Shandrya IV

Lief deu um sorriso, não era alegre, nem triste, apenas um sorriso.

- O que você quer dizer com isso? - ele parecia um pouco incrédulo e tentava disfarçar o tom de chateação. - Eu viro as costas, você pensa que eu estou morto e é isso que você faz? - o vampiro esboçou uma risada, soltando ar pelo nariz. - Como sabe que pode confiar nesse homem tão cegamente? Pelo visto, você está apaixonada, não é mesmo?

O verde vivo dos olhos de Lief encontraram o mar de sangue dos olhos de Hatsuko.

- Vejo que perdi meu tempo ao vir aqui tentar salvá-la.

Ele virou-se de costas e seguiu pelas ruas do beco.

Tem um pedaço de chumbo encravado em meu peito... - Era o que Hatsuko queria gritar, mas sua voz sumira.

Aquelas palavras de Lief soaram como farpas, devolvendo a ela a vontade de chorar. Qual direito ele tinha de dizer aquelas palavras depois de tudo o que tinha feito? Mas ela sabia que tinha sua parcela de culpa. Entregara-se à outro homem sem ao menos confirmar a morte de Lief ou mesmo acabar tudo.

Não deixe-o ir antes de estar tudo acabado ou resolvido, senão ficará presa à ele para sempre - agora, era a voz de sua mãe, submersa em loucura e depressão, que ela ouvia.

Seus movimentos seguintes foram sem pensar. Levantou-se rapidamente e correu atrás do vampiro, que já tinha afastado-se dela consideravelmente. Agarrou o pulso de Lief, sua pele continuava quente como sempre foi e as lembranças que isso gerou fizeram com que o chumbo encravasse ainda mais fundo. Quase gritou.

- Por que diz essas palavras cruéis? - murmurou, cabisbaixa, mas segurando o pulso dele firmemente - Deixe-me livre, Lief... Ou... Ou...

Lief esboçou uma outra risada incrédula.

- Palavras cruéis? Num dia você está apaixonada por mim, no outro se deixa levar por um desconhecido qualquer e quer me falar sobre palavras cruéis, é sério? - Ele a encarou com um misto de mágoa e compaixão. - Você tem que se decidir, Hatsuko, eu vim aqui para salvá-la, pois a escutei chorar e liguei isso ao fato de aquele homem estar ao lado dos Celestinos, o homem que te levou e te tirou de seu caminho. Agora me solte, se sua escolha não sou eu, ou se agarre à mim de vez, caso ainda confie em mim... - e, sussurrante, ele complementou: - ou caso ainda sinta amor por mim...

Filha - a voz de sua mãe agora era calma, controlada, gentil - Esse pedaço de chumbo só sairá se fizer a escolha certa... Faça a pergunta que tanto te incomoda...

Hatsuko contornou Lief e ficou frente a frente com o vampiro. Encarou seus profundos olhos verdes que brilhavam intensamente, com um misto de mágoa e frustração. Sentia vontade de chorar e ao mesmo tempo, não tinha lágrimas para isso.

- Amor... - murmurou e deixou a palavra propagar-se pelo ar - Sempre sou EU quem amo, mas e você, Lief? Você me ama?

Sua expressão era séria, frustrada também. Os olhos brilhavam como chamas do inferno. Mordeu os lábios, aguardando a resposta do vampiro.

- Você ainda morde seus lábios pensando em saborear os meus? - Lief perguntou enquanto a envolvia nos braços de forma suave, porém firme. - Amor... Hatsuko... amor, você por um acaso sabe o que é o amor? - ela pôde ver as presas vampíricas no sorriso dele. - Você sente amor por aquele homem? Ele disse que sente amor por você? - o verde ácido dos olhos de Lief brilharam entre as sombras do beco. - Você acreditará se eu disser que eu a amo? O que isso mudaria? Eu poderia simplesmente te enganar, assim como ele pode ter feito e assim como você mesma pode ter feito com ele... porque eu consigo ver nos seus olhos o peso das memórias... - a boca do vampiro se aproximou do pescoço da sulfure e ela sentiu a respiração dele sobre sua pele. - De nada valem essas palavras inúteis em meio aos atos. Eles que contam no fim, então eu não vou dizer nada.

O polegar de Lief roçou os lábios de Hatsuko, mas ele a soltou, afastando-se dela e virando-se para seguir seu caminho.

- Você tem que fazer sua escolha, não pode pertencer à duas pessoas. Se confia em mim e deseja estar comigo, então me siga. Se confia naquele homem e deseja estar com ele, então esse é o nosso definitivo adeus.

Por um instante, ele olhou por cima do ombro para olha-lá uma última vez, ainda sorrindo.

- Ora... ora... - Lief riu para ela. - Você não muda nada mesmo, Hatsuko...

Ele passou as costas dos dedos por uma das bochechas da sulfure, que estavam agora bem avermelhadas por conta de suas emoções.

- Chegou a hora de fazer o que deve ser feito...

O vampiro aproximou os lábios do pescoço dela, mordiscando-o levemente com seus dentes afiados. Hatsuko sentiu todo o corpo se arrepiar enquanto ele subia com a língua até a região próxima à sua orelha, afastando-se levemente à medida que contornava sua bochecha, esbarrando com suavidade seu nariz no dela e, lentamente, colando seus lábios num beijo doce que se tornou ardente. Ele a envolveu nos braços novamente, acariciando-a com a firmeza de quem muito ansiou por aquele momento, de quem muito aguardou por aquele toque. Mas ele se afastou e disse:

- Há algo que precisamos fazer antes de todo o resto. Você já está em posse da faca?

Saboreou cada toque, cada gesto lentamente. Absorveu o beijo de Lief como se fosse a última fonte do mundo, amando-o ferozmente, mas isso durou pouco.

A súbita separação quebrou o encanto e os sons da guerra retornaram, assim como a cruel realidade das palavras que ele pronunciou. Sim, ela tinha a faca, mas seria capaz de fazer o que devia ser feito? Segurou a camisa de Lief, apertando firmemente, antes de contar toda a história.

Contou sobre o pai, sobre o Reino Infernal que ele mantinha, o grande dragão que ela ganhara, os servos demoníacos. Contou que era a princesa daquele lugar e que seu crânio era a sua coroa. E, por último, contou que, se o crânio fosse destruído, ela nunca mais poderia retornar ao Inferno e perderia o seu trono. Dessa vez, não encarou o rosto de Lief.

Bem, essa história não importará para ele - pensou, cabisbaixa - Acabar com a maldição sempre foi o mais importante, tanto para ele, quanto para mim.

Tai, um ninja celestial, acompanhado por Melusine, uma garota de aparência nobre vestida como lolita, aproximou-se pelas costas de Lief. Os dois tinham um semblante sério e o Celestino imediatamente estranhou a presença de Hatsuko, encarando-a com um olhar de reprovação. Em seguida virou-se para o vampiro e perguntou:

- Quem é essa garota?

Uma fina cortina de chuva começava a cair dos céus enquanto nuvens acinzentadas se fechavam sobre o vão entre as muralhas paralelas vinte metros acima deles.



Melusine se aproximou da sulfure e disse:

- Olá, como se chama? Eu sou Melusine, a Fada do Amor, e estou ao lado de Lief nesta guerra.



Lief, sem nada demonstrar sobre tudo o que Hatsuko acabara de lhe dizer, disfarçou um sorriso de naturalidade e disse:

- Vocês não precisam se preocupar. Ela está do nosso lado.



- Mas e quanto ao inimigo que estava junto dela? Vocês o viram entrar no beco, não viram? E se ele vier buscá-la? Isso não poderá ser perigoso para nós?

Tai voltou-se à Hatsuko, desafiando-a.

- Eu não sei se podemos confiar em alguém que muda de idéia tão facilmente.

Hatsuko sentia-se ofendida com as desconfianças daquele ninja celestial arrogante. Encarou-o sem demonstrar nenhuma emoção e disse:

- "Essa garota" chama-se Hatsuko, princesa do 3º Inferno - e acrescentou - Não mudei tão facilmente de ideia. Nunca estive realmente envolvida com essa guerra. Encontrei-me no meio dela por acaso e não tinha aliados ou inimigos aqui. O senhor foi muito rude acusando-me sem provas - depois sorriu para Melusine - Você sim, é uma garota gentil, Melusine, a Fada do Amor.

Segurou a mão de Lief, para demonstrar que estaria onde o amado estivesse e voltou-se novamente para o ninja:

- Sou aliada apenas da pessoa que amo. Se quiser, duvide de mim o quanto quiser, mate-me se te fará feliz, mas assassinará uma inocente. E não vou facilitar pra você - ela deu um sorriso cruel.

Spoiler:

Lief arregalou os olhos para a reação de Hatsuko. Era mesmo aquela garota que ele conhecera? A sulfure sempre parecera tão frágil e depende de sua proteção, o que havia acontecido com ela? O que mudara naquele dia em que os dois se separaram? O que aquele homem fizera com ela? Seja lá o que fosse, o vampiro estava admirado. Nunca imaginara Hatsuko ser dona de tanto poder, de tanta confiança em si mesma. O que era um flor delicada se tornou uma garota forte e decidida, ele teria que lutar por ela, lutar para merece-la e sabia que agora suas falhas o fariam simplesmente perde-la para sempre talvez.



Tai deu um sorriso desdenhoso.

- Você se acha grande coisa, garota?

O corpo do ninja começou a se transmutar, tornando-se repentinamente esmerado e feminino.



- Eu posso ser a rainha de todo mundo se eu assim desejar.



- Eu posso ser você mesma, a princesa do inferno...



- ... eu posso ser aquele que você diz que ama...



... Ou será que aquele seria este?

A criatura começou a rir, voltando à forma de Tai.



- Eu posso ser tudo e ao mesmo tempo não ser nada, então não pense que irá conseguir me intimidar com essas palavras patéticas. Eu sou um doppelgänger e posso penetrar na sua mente sempre que eu desejar, posso descobrir qual é o ponto em que você fraqueja, posso me passar por qualquer pessoa que você conheça, posso embaralhar seus pensamentos e confundir suas lembranças. Posso destruir sua vida e recriá-la. Eu consigo ver, bem no íntimo do seu ser, o quanto seus sentimentos são inconstantes, pois você não sabe amar. Você não é fiel àquele que ama e não tem absoluto poder sobre as próprias vontades, medos e decisões. Você não sabe o que quer sacrificar, não sabe pelo que vale à pena lutar e não se decidiu ainda de que lado está. O que faria se aquele Celestino viesse buscá-la e lhe mostrasse que, na verdade, Lief é um traidor? Você voltaria a amar aquele homem?



Melusine, assustada com as palavras do doppelgänger, sequer fez questão de responder a sulfure, apenas observou-a, sem entender direito sobre quem Tai se referia e sobre a profundidade da relação de Hatsuko com tal homem.

Spoiler:

Tai pareceu horrorizado diante àquelas palavras. Em seguida, seu rosto foi tomado por um furor escarlate que transbordou por seus olhos em forma de um olhar mortífero. Sua boca tremia levemente com o nervosismo, mas tudo isso se desfez numa forçada risada de escárnio.

- Não pense que você está numa posição favorável à minha só por ser parte humana. Isso apenas a torna fraca. Todas as suas inconstâncias apenas ajudarão a destruir a você mesma e às pessoas que a rodeiam. Por muito tempo desejei essa fraqueza e ainda a desejo, eu gostaria de poder ser parte humano e ter próximo a mim pessoas que me amam, mas... - Tai fitou o vazio por um tempo. - Eu nunca fui capaz de ser fraco dessa forma e de me deixar levar por sentimentos bobos. Isso simplesmente não faz parte da minha natureza. Aquilo que você considera uma força, eu vejo como uma fraqueza e fraquezas não são bem vindas em tempos de guerra. Falando nisso, quando me referi à Lief ser um traidor, eu não me referia exatamente à guerra...



Lief pareceu um tanto tenso por um momento.

- Vocês não acham que já chega disso tudo?



- Hatsuko... - Tai se aproximou dela, ignorando a interrupção de Lief. - Eu posso captar todos os seus pensamentos, assim como todos os pensamentos de Lief e os de qualquer outra pessoa... - ele voltou a sorrir. - Você é uma traidora e entregou sua inocência à um homem completamente desconhecido... Se Lief pudesse enxergar tudo o que eu posso ver dentro de sua mente, eu aposto que ele não estaria aqui ao seu lado agora... Ou talvez estivesse sim... Afinal, ele te perdoou de todo o jeito...



- Cale a boca, Ophelia! - a sulfure estranhou ele se referir à Tai daquela maneira - Já chega!



- Mas e você... o perdoaria? - o semblante de Tai era triunfante. - E se ele estivesse te traindo justo agora...? Você não saberia... se ele estivesse mentindo para você sobre todo o resto... apenas eu saberia... se o homem certo for o homem dos cabelos brancos e Lief for apenas um buraco negro que irá sugá-la para dentro... você jamais saberia... mas eu sim.



- Não dê ouvidos à ela, Hatsuko!! Vamos embora.

Lief encarou Tai enfurecidamente e segurou Hatsuko pelo braço para que os dois pudessem se afastar.

Tai se transformou em Ophelia.



- Oh, Lief... volte aqui... - ela sorria docemente. - Você sabe que estou ao seu lado, mas eu preciso ter certeza de que essa garota também está, pois cedo ou tarde outro homem virá buscá-la e ela poderá deixar de te amar assim como fez da outra vez que ele apareceu, roubando-a de você em meio ao caos da multidão.

Como se fossem palavras prescritas especialmente para aquele momento, um portal prateado e luminoso como a mais brilhante das pérolas surgiu como um redemoinho no ar. Ophelia abriu seu leque azul e começou a se abanar enquanto o homem do quimono dos insetos saía lentamente de lá de dentro.

Pelo que fiz a Lief, eu merecia sofrer pelo resto da eternidade, sozinha, apenas pagando por meus pecados... Mesmo que ele fosse um buraco negro... Eu não me importaria de ser sugada, desde que pudesse ser envolvida naqueles braços uma vez mais. Ou pudesse saborear aqueles lábios... Talvez deixar que ele prove da quente vida vermelha que pulsa dentro de mim. Sou de fato uma traidora, você me perdoa Lief? - aquilo era o que de fato a incomodava - Não posso prometer não falhar mais, mas agora estou do seu lado e é aqui que pretendo ficar. Perdoo você pelo que fez e pelo que nunca fará, porque minha alma, meu corpo e meu coração pertencem a você, traidor ou não... - avistou o portal que traria o homem que ela precisaria enfrentar - Adeus, Myul...

Hatsuko apertou a mão de Lief e pretendia não soltar até que tudo acabasse... Ou começasse.

Myul irrompeu do portal perolado e ficou surpreso ao se ver cercado por toda aquela gente.

- Hatsuko! - chamou ele após cruzar a passagem e fechar o caminho mágico, seu tom era tão urgente que o celestino preferiu ignorar a presença daquelas pessoas em torno dela. Sua amada parecia tranquila e segura, então não haveria porque perder tempo com eles em meio ao caos que acontecia em outras terras e que logo transbordaria para cima daqueles inocentes. - Você precisa vir urgentemente! A vida de milhares de pessoas está em suas mãos!

Myul a segurou pelos ombros usando os dois braços e a encarou profundamente nos olhos. Hatsuko percebeu que ele, apesar de todo o porte seguro que possuída, parecia precisar mesmo da ajuda e colaboração dela.

- Eu já sei o que fazer para acabar com esta guerra e sua ajuda é imprescindível. Agora lhe explicarei tudo o que eu fiz nos momentos em que não estive contigo e também lhe direi porque eu não a levei. Você entenderá tudo quando estivermos sozinhos.

- Myul - ela quase afogou-se com aquele nome.

Não teve tempo de dizer mais nada, foi subitamente atropelada pelo desespero do samurai. O toque inesperado e o segurar de ombros fez com que arregalasse os olhos, quase ficando em pânico. Deixou que ele continuasse com as mãos ali, mas não soltou a de Lief. Sabia que precisaria daquela mão pra conseguir prosseguir no caminho que escolhera.

Olhou para Lief, como se procurasse auxilio. Não sabia o que dizer. O que fazer. Realmente queria ajudar, salvar os inocentes, mas Lief permitiria que ela fosse mais uma vez com aquele homem? Iria junto se ela pedisse? E, principalmente, seria perdoada por acarretar aquelas dúvidas no coração, estando tão certa sobre seu lado?

Ela de fato não sabia, talvez nunca encontrasse todas as respostas.

- O que foi, Hatsuko? - perguntou ele, confuso, tentando entender o receio estampado no rosto de sua querida sulfure. - Não tenha medo, nós estaremos juntos. Eu juro que nada de mal lhe acontecerá.

Um meio sorriso surgiu nos lábios dele enquanto tocava suavemente a bochecha da princesa do inferno.



- Chegou a hora de você escolher. - murmurou Lief devolvendo o olhar de Hatsuko, ele parecia tranquilo, mas por dentro batalhava contra a cólera sentida perante à atitude impertinente do celestino.

Hatsuko tocou a face do celestino e aproximou-se dele lentamente, como se fosse beijá-lo, mas não o fez. Seu coração parecia que pularia do peito, mas não doía. Havia eliminado aquela dor.

- Myul... - chamou, sussurrante, como se o nome daquele homem fosse um segredo - Quero tanto salvar inocentes, acabar com essa guerra... Mas não posso ficar ao seu lado.

Afastou-se lentamente, para que ele pudesse compreender o que estava acontecendo. Sua mão foi a última a mover-se, quebrando aquele contato. Caminhou lentamente até ficar novamente lado a lado com Lief, envolvendo suas mãos com as dele.

- Se você ainda quiser e... Lief concordar... Eu... - ela parecia meio hesitante - Eu ainda... Gostaria de ajudar... Sabe... A acabar com tudo...

Ela mordeu os lábios, como sempre fazia quando não sabia o que fazer.

- E o que você quer dizer com isso, Hatsuko? - perguntou Myul, de olhos arregalados. Aquela sensação o sufocou como se uma faca lhe tivesse cruzado a garganta. Ao ver o entrelaçar de mãos entre a sulfure e o vampiro, pensou compreender tudo perfeitamente. - Eu devia ter imaginado...

O celestino deu dois passos para trás, afastando-se de ambos.



- Não faça isso, Myul. - disse Ophelia, lendo seus pensamentos. - Hatsuko não está enfeitiçada por esse vampiro como você supõe que ela esteja. Acontece que sua amada simplesmente o trocou por ele, nada mais.



- Hatsuko jamais faria isso comigo. - respondeu ele com segurança virando-se para a doppelgänger. - Nós nos amamos antes de virmos para Shandrya. Acordamos e fomos nos banhar nas águas de Wushu, onde meu amor entregou sua virgindade à mim enquanto trocávamos doces palavras das quais eu jamais me esquecerei. Hatsuko não mentiu quando disse que me amava à ponto de sentir dor. Eu pude sentir através da pele dela. Eu pude enxergar profundamente o amor em seus olhos e eu apostaria minha vida que ela não foi uma mentirosa quando me fez sentir tudo isso igualmente. Ela pode ser a princesa do inferno, mas seu coração é puro, não traidor. Ela jamais seria cruel a ponto de fazer algo assim com alguém que jurou protege-la para toda a vida. Eu vou protege-la, eu irei livrá-la das garras desse monstro manipulador.

O celestino virou-se para Lief, que riu e disse:



- Você é mesmo um perdedor.



- NÃO!! LIEF!! CORRA!! CORRA O MAIS RÁPIDO QUE VOCÊ PUDER, LIEF!!!

Ophelia, desesperada, correu até ele e Hatsuko.

- CORRA, LIEF!! OU UM BURACO NEGRO IRÁ SUGÁ-LO PARA SEMPRE!!



Myul ergueu as duas mãos diante deles como se segurasse uma esfera invisível.

- Saia do meu caminho.

No espaço entre as palmas do feiticeiro, uma esfera negra e espiralante começou a se formar.

- NÃO - gritou Hatsuko, nunca estivera tão desesperada assim, nem mesmo quando o amado morrera e ela vendera a alma por ele.

Hatsuko jogou-se contra Lief, empurrando-o com força contra o chão enquanto tocava o pingente que seu pai lhe dera. Sabia que era o único modo de salvar o amado da ira de Myul. De algum modo, ela sabia.

Por favor, salve-nos - pensou, enquanto caia por cima de Lief, protegendo-o com seu corpo.

Spoiler:

Continuação;