começaram a disparar as setas e eu ordenei aos meus homens que circundássem aquela rua em busca de pontos abertos nas defesas em outros lugares. Aquela barreira teria de esperar pela nossa infantaria que já se organizava dentro das muralhas da cidade.

Havia outros cavaleiros que seguiam à nossa frente e, ao passarmos pela entrada de uma das ruas que partia da muralha lanças começaram a voar em nossa direção.
Os primeiros homens caíram irremediavelmente com os cavalos tropeçando nas enormes armas que eu podia distinguir com clareza agora: eram projéteis de balistas e scorpions romanorus. Eram utilizadas como armas de cerco mas agora estavam sendo empregadas nas defesas da cidade e, a curta distância, tinham uma força tremenda.
-Recuar! - Gritei com todas as minhas forças enquanto girava o cavalo para também me salvar e, quando tomei fôlego para gritar novamente, Turadör tropeçou e o mundo à minha volta era um terremoto doloroso e caótico. O tempo parecia passar em câmera lenta enquanto eu caia com minha montaria lentamente até o chão. Eu podia ouvir as batidas do meu coração, meus pulmões sugando ar e também ouvi o aço da armadura trincando e rasgando quando um projétil de scorpion penetrou minhas costas e outro, desta vez de balista, acertava minhas costelas rasgando o lado esquerdo do meu tronco fazendo meus ossos se partirem.
Meu cavalo bateu com o pescoço e a parte de baixo da cabeça no solo e eu fui lançado da sela e quebrei o ombro e o antebraço esquerdo na queda.
Eu podia ver as nuvens passeando pacíficas no céu acima de mim e o que parecia ser uma coruja do ártico passou batendo as enormes asas em direção ao sul. O mundo ficava novamente vermelho e ia escurecendo... Era o meu fim. E, naquele delírio moribundo, eu vi o rosto de Stjerne antes de perder a consciência.



Fim da sexta parte.
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